Ponto a reter: «As empresas multinacionais têm um poder económico e político enorme nos países africanos (…). Deste modo, há uma linha muito reta da exploração colonial para a exploração moderna».
A pergunta é feita pela CNN: porque é que a riqueza de África não enriquece os africanos?
Para explicar isto, a rede norte-americana começa por falar de Katanga, província da RDC, onde as riquezas naturais são enormes e incluem vastos depósitos de minerais preciosos, como ouro, diamantes ou tântalo. Na viragem do século, houve um boom na mineração nesta região, na altura em que o Presidente de então, Laurent-Désiré Kabila, e o seu filho Joseph deram autorização às empresas internacionais para explorarem estes tesouros. A elite congolesa ficou assim muito mais rica, bem como os prospetores, mas a população, devastada pela pobreza, não ganhou nada.
Entre 1999 e 2002 a administração Kabila fez transferências para o setor privado, mas para empresas sob o seu controlo. O Estado não recebeu quaisquer benefícios. Foi a ONU que chegou a estas conclusões. Houve revolta dos mineiros – mas nada mudou, mesmo assim. Essa revolta resultou apenas em mortes – o exército congolês terá morto cerca de 100 pessoas, muitas em execuções sumárias.
A CNN diz que a riqueza mal distribuída, a violência e a pobreza extrema na RDC não são coincidência, mas sim parte de um padrão espalhado um pouco por toda a África, de acordo com uma investigação do jornalista Tom Burgis, do Financial Times. No seu novo livro, The Looting Machine (A Máquina de Saques, em tradução livre), o autor prova o paradoxo de que África é «o continente mais pobre do mundo e, provavelmente, o mais rico».
Burgis, que foi correspondente em Lagos e Joanesburgo, cruzou-se com muitos cleptocratas nas suas viagens pelos países ricos em recursos. A conclusão geral a que chegou foi a de quem se na época colonial houve expropriação, esta manteve-se no pós-independências.
Quando o poder estrangeiro partiu, ficou uma elite sem divisões entre política e negócios. Hoje, a única fonte de riqueza está normalmente em minas ou em campos de petróleo, e esse é o ingrediente-chave da receita dos Estados mega-corruptos. Na Nigéria, por exemplo, a «elite extratora» quis chamar para si todos os lucros dessa extração. E Burgis vai mais longe: «As empresas multinacionais têm um poder económico e político enorme nos países africanos (…). Deste modo, há uma linha muito reta da exploração colonial para a exploração moderna».
Uma política assente em subornos, em colocar as elites nos cargos, em «apagar» lucros e ao mesmo tempo em «apoios» internacionais (seja através das multinacionais ou de offshores) acaba por ser a resposta, ainda que muito resumida, para a pergunta inicial que a CNN coloca. É também por estas razões que a riqueza dos solos africanos não se reflete na vida diária dos seus habitantes.
Fonte: Aqui