A tamanha desorganização do Estado guineense associada à corrupção estenderam-se a todos os sectores da vida social do país. Não há sector imune a estes dois fenómenos cultivados pelos “senhores políticos”, mestres da desordem. A desorganização das autoridades desportivas aliada à incompetência do Comité Olímpico marcou negativamente a participação dos cinco “Guerrilheiros” guineenses nos Jogos Olímpicos do Rio’ 2016 (Brasil).
Não podemos culpar os nossos atletas pelas más exibições no Rio’2016, se tomarmos em conta as dificuldades por que passaram para participar naquele que é considerado o maior evento desportivo e cultural do mundo. A verdade é que não podemos também contentar-nos com as suas péssimas prestações porque havia a possibilidade de conseguirmos medalhas nas modalidades do judo, da luta livre e ter uma boa apresentação na modalidade do atletismo e quiçá obter uma medalha.
O país apresentou-se nestas olimpíadas com atletas de referência a nível do nosso continente e do mundo, sobretudo nas modalidades do judo e da luta livre, nomeadamente a tetracampeã africana do judo e o tricampeão africano da luta livre.
A expectativa do povo guineense era enorme. A esperança de que o país pudesse conseguir, pelo menos, uma medalha através da rainha do judo ou do rei da arena de luta livre, caiu por terra devido à desorganização das autoridades desportivas que não criaram condições propícias para a preparação dos atletas nacionais.
É incrível a desordem dos dirigentes deste país que não se importam mesmo com o povo. A ausência de uma boa organização afectou e influenciou negativamente as prestações dos atletas nas olimpíadas. Alguns souberam, nos dias da competição, que sofriam lesões que lhes dificultaram no combate.
É inadmissível esta situação de “incompetência gritante” da parte do Comité Olímpico, que deve ser responsabilizado pelo Estado da Guiné-Bissau. Aliás, é chegada a hora de o Estado começar a exigir a prestação de contas às organizações ou instituições encarregues das actividades do género, de forma a desencorajar e lutar contra desorganização e corrupção instaladas nesta terra de cerca de dois milhões de habitantes. Só uma atitude firme poderá erradicar esses vícios.
O povo tem o direito de agora exigir o relatório de contas e o relatório médico com pormenores necessários para se conhecer o verdadeiro estado físico dos cinco atletas que estiveram nos Jogos Olímpicos no Brasil. Curioso é o facto de o Augusto Midana, a Taciana Baldé, serem os únicos atletas a tornar público a situação da lesão. Para quem assistiu a luta do atleta pela televisão, nota-se que Augusto Midana lutou com lesão que acabou por facilitar o seu adversário. A mesma situação aconteceu com o atleta Holder Ocante da Silva que também sofreu lesão no “tendão de Aquiles” nas vésperas da sua competição e mesmo assim foi à luta e ficou na quarta posição.
O jovem Bidopassa Buassat Djonde não competiu por causa de uma lesão descoberta horas antes pela equipa médica. Isso tudo demonstra o grau de incompetência dos dirigentes do Comité Olímpico Nacional.
Perante toda esta “baralhada” do Comité Olímpico, as questões que se colocam são as seguintes: Desde quando é que Augusto Midana e Bidopassa Buassat Djonde se lesionaram? O que aconteceu de concreto com Holder? Qual era o trabalho da equipa médica, se de facto existir médico na comitiva, no que diz respeito à observância de condições físicas dos atletas?
É muito vergonhoso o comportamento dos nossos dirigentes desportivos. O que aconteceu nessa viagem é uma falta de respeito para com o povo guineense, amante nato do desporto. Agora é hora de o Estado começar a ser Estado de verdade e ter a postura de cobrar factura. Os membros do Comité Olímpico devem um esclarecimento mediante um relatório cabal a nossa participação nas olimpíadas. Depois disso, assume-se as consequências do colectivo “fracasso” no Brasil. Perante um falhanço em bloco, exige-se uma demissão em bloco dos elementos do Comité Olímpico. Isso seria um remédio correcto e um exemplo que este país quer para inaugurar uma nova página na sua história do desporto.
Os próprios atletas têm uma dose de responsabilidade nesta situação de naufrágio em terra brasileira. É incompreensível o silêncio dos atletas antes das suas exibições! Será que não sabiam de antemão das suas condições físicas? Ou esconderam as lesões para poderem participar nas olimpíadas? É preciso uma explicação!
Compreende-se as dificuldades quotidianas dos nossos atletas sem grande apoio da parte das autoridades nacionais. Eles merecem o nosso respeito e admiração. Contudo, há que apurar responsabilidade no sucedido.
O país participou nos Jogos Olímpicos com uma delegação constituída por mais de 50 pessoas, infelizmente a maioria foi apenas para conhecer a bonita cidade do Rio de Janeiro. Não havia nenhum elemento da imprensa nacional na comitiva! O povo não podia acompanhar em tempo real a participação dos atletas porque não havia na delegação um jornalista. O que aconteceu é grave. Este país não pode avançar neste monte de desordem. As medalhas se conquistam com trabalho árduo balizado com uma cultura forte de organização.
Por: Assana Sambú