Miguel Azevedo – Correio da Manhã
Cresceu até à adolescência sem grandes sonhos. "Queria apenas ser polícia e ambicionava pouco mais do que a Guiné-Bissau", diz. O que à data Eneida Marta se calhar ainda não sabia é que há circunstâncias da vida que alteram o percurso dos sonhos. Por um infortúnio relacionado com a saúde do irmão, quis então o destino que a cantora viesse para Portugal aos 17 anos, uma mudança inicialmente difícil, mas que acabou por lhe talhar um novo caminho. "Vim com a minha mãe, mas foi tudo muito complicado para mim. Com aquela idade, senti que me estavam a arrancar de um lugar de onde não queria sair."
Hoje, Eneida Marta tem 42 anos, vive em Portugal há mais de vinte e é uma das vozes maiores nascidas na Guiné-Bissau. O seu novo disco chama-se, curiosamente, ‘Nha Sunhu’ (meu sonho), um registo que cheira a terra, a passado e a história, recheado de tradições musicais, mas apontado para o futuro, sempre com o desejo maior de contribuir para colocar Guiné-Bissau nas bocas do Mundo.
"Um dos meus grandes sonhos é poder ouvir o nome da Guiné-Bissau na boca das pessoas de forma positiva. O que há de mau é uma gota no oceano do que há de bom", garante a cantora. Ou, como lhe disse uma vez um cantor do Congo chamado Lokua Kanza: "Eu não conheço o teu país, mas sinto que o compreendo por causa da tua música."
Nascida no seio de uma família de músicos, Eneida Marta nunca teve qualquer atividade artística enquanto viveu na Guiné-Bissau. O sonho de ser polícia, trouxe-o ainda consigo para Portugal, mas uma vez mais quis o destino que, por causa de uma gravidez, acabasse por abandonara ideia.
"Só depois é que comecei a pensar na possibilidade de poder ser cantora", conta Eneida Marta. Estreou-se em 2001 com ‘Nô Storia’, a que se seguiu ‘Amari’ (2002), que chegou a despertar o interesse do gigante da ‘world music’ Putumayo, que incluiu o seu nome na compilação ‘An Afro-Portuguese Odyssey’.
"Só depois é que comecei a pensar na possibilidade de poder ser cantora", conta Eneida Marta. Estreou-se em 2001 com ‘Nô Storia’, a que se seguiu ‘Amari’ (2002), que chegou a despertar o interesse do gigante da ‘world music’ Putumayo, que incluiu o seu nome na compilação ‘An Afro-Portuguese Odyssey’.
Depois do disco‘Com Angolana Voz’, no qual Eneida assumiu também as suas influências angolanas, chega agora este ‘Nha Sunhu’, um disco gravado entre Lisboa, Paris e Bissau, a que só falta a projeção que tem neste momento a música angolana ou cabo-verdiana. "A música da Guiné precisa de um bom padrinho. E isso tem de começar nos nossos governantes", desabafa.