O músico guineense Patche di Rima critica a mediação da Comunidade de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). A Guiné-Bissau não se vai desenvolver se continuar a depender da organização regional, diz.
Patche di Rima sente-se "triste e chocado" perante o impasse na solução efetiva da crise política e institucional na Guiné-Bissau, que se prolonga. O cantor da nova geração de ativistas não acredita que a mediação da CEDEAO seja a melhor via para se encontrar uma saída face à prolongada crise política.
"Nunca acreditei que a CEDEAO é a solução para a resolução da crise na Guiné-Bissau, porque por uma questão de geopolítica o Senegal está a jogar o seu papel para ser o líder ao nível da subregião. Conacri está a fazer o mesmo", afirma em entrevista à DW África.
Por isso, o músico condena o Acordo de Conacri - patrocinado CEDEAO e que prevê a formação de um governo e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso - que diz ter sido estabelecido "sem legitimidade" à margem da magna Constituição da República.
"Responsabilidade é de todos"
Sem apontar nomes e sem tomar partido em relação a nenhuma das partes, o músico afirma que a responsabilidade pelo arrastamento da crise na Guiné-Bissau não deve ser imputada apenas à classe política. "A responsabilidade é de todos": sociedade civil, profissionais, militares, músicos e religiosos, explica.
"Os guineenses têm de saber lavar a roupa suja em casa e ter a coragem para acabar com isso", sublinha convicto. "Há 10 ou 15 anos atrás todo o mundo pensava que o maior problema da Guiné-Bissau passava pelos militares. Mas hoje não vimos isso. Cada guineense tem de fazer alguma coisa para a Guiné-Bissau mudar", defende.
"O que falta é vontade política e sentido patriótico", reforça o músico, ao referir que "ninguém pode ser excluído deste processo" e "cada um tem de assumir as suas responsabilidades". Porque se assim não for, salienta, "as consequências poderão ser gravíssimas".
Apelo ao diálogo
Reconhecendo que "o problema da Guiné-Bissau é complexo", Patche di Rima defende, por outro lado, que o país não pode continuar a viver estas crises cíclicas. "Isso não nos ajuda e não ajuda o país. Nós temos que ser um exemplo para a geração futura", salienta.
Apela, por isso, a um "diálogo franco, sincero e profundo" entre os atores, em nome da reconciliação e da estabilidade, independentemente das cores políticas, crença e religião de cada guineense. "A Guiné-Bissau em primeiro lugar. Isto é importante, porque o país precisa de encontrar um caminho", acrescenta.
Nos seus espetáculos, Patche di Rima tem transmitido a mensagem de apelo à paz e à unidade, com o objetivo de dar esperanças aos guineenses no país e na diáspora: "Para que não percamos a fé, que tanhamos a coragem de sonhar com uma Guiné-Bissau de esperança, viável, com uma Guiné de futuro".
O músico falou à DW à margem das Festas Multiculturais do Vale da Amoreira, freguesia de Coina, em Portugal, onde foi cabeça de cartaz. O festival é uma espécie de "pontapé de saída" a antecipar os vários concertos que tem agendados em Portugal, Espanha, França, Alemanha e Itália. Todos os anos atua em Hamburgo, mas neste 2017 vai estar a 15 de setembro em Berlim, capital alemã, onde atua pela quarta vez.