Por Fernando Casimiro didinho.org
Será que hastear a Bandeira da REPÚBLICA da Guiné-Bissau, um Estado-Membro de pleno direito da CPLP, num evento da CPLP é estar a favor do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012? Será que a Bandeira da REPÚBLICA da Guiné-Bissau, deixou de sê-la, depois do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, para ser a Bandeira dos golpistas?
Então, como justificar a manutenção das Embaixadas da REPÚBLICA da Guiné-Bissau hasteando a mesma Bandeira de sempre, da REPÚBLICA da Guiné-Bissau, nos Estados-Membros da CPLP onde a REPÚBLICA da Guiné-Bissau continuou a ter as suas Embaixadas, independentemente do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012?
Porque é que se continua a usar o nome da REPÚBLICA da Guiné-Bissau em proveito da CPLP, quando, por exemplo, a presidência moçambicana (cessante) da CPLP tem tanto para justificar sobre a instabilidade política e social, em Moçambique, agravadas com acções beligerantes entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO, com consequências imprevisíveis, facto que é do conhecimento de todos os Estados-Membros da CPLP?
Porque será que a presidência cessante da CPLP não fala das atrocidades e dos atropelos aos direitos humanos, por exemplo, em Angola, onde, vários cidadãos guineenses foram assassinados, sendo que uma jornalista e professora universitária guineense, Milocas Pereira, continua desaparecida há quase dois anos, havendo quem afirme que foi assassinada em Angola, sem que nenhum pronunciamento oficial tenha sido feito por quem quer que seja, até agora?
Afinal, que Comunidade é esta, que se diz de língua portuguesa, mas que acrescido à língua portuguesa, passou a ser de sustentação de valores portugueses. De que valores portugueses se trata?!
Muito sinceramente, não tenho pena do meu país, a Guiné-Bissau. Tenho pena, sim, dos que se consideram cidadãos lusófonos, mas que são incapazes de "enxergar", como dizem os nossos irmãos brasileiros, as contradições relativamente aos Estatutos, à Visão, Missão e Objectivos que nortearam a criação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em comparação com o percurso desviante, desde há uns anos a esta parte, sustentado por apetências de cariz económico.
Para alguns Estados-Membros (ditos interesseiros) da CPLP só a Guiné-Bissau é problemática, instável e referenciável pelos piores aspectos, sendo que, mesmo agora que mais uma Guiné, a Equatorial, se junta aos oito Estados-Membros, apesar de tudo quanto se sabe sobre as autoridades da Guiné-Equatorial, o bode-expiatório da CPLP continuará, ser a Guiné-Bissau se as autoridades da Guiné-Bissau não fizerem questão de inverter essa lógica negativa.
Para terminar este texto, gostaria, que alguém, habilitado na matéria, me explicasse o que significa "valores portugueses", como essência de uma Comunidade explicitamente linguística, que tem na língua portuguesa (e não Portugal) a sua essência, a sua razão de ser, composta por 5 países africanos (Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Principe) e à beira de serem 6, com a adesão da Guiné-Equatorial; 1 país sul-americano, o Brasil e um país do sudeste asiático, Timor Lorosae?
É por estas e por outras, que, recentemente ocorreu um Fórum dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em Luanda/Angola visando a retoma institucional de uma Organização existente antes da criação da CPLP...
A CPLP que se cuide... Ou seja, pode sempre haver uma Organização, sejam quais forem os moldes da sua criação, mas sustentada por um laço comum, neste caso, a Língua Portuguesa, que, com a colonização, deixou de ser património cultural exclusivo de Portugal. A meu ver, o Fórum dos Presidentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) recentemente realizado em Luanda/Angola, sem a presença de outros três Estados-Membros da CPLP, neste caso, o Brasil, Portugal e Timor Lorosae, foi para uma convergência de posições de 5 países africanos e Estados-Membros da CPLP, para que a adesão da Guiné-Equatorial na CPLP seja uma realidade forçada por compromissos de conveniência de 4 dos 5 países africanos, relativamente à vontade desde sempre manifestada por Angola, em ver a Guiné-Equatorial como Estado-Membro de pleno direito da CPLP.
Angola, na pessoa do seu Presidente, continua a condicionar a existência e a razão de ser da CPLP como forma de sustentação de um poder que humilha terceiros e que não se submete a regras de nenhuma Comunidade, impondo, pelo contrário, as suas regras, ciente de que a maioria dos demais representantes de outros poderes além-mar, "comem dos restos do seu prato"...