domingo, 21 de agosto de 2016

Opinião: GUINÉ-BISSAU, DESENVOLVIMENTO PARA QUANDO?

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José Kizerbo costuma dizer que o desenvolvimento não pode ser uma corrida Olímpica, e Carlos Lopes numa leitura mais profunda afirma que, os africanos não precisam se desenvolver como os outros fizeram. Precisamos ter um desenvolvimento mais resiliente e disciplinado com uma mão de obra mais estruturada e como também precisamos de uma mudança estrutural e não de ajustamento estrutural. Isto é, a expansão do mercado interafricano, afinamento da democracia, diversificação de economia e etc. LOPES, 2015.
 
Sendo Carlos Lopes hoje, um dos africanos mais consagrados no mundo intelectual e da carreira na ONU, expoente máximo de UNECA e subsecretário-geral da ONU para África, ninguém melhor que ele para afirmar que a Guiné-Bissau tem a menor economia de África. É que esta afirmação, se fosse proferida por um cabo-verdiano ou, um português rescenderia o nosso nacionalismo primário e etc. ainda bem que foi um guineense de Canchungo.

Bem, com a introdução que fiz quero trazer uma discussão. Concordo sim que, o desenvolvimento, seja qual for – industrial, económico, social, ambiental ou sustentável não deve ser competição, mas quando um país encontra-se na situação como a da Guiné-Bissau tudo leva a crer que ela precisa se desenvolver rápido sim, isto não quer dizer que terá que competir com os outros. Em todo processo que visa o desenvolvimento, é central consolidação de Estado e suas instituições nacionais independente. O Estado precisa ser forte e eficaz.
Muitos países passaram por momentos conturbados; Alemanha é um exemplo de superação que muitos deixam escapar olhos. Teve no centro da primeira guerra mundial e foi derrotada, foi dividida pelos aliados, teve que ser desmilitarizada, responsabilizada pelos danos da Europa. Alemanha sofreu justiça dos vencedores, o tratado de Versalhes de 19 de Julho de 1919 foi uma humilhação para Alemanha.
Quando o país de Angel Merkel não tinha condição alguma para cumprir tais exigências, tinha provocado à segunda guerra mundial. Já com o advento de Hitler, Alemanha sairia de novo derrotada e de pior maneira, pois ficou dividida entre bloco Ocidental e Oriental, muro de Berlim é um símbolo traumático para os alemães,
Alemanha saiu da segunda guerra mundial bombardeada e espezinhada. Caro leitor d’O Democrata pode interrogar-se de que Alemanha estou a falar. Claro, falo desta Alemanha dos dias de hoje que manda na sua Economia direta ou indiretamente, falo da Alemanha onde Merkel é quem diz o que Portugal, Espanha e Grécia etc devem fazer ou não para ter empréstimos. Poderia der outro exemplo ou próprio Dubai, mas já estendi demais na Alemanha.
Portanto, onde quero chegar com esta viagem dialética, é que a Guiné-Bissau é um país muito preso as sombras de passado, creio que foi mal passada a ideia de que, a história ajuda-nos a entender o passado para preparar um futuro melhor, só muitos guineenses acreditam que temos que voltar e corrigir tudo que estava mal no passado senão, não poderemos seguir em frente. Muitas vezes ouvi expressão de tipo “kusas susus fasido nes terra no tem ku resolvil inda”, por conta disto, derrubam governos, assassinam presidente, espancam os civis e etc. Perante tudo isto, pergunto para quando o desenvolvimento da Guine.
Mas, e se Japão olhasse todo tempo para Nagasaki e Hiroshima e dissesse temos que resolver este passado antes de tudo, e se Alemanha dissesse precisamos apagar cicatrizes da invasão russa para depois pensar no desenvolvimento, ou o Timor Leste que sofreu duas colonizações e teve recente massacre de Santa Cruz 1999, tivesse que olhar sempre para trás e dizer precisamos também cortar cabeças de indonésios, mas estes países todos não é que não sabem suas histórias, ou não sentem a dor, apenas conseguem fazer aquilo que Cabral sempre dizia: “precisamos olhar para passado como aprendizado para não fazer os mesmo erros de passado e não voltar ao passado”. Infelizmente os guineenses fazem tudo ao contrário, assassinaram Cabral por isso Nino Viera também teve que ser assassinado, governo de Koumba não conclui seu mandato por isso Domingo Pereira também não pode concluir ou terminar o seu. Esta lógica de vingança que permeia o quotidiano guineense mesmo nas relações mais simples tem sido o seu grande handicap para tudo.
Sendo assim, Guiné-Bissau foi travestida numa prostituta de fácil acesso, qualquer avarento e sem caráter poder ter acesso a ela, desde que lhe baste uma boa estúpida retórica dos seus motivos.
Vou repetir aqui aquilo que já venho afirmando sempre, um país que recebe financiamento para beber água, constitui estupidez pensar em desenvolvimento, um país onde a sua maioria jovem acha normal a violação permanente da constituição algo normal, desde que se justifique com mais estapafúrdias justificativas é um país com futuro inserto.
Desenvolvimento vai ser consequência de uma série de arranjos, como um Estado forte, só que Estado forte se faz com recursos humanos comprometidos com o DEVIR e não com branqueadores de capitais, ou pessoas que se enriqueceram sem que se lhes conhecesse poderio econômico familiar. A Guiné precisa duma alternância política, que pensará um modelo de Estado novo, pujante, um Estado que entenderá que estamos atrasados em relação aos debates sobre gênero e empoderamento da mulher, desenvolvimento sustentável, água, luz, casa, escola para todos.
Guiné-Bissau precisa de uma nova geração de gestores para construção duma nova Câmara política, atenção, não falei que a Guiné-Bissau precisa dos jovens, mas sim de uma nova geração, pois, para mim nova geração seria na mentalidade e não idade, através de pessoas com uma visão das agendas atuais e não diplomatas periféricos. Acho muita estupidez considerar que o atual problema da Guiné teve raiz em Boé ou em outros momentos da sua história, esta seria uma análise simplista para uma questão complexa. O meu maior medo hoje não é com Jomav, Baciro Dja ou DSP, mas é com esta nova geração que mais sabe pedir privilégios de que apontar soluções mas já se sentem o FUTURO da NAÇÃO.
Um dos nossos principais problemas é ser um país que recebe financiamento para tudo (beber água, ter luz, medicamentos, saneamento, infraestrutura, educação, defesa e segurança etc.) e somos um país a deriva dos empresários.
Guiné-Bissau pode não se desenvolver agora, mas ela precisa respirar agora, chega!

Por: Tamilton Gomes Teixeira,
UNILAB/Brasil
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