Rui Peralta, Luanda - anterior: A MÃE (1)
V - Uma análise séria á situação de periferização extrema do continente africano implica um olhar atento á especificidade das condições e contradições internas (dinâmicas internas) e á logica da expansão capitalista mundial, a economia-mundo (dinâmicas externas). No entanto o mediatismo prevalecente vive de observações superficiais, de pseudoanálises, autênticos exercícios de preguiça e de omissão que servem dois propósitos:1) são matéria para marketing; 2) limpeza da História e falsificação do presente (criação de realidades virtuais). Realçar as dinâmicas internas conduz, na actual vertente africana, ao ampliar de fenómenos que, ao serem afastados do conjunto (das dinâmicas externas) sobressaem da realidade, ficam desfocados (e muitas vezes desfocados).
Fenómenos como a corrupção ou a fragilidade da base económica, quando apresentadas apenas sob a perspectiva das dinâmicas internas levam a preconizar soluções irrealistas, ou a esconder a cabeça na areia. Este não é um assunto nacional, no continente africano. O combate á corrupção envolve uma frente vasta, que atravessa todo o tecido social, mas que passa pela atenção a reter nos factores externos, pois é pela corrupção que o neocolonialismo penetra em África, colocando em risco as soberanias nacionais. A corrupção enfraquece as instituições e afecta o desenvolvimento. Não pode ser combatida exclusivamente por vias de campanhas cívicas (muitas vezes estabelecidas em contratos nada transparentes). Implica abertura e transparência na vida pública e nas instituições, implica legislação e eficácia de meios, implica despedimentos, exonerações com conhecimento público da causa e anulações ou revisões de contratos. Nenhum combate efectivo e eficaz á corrupção é possível sem uma análise profunda às causas internas e externas do fenómeno.
O mesmo acontece na abordagem macroeconómica. É, hoje, considerada uma verdade absoluta que "África necessita de empresários", mas que sejam "verdadeiros empresários", capitalistas. Estas observações dariam vontade de rir, não fossem elas bases programáticas de desenvolvimento de muitas economias africanas e delas depende o futuro de milhões de africanos, votados á sua sorte empreendedora, buscando ilusórias riquezas. É o luxo no lixo. Enquanto os governos criam empresários a partir do aparelho de Estado ou das máquinas partidárias, alimentam desperdiçam o potencial empresário que percorre as ruas das cidades-capitais africanas, dos que operam comercialmente nas fronteiras, com base nas comunidades fronteiriças, do potencial dos rios por onde centenárias redes comerciais pré-coloniais estabeleciam a sua actividade, desperdiçam o comércio do gado e as tradicionais redes de comércio rural e perdem lugar na última carruagem do comboio da economia-mundo, sendo atirados para "os mais arejados" wagons de mercadorias. Leia o artigo completo