domingo, 14 de agosto de 2016

Crônica: OS JUROS DO AMOR PARA ESTIMULAR O CONSUMO

Jorge Otinta
Reza uma sagrada regra da economia – isto é, das Ciências Económicas – que normalmente quando a inflação está alta, o Banco Central de qualquer país do mundo sobe os juros, de modo à proceder a redução do consumo que, uma vez reduzida, força a queda dos preços dos produtos no mercado.

Mas, como se sabe, o efeito contrário também pode acontecer. Ou seja, quando a inflação está baixa, o mesmo Banco Central derruba os juros, reduzindo-os significativamente, por forma a estimular o consumo.

Assim, meu caro leitor d’O Democrata começo este singular diálogo que espero que vá ser profícuo.
Estava eu a dormir, e nesta viagem onírica veio-me a seguintes histórias que passo a narrar com gosto um tanto desgostoso:
Andava com um amigo a trocar ideias sobre o futuro, de repente ele volta para mim e diz:
– Vamos apanhar um táxi?
– Para onde?- perguntei.
– Para o Liceu Nacional Kwame N’Krumah.
Pus-me a lembrar dos primeiros momentos em que entrei para este Liceu, nos idos anos 90, dos sonhos de adolescência que projetava em direcção a novos horizontes traçados na perspectiva longitudinal do tempo.
Lembrei-me dos namoros e namoricos que tinha. Aquelas que tinha em Bissau, e mais outras que tinha deixado em Quinhamel sempre que ia visitar a minha mãe nos finais de semana.
Tempos outros – e mui belos e prazerosos. Não obstante, anos mais tarde ter entrado no Seminário Franciscano de Brá, porque julgava que podia seguir o sacerdócio. Vocação essa que o próprio Seminário e a vida de estudante no Liceu João XXIII acabaram por me mostrar que aquilo não era, em hipótese nenhuma, a minha praia. Contudo valeu a experiência e os sólidos conhecimentos, ensinamentos e regras adquiridos. Tanto em termos de virtudes teologais quanto em termos de reflexões e elucubrações filosóficas – estes que acabaram por fundamentar a minha natureza ontológica de homem da Ciência.
  1. Com duas pessoas faz-se reunião, mas com três, comício
Chegamos a Dalas, onde o Táxi nos depositou. Desci calmo. Vejo um advogado, nervoso, a aproximar-se de mim. Pede-me:
– Venda-me uma pistola, dou-te o dinheiro que precisares, disse em tom agressivo.
–  Educadamente, disse-lhe, não tenho pistola, e nem a sei usar.
Disse-me que tinha perdido a dele, e que por isso pensava que podia eu o arranjar uma – de preferência, uma muito especial.
Chego a casa para descansar, e vejo uma menina que passa com um conhecido meu que não me cumprimenta.
E, entretanto, chega uma outra menina, linda, ágil e muito singelamente meiga. Estava com uma criança ao colo, mas chorava, porque fora expulsa de casa por suas rivais, duas ex namoradas de seu namorado.
Vou para a casa da minha mãe que se comove com a atitude de expulsão da moça. Uma das ex, a que tem uma filha maldita, nega que a menina com a criança ao colo permanecesse na nossa casa; a outra ex exime-se da responsabilidade. E disse que não tinha expulsado a menina. Solidariza-se com ela, logo que viu meus olhos rubros de ódio.
Eu e meu amigo continuamos a bater papo. E sentados à mesma mesa, dois senhores nos visitam. Um olha-me no fundo dos olhos, e me diz: não expulsa esta de casa, as outras, quem quiser que vá embora. Há futuro.
A menina mima seu filho.
Pergunta-se uma transeuente: de quem é este lindo menino? E ela responde com a soberana altivez:
– Meu!, disse taxativamente.
Meu amigo segura a mão da criança, e eu, de lado, sorrio para ele.
E senti-me muito feliz naquela hora.
  1. O passar lesto do tempo
Sento-me aqui no meu Gabinete e vem-me à memória o meu primeiro aniversário. Estava em São Paulo, no Brasil, a cursar o Mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na Universidade de São Paulo, em 2005, depois para só mais tarde concluir meu Doutoramento pela USP. Depois de ter perdido o Doutoramento que deveria ter concluído em 2004. Frustrado, decido deixar tudo, noiva, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde concluí minhas duas Licenciaturas. Tudo. Não sou homem de desistir em situações adversas, mas esta foi perigosa demais. Ou era a minha vida, ou eram os meus estudos. Escolhi a primeira forçosamente, é claro.
Quase ia-me esquecendo. Estive em Milão, na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Sagrado Coração de Jesus, também não concluí o curso de Direito que tinha iniciado, por quase dois anos, nesta nossa cidade de Bissau, na Faculdade de Direito. Mais frustrações, e deveras decepcionantes.
Em Milão, a capital do mundo fashion, isto é, da Moda, não tive, e nem vive grandes amores, apenas paixões furtuitas. Mas que, efetivamente, não resultaram em nada.
Não estou, sinceramente, a falar de perdas e nem de ganhos, mas de lutas; mas de um modo especial do sabor de conquistas. Das batalhas vencidas, e doutras que virão. A vida vai indo. E, é claro, o que não conseguirmos empurrar com as mãos façamo-lo com a barriga, afagando carinhosamente o destino.
Gosto de ver pessoas, mulheres e homens, determinados e obstinados. Que dizem coisas do tipo:
Fi-lo porque quis! E agora?
São estas mulheres e estes homens que vencem. E, à guisa da conclusão desta crónica, digo como um personagem de Machado de Assis:
AO VENCEDOR, AS BATATAS!
E AOS VENCIDOS?
Caro leitor d’O Democrata, até a próxima, que o cronista precisa dormir para tentar esquecer o desassossego pátrio.
Por: Jorge Otinta , poeta, ensaísta e crítico literário guineense