segunda-feira, 8 de junho de 2015

INVESTIGADORAS APRESENTAM ESTUDO SOBRE «CRIANÇAS-FEITICEIRAS» NA GUINÉ-BISSAU


Duas investigadoras portuguesas apresentaram na Guiné-Bissau um estudo sobre a problemática de crianças ostracizadas pelos pais como sendo «irãs» (feiticeiras), por terem doenças ou caraterísticas diferenciadas.
 
Filipa Gonçalves e Sofia Alves, da Fundação Fé e Cooperação (FEC), apresentaram na quinta-feira o estudo financiado pela União Europeia, para demonstrarem uma violação dos direitos das crianças.
 
O irã é no imaginário de muitos povos guineenses uma divindade com poderes sobrenaturais que tanto podem ser usados para fazer o mal como o bem aos vivos.
 
Em declarações à imprensa, Filipa Gonçalves referiu que «a criança-irã é uma nomenclatura simplificada» usada pela população guineense para denominar um menor com alguma característica diferenciada dos outros.
 
Para as comunidades das nove regiões da Guiné-Bissau estudadas pelas duas investigadoras portuguesas, as crianças-irãs «são seres especiais, muita das vezes abandonadas ou maltratadas» quando na realidade apenas são diferentes por terem alguma doença, defeito físico ou intelectual.
 
Filipa Gonçalves cita o caso de crianças que sofrem de epilepsia que são ostracizadas quando estão a ter convulsões, o que, «para as comunidades, são manifestações do irã», disse.
 
O estudo, apresentado na Casa dos Direitos em Bissau, revela também que as comunidades consideram ainda uma criança com desnutrição crónica como sendo irã, quando não têm respostas para o problema da sua falta de alimentos, adiantou Filipa Gonçalves.
 
As investigadoras portuguesas levaram três anos a realizar o estudo, que agora pretendem dar a conhecer a maior número de pessoas na Guiné-Bissau para o que consideram ser «um problema sério, mas pouco falado» na sociedade guineense.
 
As autoras do estudo querem que o problema da criança-irã seja colocado na agenda pública da Guiné-Bissau como tem sido a excisão genital feminina. Fonte: Aqui