As mulheres da secção de Guiledji afirmaram à nossa repórter que se sentem abandonadas à morte pelo Estado guineense, pelo que clamam do executivo a construção ao mínimo de um centro de saúde na secção, para que possam ter acesso aos primeiros socorros e cuidar das mulheres grávidas no decurso do parto.
Guiledji é uma das secções que compõem o sector de Bedanda, Região de Tombali, sul do país. A secção é constituída por 108 aldeias e tem 20 mil habitantes, mas não dispõe de nenhuma instituição sanitária, razão pela qual as mulheres no momento do parto, são transportadas em motorizadas ou viaturas alugadas para o centro de saúde mais próximo, ou têm de efectuar o parto em casa, se os familiares não tiverem dinheiro para alugar uma motorizada.
A vila de Guiledji é conhecida na história da Luta de Libertação Nacional como uma das localidades onde se registou um dos maiores combates entre a guerrilha do PAIGC e as forças coloniais, em 1973, depois da morte de Amílcar Cabral. Foi em Maio de 1973 que um punhado de combatentes do PAIGC, comandados pelo lendário “Kabi Na Fantchamna” – João Bernardo Vieira, desencadeou a maior operação militar de sempre na história de libertação do país, denominada de “Operação Amílcar Cabral”, cujo objectivo era libertar todo o território nacional. A partir da vila que albergava o famoso “Quartel de Guiledji” que o partido (PAIGC) iniciou a marcha vitoriosa que culminou com a independência total do país.
Uma repórter do Jornal “O Democrata” deslocou-se este fim-de-semana àquela secção da zona sul do país, onde entre outros assuntos registou o sofrimento das mulheres daquela localidade histórica, que lamentaram a repórter a falta de Infrasestruturas rodoviárias, escolas e professores qualificados para os seus filhos.
As mulheres contactadas pela nossa repórter foram unanimes em pedir ao Estado da Guiné-Bissau que construa pelo menos, um único centro de saúde, em homenagem aos homens e mulheres que deram a vida pela independência do país, mas sobretudo como um tributo à própria vila.
A vila acolhe igualmente um aquartelamento militar das Guardas Fronteira, mas a casa onde funciona o aquartelamento encontra-se numa situação de degradação total e, por isso, não se consegue distinguir se é uma simples barraca ou quartel propriamente dito. Os responsáveis do quartel não aceitaram prestar quaisquer declarações à repórter, alegando que não receberam nenhuma orientação superior para o efeito.
GRÁVIDAS MORREM COM FETO NO VENTRE A CAMINHO DOS HOSPITAIS DE QUEBO OU BEDANDA
Cadidjato Culubali, habitante de Guiledji, explicou na sua declaração que a falta de um centro de saúde com capacidade para atendimento os primeiros socorros e outros serviços prejudica muito a sua aldeia, sobretudo as mulheres grávidas que muitas das vezes morrem com os fetos no ventre, em viagem para o hospital de Quebo, que fica a 37 quilómetros, ou ao do sector de Bedanda que se encontra a 29 quilómetros de distância e em linha recta.
“Na hora do parto, o marido é obrigado a deslocar-se até Quebo ou Bedanda para alugar uma motorizada a um preço de 15 mil francos CFA e a viatura que é alugada no preço de 20 mil francos CFA, para vir buscar a parturiente mais o acompanhante. Se o marido não tiver dinheiro, a mulher é obrigada a ter o bebé em casa. Apesar dos riscos inerentes aos partos realizados em casa, somos obrigados a chamar as mulheres mais velhas para ajudarem.
Quando a situação é difícil ou se complica e a parturiente não consegue dar a luz em casa, e se o marido não tiver dinheiro para alugar uma motorizada, então fica-se naquela situação até ela conseguir ter o bebé ou até morrer”, contou Culubali, numa voz trémula, recordando que a sua irmã perdeu a vida naquelas circunstâncias.
Culubali considera de absurda a falta de um centro de saúde na secção, dado que é uma vila constituída por mais de 20 mil pessoas. Na sua opinião, há toda uma necessidade de se construir, pelo menos, um posto de saúde dotado de alguns serviços, no sentido de salvar vidas das mulheres e em particular das populações que por vezes morrem do paludismo.
Lembrou que a povoação de Guiledji nunca chegou de beneficiar de um centro público de saúde público, por isso responsabilizou o Estado guineense pelas mortes das mulheres grávidas na sua localidade na altura do parto.
Explicou ainda que, com a época da chuva que se está a aproximar, a situação da sua aldeia torna-se ainda mais pior, porque “durante a época das chuvas registam-se muitas doenças contagiosas, mas a tabanca não tem nenhum posto de saúde para ajudar no tratamento de paludismo o mais frequente, ou outras doenças”.
MULHERES DE GUILEDJI DENUNCIAM A FALTA DE LIBERDADE E IGUALDADE DE GÉNERO
A falta de liberdade e igualdade de género é outra situação que a repórter constatou naquela zona sul do país. A referida situação é testemunhada pelas próprias mulheres que aproveitaram a nossa reportagem para denunciar a falta de liberdade e da repressão que sofrem dos seus próprios familiares, por rejeitarem um casamento.
“O sofrimento das mulheres de Guiledji em termos de liberdade e de igualde de género é de igual tamanho com a situação que enfrentamos, por falta de um centro de saúde, onde muitas colegas nossas perderam vidas ou filhos”, assegurou a Cadidjato Culubali.
Lamentou que as dificuldades e outras limitações que vão até ao ponto de serem impedidas de exigirem os seus próprios direitos à igualdade.
Acrescentou ainda que a “vida de uma mulher da tabanca é simplesmente fazer o papel de ocupante da casa, cuidar dos filhos, praticar actividades agrícolas para ajudar na sobrevivência da família e servir o homem”.
ONG BRASILEIRA DÁ CONSULTAS GRATUÍTAS AOS POPULARES DE GUILEDJI
Culubali disse à nossa repórter que actualmente os populares beneficiam de consultas gratuítas efectuadas por uma organização brasileira “ONG-Cristã Campos Irmãos” que opera na área de saúde e educação no sector de Quebo.
Informou neste particular que aquela organização brasileira efectua cada duas ou três semanas consultas gratuitas aos populares.
Avançou ainda que a mesma organização construiu uma escola para o ensino básico, de 1ª à 4ª classe. Reconheceu e enalteceu o esforço daquela organização e apelou às autoridades do país no sentido de fazerem um gesto semelhante com a construção de apenas um posto de saúde.
Contou que os populares de Guiledji sofrem muito neste aspecto, tendo recordado que os populares das tabancas são obrigados a comprar uma carteira de comprimidos “coartem” ao preço de dois mil francos CFA, como também outros medicamentos que são vendidos a preços exorbitantes.
Por: Aissato Só