Vladimir Putin (Presidente da Federação da Rússia) e o General Alexander Bortnikov (Director da contra-espionagem russa — FSB)
Todos os comentadores sublinharam, no decurso dos quatro últimos anos, a impossibilidade para a Rússia de colocar tropas terrestres contra os jiadistas na Síria face ao risco de reviver a sua derrota do Afeganistão. Mas o que é verdadeiro se Moscovo se enfrenta com mercenários interpostos por Washington, torna-se falso se os dois Grandes se entendem quanto ao futuro não apenas da Síria mas da região. Thierry Meyssan foi o primeiro no mundo a anunciar a chegada do exército russo à Síria, em 2015. Ele é hoje o primeiro a anunciar a entrada da sua infantaria.
Washington decidiu relegar o projecto de destruição de Estados e de sociedades do Médio Oriente Alargado para segundo plano das suas preocupações, e concentrar as suas forças para se opor ao projecto chinês da Rota da Seda. É isso que teria ficado acordado entre o Presidente Donald Trump e o Primeiro-ministro Australiano (representando os Britânicos) Malcolm Turnbull, a 24 de Fevereiro na Casa Branca.
Não se trata simplesmente do conflito tradicional entre o Império marítimo anglo-saxão, por um lado, e o projecto comercial terrestre chinês por outro lado. Mas também do perigo que a indústria chinesa faz correr à do conjunto do mundo desenvolvido. Rapidamente e em resumo, enquanto na Antiguidade os Europeus estavam ávidos por sedas chinesas, hoje em dia todos os Ocidentais temem a concorrência dos automóveis chineses.
Tendo Beijing renunciado a fazer passar a Rota da Seda pelo seu traçado histórico de Mossul e de Palmira, os Estados Unidos não têm mais interesse em patrocinar jiadistas para criar um Califado a cavalo sobre o Iraque e a Síria. Foi igualmente no dia 24 de Fevereiro que a Rússia e os Estados Unidos apresentaram a Resolução 2401 no Conselho de Segurança; texto que estava já pronto desde a véspera e de qual nem uma palavra foi alterada enquanto se fingia prosseguir as discussões. Supostamente adoptada em resposta à campanha mediática (da mídia-br) francesa para salvar a população da Ghuta, esta resolução trata na realidade da solução para quase toda a Síria. Ela deixa em suspenso a questão da retirada das tropas turcas e norte-americanas. Em relação a estas últimas, não é impossível que elas recalcitrem a deixar o extremo Nordeste do país. Com efeito, se a China decidisse fazer passar a Rota da Seda pela Turquia, Washington sopraria sobre as brasas para criar um Curdistão em território curdo (se admitirmos que a Anatólia do Sudeste não mais é território arménio depois do genocídio) e cortar a “rota” de Beijing. Moscovo deslocou novos aviões para a sua base Hmeimim, entre os quais dois aviões furtivos Su-57 ; joias de tecnologia que o Pentágono não imaginava operacionais antes de 2025. Sobretudo, Moscovo (Moscou-br), que até agora limitava seu envolvimento na Síria à sua Força Aérea e a algumas Forças Especiais, encaminhou secretamente tropas de infantaria.Na manhã de 25 de Fevereiro, As Forças terrestres russas entrou ao lado do Exército Árabe Sírio na Ghuta Oriental. É agora impossível, seja para quem for, atacar Damasco ou tentar derrubar a República Árabe Síria sem provocar automaticamente resposta militar russa. A Arábia Saudita, a França, a Jordânia e o Reino Unido, que haviam secretamente constituído o «Grupo Restrito», a 11 de Janeiro, a fim de sabotar a paz de Sochi, não mais poderão empreender nada de decisivo. As piruetas dos ministros britânico e francês dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson e Jean-Yves Le Drian, não podem mascarar o novo acordo entre a Casa Branca e o Kremlin assim como a legalidade internacional da presença militar russa e a sua acção em favor dos civis prisioneiros dos jiadistas. Eles não podem pensar por em causa este acordo como os respectivos países o fizeram em Julho de 2012, tal foi a mudança de situação no terreno e no mundo. Se necessário, fingiremos todos não saber que as duas facções armadas presentes na Ghuta Oriental (a pró-saudita e a pró-catari) são subordinadas à Alcaida. Elas serão discretamente exfiltradas. Os oficiais do MI6 britânico e os da DGSE francesa (que agiam sob cobertura da ONG “Médicos sem Fronteiras”) serão repatriados.
No conjunto do território a guerra não está terminada, mas já o está em Damasco.