quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Editorial: PARA QUANDO A DETONAÇÃO DA “BOMBA ATÔMICA” NA GUINÉ-BISSAU?

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A crise política e parlamentar vigente acabou por bloquear o país. Não há instituição que não esteja abalada por esta crise. Até mesmo as privadas provam amargamente os efeitos da crise política que persiste há um ano. Os atores políticos não conseguem entender-se, apesar das múltiplas mediações por parte das organizações e personalidades nacionais e internacionais.

A situação está a agudizar-se e ainda não vislumbra sinais de “fumo branco” que assinale uma solução. Este facto levou os parceiros internacionais a deixarem transparecer sinais de fadiga em relação aos problemas internos da Guiné Bissau. Os próprios guineenses não conseguem demonstrar uma capacidade de resolver as suas contendas pela via do diálogo, uma das ferramentas usadas pelos povos civilizados.
A crise que hoje bloqueia o país foi provocada pelos desentendimentos internos do partido de Cabral, que mais uma vez poderá levar a Guiné-Bissau ao caminho da violência, uma fórmula ‘sábia’ que essa força política tem usado para conseguir resolver os seus problemas. Manobras de vingança e eliminação de adversários internos sobrepõem-se à cultura do diálogo entre as diferentes sensibilidades do partido libertador, e estão a minar os feitos conseguidos pelos gloriosos combatentes em nome deste partido, que outrora orgulhava os guineenses em qualquer canto do mundo.

A luta ferrenha que se vive no seio do partido de Cabral não é de ideologias ou de projetos do desenvolvimento do país, mas sim, é uma luta pelo controlo absoluto do poder a nível das instituições da República e prosseguirá para o controlo do próprio partido.
É difícil, de facto, saber quem realmente sairá como vencedor desta luta ferrenha entre os principais protagonistas para o controlo do poder. De um lado está o Presidente da República José Mário Vaz que se juntou aos elementos do grupo de deputados dissidentes do PAIGC. Do outro, está o próprio líder do partido, Domingos Simões Pereira, que também tem do seu lado o Presidente da Assembleia Nacional Popular e o seu primeiro vice-presidente.
O certo é que essa luta infantil para o controlo do poder e na qual os renovadores, devido a sua ambição desmedida, participam cegamente ao lado de Presidente da República, acaba por demostrar a falta de maturidade, associada a incapacidade dos políticos guineenses em resolver problemas políticos.
Os nossos políticos não se preocupam com os problemas sociais do país. A única prioridade do homem político guineense é a luta pela riqueza, através do exercício das funções governamentais. Essa luta pelo poder enfraqueceu as instituições da República, permitindo que a corrupção, a injustiça e o crime organizado se instalassem no país.
Hoje o país está totalmente bloqueado e nem o Chefe de Estado está em condições de apresentar uma solução para a saída da crise. Aliás, é difícil esperar uma solução viável para desbloquear a crise da parte do Presidente José Mário Vaz, dado que demostrou sinais claros em como não tem uma solução.
Não é segredo para ninguém que o clima em que estamos a viver é de “paz podre”, ensombrado por um governo que finge trabalhar, uma justiça que finge trabalhar, uma oposição que finge não saber o que quer, onde as forças da defesa e segurança fingem que estão a obedecer o poder político, mas que na realidade estão a espera de momento certo para detonar a “Bomba Atómica” que irá desfazer tudo isso e consequentemente levar o país para as eleições gerais. Essa é a maior verdade, porque o guineense sempre conseguiu resolver os seus problemas pela via da violência. A atual crise poderá vir a ser resolvida através do recurso à violência, se não for encontrada solução para desbloquear o país urgentemente.
Até aqui os militares demostraram uma posição de neutralidade nos assuntos políticos, mas até quando? Será que ainda não foram convidados, de uma forma obscura, para detonarem a “Bomba Atômica”? Será que o Comandante em Chefe das Forças Armadas consegue controlar a situação?
Por: Assana Sambú