- O Jornal de Angola volta
hoje a criticar Portugal, pela segunda vez em três dias, e novamente sobre a
Guiné Equatorial, acusando os portugueses de darem "lições de
democracia" quando no país "há crianças a morrer de fome".
Em causa está a adesão
daquele país, antiga colónia espanhola em África, à Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), concretizada quarta-feira na Cimeira de Díli, em
Timor-Leste, apesar das dúvidas lançadas a partir de Portugal.
"Os portugueses têm um
grande orgulho na expansão marítima da qual resultou o seu império. Mas agora
há países e povos que guardam a memória desse passado comum e querem pertencer
à CPLP. Alguns renegam esse passado e opõem-se ao alargamento da organização.
São demasiado pequenos para a grandeza da Língua Portuguesa", afirma o
editorial.
No editorial, intitulado
"A grandeza da língua", o diário estatal recorda que parte do
território da Guiné Equatorial "já foi colónia portuguesa" e que a
ilha de Fernando Pó [atual Bioko] recebeu o nome do navegador português, o
mesmo acontecendo com a ilha de Ano-Bom.
"Mas na pequena ilha
[Ano-Bom] está um tesouro da lusofonia: fala-se crioulo [fá d'ambô] que tem por
base o português arcaico e que chegou quase incólume aos nossos dias", diz
o jornal.
Afirma que "está
provado" que aquelas ilhas da "foram povoadas por escravos
angolanos" e que Angola pretende "ir lá render homenagem" aos
antepassados.
"Agora que Fernando Pó
e Ano-Bom fazem parte da CPLP, mais facilmente podemos cumprir esse dever. Mas
sem a companhia das elites estrábicas, que nem sequer foram capazes de defender
a dulcíssima língua portuguesa do Acordo Ortográfico", lê-se.
Sobre as dúvidas em torno da
adesão da Guiné Equatorial, o Jornal de Angola já tinha criticado Portugal no
editorial de terça-feira, o mesmo dia em que o vice-primeiro-ministro Paulo
Portas foi recebido em Luanda pelo Presidente angolano José Eduardo dos Santos.
Hoje é a vez de o ministro
da Economia, António Pires de Lima, visitar a capital angolana.
"Os angolanos querem
saber mais sobre a Língua Portuguesa (...) Os portugueses deviam ter o mesmo
interesse, mas pelos vistos só estão interessados em dar lições de democracia,
quando dentro das suas portas há crianças a morrer de fome", diz o
editorial.
O matutino volta a
referir-se às "elites portuguesas ignorantes e corruptas", afirmando
que com a introdução do português como língua oficial no país "esse
argumento deixou de valer".
Num dos artigos mais
críticos de Portugal dos últimos meses, aquele jornal diz que "em Lisboa
surgiram numerosas vozes contra a adesão" mas que "nunca chegarão aos
céus", provenientes de "políticos e líderes de opinião".
"O que revela uma
contradição insanável eivada de ignorância e uma tendência inquietante para
criar um ‘apartheid' nas relações internacionais", escreve o matutino.
Diz por isso que não se
"compreende" a "soberba" com que "[em Portugal] tratam
a Guiné Equatorial e o Presidente Obiang".
Classifica o tema da pena de
morte, invocado por Lisboa, como "muito débil", tendo em conta que os
Estados Unidos "executam todos os dias condenados à pena capital" e
que "nem por isso os porta-vozes dessas elites querem expulsar o seu
aliado da OTAN [NATO]".
"Pelo contrário, quando
Washington anunciou que ia sair da Ilha Terceira [Açores] por já não ter
interesse na Base das Lajes, todos se puseram de joelhos, implorando que a base
aérea continue", crítica, em editorial, o Jornal de Angola. DN