Bocas do Inferno
Mário Motta, Lisboa IN PG
Cavaco proferiu o seu último discurso nas comemorações do 25 de Abril. Um discurso degradante, senil, revisionista, irreal, colado à direita mais retinta que existe em Portugal. Foi o discurso da morte de Cavaco, onde demonstrou a sua incompetência, a sua irrelevância enquanto ser pensante, enquanto democrata, enquanto presidente de todos os portugueses.
Para além da dislexia que permanentemente o afeta e se nota ao pronunciar "cidadões" em vez de cidadãos (hoje voltou a repetir a calinada, além de outras). Mostrou-se um cadáver político ainda com poderes para cumprir os seus compromissos com a alta finança mas malbaratando o país, os portugueses. Referiu-se aos portugueses, aos jovens, num tom que evidenciava a costumeira hipocrisia. Falou de desemprego mas disse que Portugal está muito melhor. Ignorou a pobreza e as devastadoras carências de milhões de portugueses, falou da excelência da saúde mas ignorou as dezenas ou talvez centenas de portugueses que já morreram nas urgências de hospitais. Ignorou o país real, miserabilizado pelo seu governo e com a sua chancela.
Foi um discurso abjeto que reforça a postura de Cavaco em Belém: descredibiliza a República. É desastrosamente nocivo à democracia, à competência exigida a quem desempenhe aquele cargo.
Cavaco Silva demonstrou hoje, mais uma vez, que é um desastre que nem português correto sabe falar. Nem ao menos sabe ler o que lhe escrevem no discurso que ergue nas mãos. Um cadáver político que aguarda simplesmente as três badaladas e um balde de cal. O que se impõe a qualquer cadáver que se prese, antes de o enterrar.