quinta-feira, 24 de setembro de 2015

42 ANOS/GUINÉ-BISSAU: MOVIMENTO QUER PROMOVER GUINEENSES DE MÉRITO

 
Bissau, 24 set (Lusa) - As figuras guineenses com trabalho de mérito vão ser homenageadas para que o seu exemplo seja seguido pelas novas gerações no projeto HomenageArte do Movimento Ação Cidadã (MAC), que quer refrescar os ideais da independência da Guiné-Bissau.
 
"Temos que atualizar os nossos desafios, as nossas lutas. Não podem ser baseados meramente no passado" em figuras históricas como Amílcar Cabral e outros combatentes, refere Miguel de Barros, membro do movimento. "Mesmo que existam e que nos orientem, temos que projetar novos 'Cabrais'" em diferentes áreas. Daí a necessidade de "promover o mérito".
 
"Foi nesse contexto que achámos que faz todo o sentido podermos homenagear alguém que tenha deixado algum legado positivo", destaca Juelma Nazareth, que também faz parte do MAC.

A primeira edição do HomenageArte decorreu em março e levou por diante a ambição de usar a parada do quartel da Amura para prestar homenagem à obra do cineasta Flora Gomes, um dos mais conhecidos da Guiné-Bissau.
 
Ou seja, além de se concretizar o propósito de valorizar o legado de uma figura nacional, foi também aberta a porta para as novas gerações reinventarem os espaços herdados do tempo colonial -- e que ainda hoje afastam a população.
 
Até há um atrás, enquanto estiveram no poder as autoridades formadas depois do golpe de Estado de 2012, era impensável sequer tirar fotografias perto da Amura, quanto mais entrar e organizar atividades naquele espaço -- onde está também o mausoléu de Amílcar Cabral.
Daí a ambição do MAC, considerando que "hoje não faz sentido o quartel da Amura ser um novo espaço de repressão simbólica, ocupado pelos militares", tal como foi na época colonial, defende Miguel de Barros.
 
"Valeria a pena transformá-lo num novo memorial. Desconstruir a história militarizada da Guiné-Bissau", acrescenta.
 
Poderia até haver outras iniciativas, como dar nomes às ruas: "um espaço como a Amura merecia, por exemplo, que todas as casernas e edifícios tivessem novos nomes: pátio da Democracia, pátio da Justiça ou do Bem Comum".
 
E a ideia pensada para a Amura poderia ser aplicada a outros pontos de Bissau e do país.
"É preciso ter ambição, ter coragem de sonhar e é sobretudo preciso ter a capacidade da transformar. A capacidade de transformação do processo histórico da Guiné-Bissau tem que ser conseguido com a reconciliação" com o passado, mas também resgatando a História para a atualizar, defende.
 
"Daí que toda a atividade que estamos a fazer tenha uma vinculação profunda com a possibilidade de deixar um legado. Não só para os mais novos, mas também para os mais velhos", conclui Miguel de Barros.
A primeira edição do HomenageArte foi organizada sob o título "Flora Gomes e os Óculos do Sonho", em que o realizador foi a figura escolhida para motivar outros a desenvolver a Guiné.
 
O lançamento do livro, em março, foi o culminar de um programa que desde dezembro de 2014 incluiu outras atividades, como oficinas de cinema e conferências.
 
"Flora Gomes -- O Cineasta Visionário" das edições Corubal inclui ao longo de 117 páginas textos de críticos e académicos, com prefácio de Carlos Lopes, secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África, natural da Guiné-Bissau.
 
A próxima edição do HomenageArte vai decorrer em novembro e dezembro deste ano e será dedicada aos cartoonistas da Guiné-Bissau Manuel e Fernando Júlio, irmãos gémeos cuja obra tem retratado os altos e baixos da história guineense.
 
LFO // PJA