sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Editorial: INDEPENDÊNCIA OU DEPENDÊNCIA?

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Já foram 42 anos da proclamação solene, unilateral, da independência na densa floresta da esquecida Madina de Boé. 24 de Setembro de 1973, dia da materialização de um sonho que custou milhares de vidas num pequeno território que quis recuperar a dignidade perdida, roubada pelos homens de armas de fogo, há cinco séculos. A trajectória que conduziu à luz da libertação foi longa, dura, pesada e traiçoeira! Muitos combatentes da liberdade tombaram na difícil andança. Não viram o país, o Estado independente, para qual consentiram o sacrifício supremo. O capitão de navio, Cabral, e tantos outros companheiros anónimos, não assistiram a almejada “primavera”. Os sobreviventes, além das expectativas, continuam a assistir a dura realidade de um sonho adiado.
 
O povo orgulhoso e abnegado da Guiné lutou para ser livre e independente. Esta foi a razão da luta armada e o segredo da vitória contra o regime fascista. O ideal fora consumido e aceite até a última aldeia. O povo camponês entendera a mensagem e não hesitara a desafiar com corpo e alma o poder do fogo repressivo do inimigo colonizador. A luta na Guiné visou sem dúvida uma independência total, sinónima da autodeterminação do povo guineense face aos outros povos de mundo. Em suma, com a libertação este povo quis tornar-se dono do seu próprio destino.
 
Quatro décadas depois, custa constatar o total fracasso, senão o falhanço do projecto libertador. A gestão do Estado ao longo da caminhada foi tudo menos “responsável”. Discursos vazios, intrigas, desorganização, disputas pelo protagonismo, dilapidação de recursos públicos, são “vícios assassinos” do sonho nascido em Boé. O quotidiano do Guineense hoje continua a ser caracterizado por uma dependência absoluta. O nosso querido país tornou-se um autêntico mercado onde se consome tudo de boca cheia e fechada! Importa-se tudo, até doença dissimulada em medicamentos falsos, produtos alimentícios fora de prazo na total indiferença de quem é confiada a autoridade de administrar em nome e interesse do povo, ensino fraco, sistema de saúde débil.
 
A classe dirigente oportunista perdeu completamente com o rumo. Ausência de boas referências associada à incompetência institucionalizada, ao anti meritocracia, conduziu a pátria de Cabral a uma perversão incrível de valores. O resultado desta inércia colectiva é de um país dependente, um Estado moribundo, uma classe política falida, um povo embora vítima do vírus do analfabetismo guarda o orgulho e a esperança de “primavera” que fará ressuscitar o sonho de uma verdadeira independência.

 Por: Redação