terça-feira, 24 de abril de 2018

Editorial: ATÉ QUANDO O PAÍS CONTINUARÁ A SER LABORATÓRIO DE BANDITISMO DOS POLÍTICOS?

De teatro em teatro, os políticos guineenses acabaram de ditar o maior testamento de desconsideração às leis da República e falta de respeito ao povo – dono poder político. A última sessão parlamentar que vergonhosamente aprovou a alteração do artigo 79 da Constituição ficará registada na história do torturado país como a maior transgressão flagrante da carta magna.
 
Com esse ato, esses políticos, autênticos engenheiros da mentira, inverteram o sagrado princípio do sistema democrático: na democracia, as leis moldam os comportamentos e os atos dos homens e, não são os homens a moldar as leis em função dos seus cálculos momentâneos. A decisão dos deputados é um claro insulto ao povo e à democracia.
 
A atual Constituição da República, não obstante as suas variadíssimas lacunas e imperfeiçoes, é clara quanto à duração do mandato parlamentar. Os deputados são eleitos por 4 anos. Ponto final. O artigo 130 da mesma Constituição é clara sobre as matérias que não podem ser alvo de revisão pontual, das quais o periódico de designação dos titulares de cargos eletivos dos órgãos de soberania. Nenhuma interpretação de conveniência pode ofuscar esta verdade constitucional.
 
O que aconteceu é grave e é dever de todos quantos aspiram construir uma sociedade de valores democráticos lutarem  para a impugnação desta tamanha agressão. Este país não pode continuar a ser um laboratório de banditismo dos políticos. As soluções, os arranjos de conveniências não visam a salvaguardar os interesses da Nação mas sim de grupinhos.
O povo não pode continuar a pagar faturas de desgraça que não provoca. Quem é o responsável pela crise política que conduziu o país ao ponto de bloqueio? Porquê é que o entendimento entre as duas maiores forças políticas, PAIGC e o PRS, não tem acontecido há dois anos e meio e só agora, nas vésperas do fim do salário sem trabalho? Em nome de salvaguarda de interesses dos políticos, as leis são para esquecer?  Quem confere a legitimidade, os deputados ou o povo?
 
Ao longo da crise de quase três anos, o povo guineense viu todo tipo de derivas e delinquências políticas. Durante esse tempo de guerras de egos, oportunismos,  o povo não foi ouvido. Depois da era de salve-se quem puder, agora que se aproximam as eleições, a tática é novamente investir na pintura de consensos, entendimentos de circunstâncias. “pa nô uni pa nô mamâ, chuha de pubis”!
 
Enquanto prossegue o teatro político num país há mais de 90 dias sem governo, a população é deixada a sua própria sorte sem luz, nem água. Os produtores de cajú permanecem ansiosos quanto ao futuro das suas castanhas, à espera de um milagre.
 
A história julgará os autores do retrocesso da Guiné-Bissau, tarde ou cedo. Progressivamente, uma massa crítica vai emergindo neste país. Infelizmente, os acólitos da atual “ordem de desordem” não estão longe de perceber essa realidade e acreditam no eterno poder da manipulação de massas e desrespeito às instituições da República. Serão surpreendidos e colocados na “cadeia da história” e se calhar esquecidos para sempre. Quem com o povo brinca, deve estar pronto a enfrentar a infalível sentença.
 
 
 
Por: Redação