quarta-feira, 28 de junho de 2017

Madina de Boé: PROFESSOR CONTRATADO DE BURQUILIM NÃO RECEBE SALÁRIO E VIVE DE ESMOLAS 

Assana Baldé, professor contratado para a escola primária da aldeia de Burquilim, já leva tempo sem receber o seu salário, muito menos os subsídios. Vive graças à ajuda da população local, sobretudo do chefe da tabanca. Burquilim é uma aldeia que faz parte de secção de Vanduleide, sector de Boé, região de Gabú, no leste do país. A aldeia é constituída por cerca de 200 habitantes, segundo o censo do Instituto Nacional de Estatística de 2009.

Baldé faz parte de um grupo de pessoas recrutadas localmente e formadas para dar aulas aos alunos da escola primária. Após a formação ministrada em Beli (sede do sector), Assana Baldé foi colocado na aldeia de Burquilim para auxiliar o professor que ali se encontrava. Baldé é natural de Pataque, uma aldeia que se encontra aproximadamente a dez (10) quilómetros de Burquilim, razão pela qual decidiu transferir-se com a sua família para aldeia onde lecciona.

POPULARES CLAMAM POR CARTEIRAS E PROFESSOR PARA ENSINAR AS CRIANÇAS


A escola primária de Burquilim é um edifício construído recentemente e dividido em duas salas de aulas, cada uma com capacidade para albergar 40 alunos. A grande dificuldade lamentada pela população local tem a ver com a falta de carteiras e de professor, dado que o primeiro colocado na aldeia desistiu por razões que a população diz desconhecer.

Um dos habitantes da aldeia, Sane disse numa curta entrevista ao repórter que a sua tabanca não cansará de pedir às autoridades para equipar a escola com carteiras e secretaria para professor, que é obrigado a improvisar com bidões ou outros objectos para se sentar e colocar os seus materiais didácticos.

“Nós achamos que as autoridades não contam connosco. Estamos muito isolados aqui, nem um posto sanitário temos. Os doentes graves são enviados para Beli ou para aldeias da Guinée-Conakry. Já nos conformamos muito com a situação, mas pelo menos que nos ajudem com carteiras e professor para ensinar os nossos filhos”, assegurou.

ASSANA BALDÉ: ‘CRIANÇAS NÃO TÊM CULPA DE NASCEREM EM MADINA DE BOÉ, PORTANTO MERECEM UMA ESCOLA’

O professor Assana Baldé explicou que trabalha sozinho, pelo que é obrigado a juntar as crianças numa única sala de aulas para ensiná-las. Acrescentou ainda que tomou a iniciativa de juntar os alunos porque o seu colega, que leccionava os alunos da 2ª e 4ª classes, desistiu por razões que diz também desconhecer.

“Agora trabalho sozinho, por isso fui obrigado a reprogramar o tempo. No período de manhã, lecciono as crianças de 1ª e 3ª classes. Já no período da tarde fico com as crianças de 2ª e 4ª classes. Tanto no período de manhã como de tarde sou obrigado a juntar as crianças numa única sala de aulas para facilitar o trabalho. Apenas divido o quadro no meio para passar as matérias que são copiadas pelas crianças”, disse.

Assegurou que o trabalho é muito cansativo, mas é obrigado a fazê-lo com o objectivo de ajudar as crianças, porque senão ficam sem frequentar a escola ou esperar até que o ministério da educação envie outro professor para Burquilim.

“Há muitos professores formados, mas o grande problema é conseguir uma pessoa que aceite trabalhar em Madina de Boé, nestas condições de abandono total…Aqui estamos abandonados à nossa própria sorte. Levo muitos meses e quase um ano completo sem receber salário, mas a educação contratou-me para vir trabalhar aqui. Posso abandonar também e voltar a minha tabanca, mas se eu me for embora, o que será destas crianças? Eles não têm culpa desta situação ou de nasceram em Madina de Boé! Por isso, resolvi ficar para ensiná-las e quiçá sairá daqui uma pessoa que virá desenvolver este sector”, salientou o professor com uma voz trémula.

Questionado se a situação vivida na escola é do conhecimento do delegado regional da educação, respondeu que procura informar às autoridades sectoriais e regionais de tudo o que se passa na escola. Acrescentou ainda que, tanto o inspector como o delegado têm conhecimento da falta de carteiras e do abandono de professor que ali foi colocado.

Por: Assana Sambú
Foto: AS