Os "cães" da fila da CPLP, continuam em silêncio e escondidos debaixo da mesa!
Mossurize, Moçambique, 22 ago (Lusa) - Entre os traumas de violência política, Augusto Zambo, desespera com os desencontros no diálogo de paz em Moçambique enquanto a espera pela pacificação do país vista de um campo de deslocados "é um sofrimento excessivo".
Zambo, 43 anos, é um dos 1.611 deslocados no centro de acomodação de Mossurize, na província de Manica, centro de Moçambique, devido à crise política e militar e à seca que atinge a região.
"Fugimos de uma luta da qual não fazemos parte, mas somos as maiores vítimas", disse à Lusa Augusto Zambo, crítico do "fanatismo e ódio político", que levou algumas a raptos e assassínios na região e não raras as vezes, afirma, as vítimas não tinham nenhuma ligação às partes.
"Basta uma pequena rivalidade ou uma pessoa não ir com a sua cara para ser motivo de rapto. Basta a pessoa dizer que fulano é inimigo e já se foi uma vida", descreve Augusto Zambo, vestido com um casaco de linho tingido pelo vermelho do pó do campo de deslocados.
Ao todo, 334 tendas, de cor verde militar, foram erguidas para acomodar igual número de famílias, em fuga dos episódios de violência envolvendo o braço armado da oposição, Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), e as Forças de Defesa e Segurança.
As famílias são provenientes das localidades de Chiurairue, Chiquequete, Chirera e Dacata, interior de Mossurize, a sul da província de Manica, uma zona de influência da Renamo e próxima da terra natal do seu líder, Afonso Dhlakama, e onde, além dos relatos de raptos e assassínios, também há denúncias de violações, e saques de gado e dinheiro da população.
Jaime Johane, responsável do centro de Mossurize, diz que entre os deslocados estão 457 crianças e 44 idosos, a maioria "vítimas da perseguição do inimigo", em alusão aos homens armados da Renamo.
Em Manica existem três centros de acomodação das vítimas da crise política e militar e da seca que fustiga a região, ativados há mais de dois meses, sendo o de Mussurize o que alberga o maior, seguido de Báruè, com 646 pessoas, e Gondola, com 115.
Também Francisco Muiambo, residente no campo com as suas três mulheres e seis filhos relata torturas e violações, que atribui aos homens do braço armados da Renamo, e afirma que chegou a constar de lista para execução.
Além da Renamo, as Forças de Defesa e Segurança também são mencionadas em casos de abusos.
Alberto Fombe, outro residente, diz que, na zona de Mangala, em Mossurize, as Forças de Defesa e Segurança entraram com uma lista e capturaram pessoas e "várias foram confundidas e levadas", pelo que resolveu sair de sua casa e procurar segurança no campo de deslocados.
"Essa espera está demorada. O mais difícil é acordar sabendo que está se a agravar o desentendimento entre o Governo e a Renamo, e há mais pessoas chegando no centro fugindo de novos episódios", descreve Alberto Fombe, salientando que não faz ideia de quando volta à vida normal.
A região centro de Moçambique tem sido a mais atingida por episódios de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança, existindo denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.
As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do centro e norte de Moçambique, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde ou alvos económicos, como comboios da mineira brasileira Vale.
O líder da Renamo já reconheceu a autoria de vários ataques, justificando com a estratégia de dispersar as Forças de Defesa e Segurança da serra Gorongosa, onde supostamente permanece refugiado.
Apesar da frequência de casos de violência política, as duas partes voltaram ao diálogo em Maputo, com a presença de mediadores internacionais, mas ainda não são conhecidos avanços.
O maior partido de oposição não aceita os resultados das ultimas eleições e exige governar as seis províncias onde revindica vitória no escrutínio.
Enquanto não se chega a um consenso, Augusto Zambo não larga o seu rádio de fabrico chinês e alimentado por raios solares a aguardar noticias que possam dar o "sinal de regressar à vida".
AYAC // EL