Um ano depois de ser condenada (Abidjan, março de 2015), Simone Gbagbo regressou esta segunda-feira, dia 9 de maio, ao tribunal da capital marfinenses. Desta vez, a antiga primeira-dama da Costa do Marfim, de 66 anos, é julgada por crimes contra a humanidade.
Por ocasião deste novo julgamento, o portal Jeune Afrique fez um resumo daquilo que foi o percurso desta mulher (a quem uns chamam «dama de ferro» e outros «dama de sangue»), da a ascensão à queda.
1973 – O encontro de um casal
Simone Ehivet não esperou pelo apelido Gbagbo para se envolver na política. Nascida a 20 de junho de 1949, em Moossou, numa família de 18 irmãos, participou na sua primeira greve aos 17 anos. Os seus diplomas de linguística africana e de Letras modernas não mudaram em nada a sua vontade: a jovem escolheu a política, e a extrema-esquerda, para a sua vida. Foi num grupo revolucionário que conheceu Laurent Gbagbo, em 1973.
1982 – Criação da Frente Popular Marfinense (FPM)
A FPM formou-se na clandestinidade, em 1982, em torno de Laurent Gbagbo. Simone Ehivet, a única mulher presente no organigrama do partido, encarnava o espírito da linha dura do partido. O casal acabou por se ver separado em 1982, quando Laurent seguiu para o exílio, em França. Regressou em 1988, e em 1989 os dois casaram discretamente, em Cocody, passando Simone Ehivet a Simone Gbagbo.
Outubro de 1990 – Primeira campanha do casal
Com a instauração do multipartidarismo, em 1990, Laurent Gbagbo concorreu às presidenciais, enfrentando Félix Houphouët-Boigny. Simone fez campanha com ele, ativamente, sempre ao lado do marido. Tudo era novo, na Costa do Marfim, e a FPM instalava-se definitivamente na paisagem política nacional.
Fevereiro de 1992 – Condenação
A FPM foi autorizada pelo multipartidarismo, mas nem por isso as atividades da oposição deixaram de ser alvo da repressão policial. A 18 de fevereiro de 1992, foi isso que aconteceu numa marcha organizada pelo partido. Violentamente interpelada pelas forças da ordem, Simone é agredida. O casal é condenado a dois anos de prisão, acabando por ser libertado seis meses depois.
«Ao lado dos homens, conduzi combates muito duros contra o regime. Estive presa seis meses. Fui espancada, violada, deixada para morrer. Depois de todas essas provas, é normal que ninguém consiga fazer pouco de mim», disse Simone Gbagbo mais tarde, em 2001, numa entrevista ao L’Express.
1995 – Eleita deputada
O marido boicotou as presidenciais de 1995. Ela tentou a sorte nas legislativas, e conseguiu um lugar como deputada por Abobo. Após uma campanha agitada, chegava à Assembleia Nacional, onde a FPM tinha um lugar cada vez maior. Acabou por se tornar, em seguida, vice-presidente do Parlamento marfinense.
26 de abril de 2000 – O casal chega ao poder
Depois de ter feito campanha por largos meses ao lado do marido, a hora de Simone – e do casal – chegou em 2000, quando Laurent Gbagbo venceu as presidenciais. O casal chegou ao palácio presidencial, para um mandato que deveria ser de cinco anos.
Janeiro de 2003 – A rutura com o clã Affi N’Guessan
Em setembro de 2002, houve uma tentativa de golpe de Estado, perpetrada por militares vindos do norte do país. A Costa do Marfim afundou-se na crise, depois disso. A rebelião instalou-se, deixando inúmeras vítimas. Já em janeiro, Paris convocou os rebeldes e o governo para a assinatura de um acordo de paz. Laurent Gbagbo não viajou até França, mas enviou o seu primeiro-ministro, Pascal Affi N’Guessan.
Simone Gbagbo achava este acordo muito pouco favorável para o seu marido, o que acelerou a sua rutura com o clã N’Guessan. A antiga deputada, que continuava a encarnar a linha dura do poder, não perdoava ao PM da época (hoje líder ds FPM) ter assinado o acordo.
Maio de 2004 – Acusada de incitar os «jovens patriotas» à violência
A crise política perdurava e o sentimento antifrancês espalhava-se por entre os opositores do acordo. A primeira-dama colocou-se do lado dos «jovens patriotas», um movimento pró-Gbagbo onde alguns pequenos núcleos armados são acusados de abusos.
Algumas horas depois de Simone declarar, a 4 de maio, que «França é cúmplice dos rebeldes», os «jovens patriotas» saíram às ruas para atacarem a ONUCI (Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim) e os interesses franceses no país.
Numerosas organizações internacionais e marfinenses suspeitavam de ordens dadas por Simone Gbagbo, algo que ela negou sempre: «Eles não saíram às ruas sob ordens minhas, mas tenho muito orgulho do trabalho que fizeram», diria a política mais tarde, em 2007, numa entrevista ao canal France24 – na qual não excluía a hipótese de suceder ao seu marido na Presidência.
De qualquer das formas, as suspeitas nunca se diluíram, e a sua proximidade ao movimento liferado por Charles Blé-Goudé valeram-lhe o nome «dama de sangue».
VER ENTREVISTA DE SIMONE GBABO AQUI
Dezembro de 2010 – Os Gbagbo não deixam o poder
Depois de seis adiamentos, as presidenciais decorreram no final de 2010. A Comissão Eleitoral Independente (CEI) proclamou a vitória de Alassane Ouattara, mas o Conselho Constitucional anunciara na véspera a vitória de Laurent Gbagbo. A 4 de dezembro, os dois candidatos declararam-se vencedores e Presidentes, e prestaram juramento, cada um em seu lugar.
11 de abril de 2011 – A detenção
Os combates entre os dois campos alastraram-se pelo país. Mas as fileiras cerravam-se em torno de Gbagbo, já banido pela comunidade internacional. O casal foi preso a 11 de abril de 2011, na residência presidencial, tomada de assalto pelas forças francesas da operação Licorne e da ONUCI. Laurent e Simone ficaram detidos no Golf Hôtel, em Abijan, onde foram fotografados amarrados e com um ar atordoado.
10 de março de 2015 – A condenação a 20 anos de prisão
Depois de um processo criticado pelos seus apoiantes e também por muitas organizações internacionais, veio a sentença. Sinome Gbagbo foi condenada 10 de março de 2015 a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Abidjan, por «atentando à autoridade do Estado, participação num movimento rebelde e ameaça à ordem pública». A antiga primeira-dama ouviu o veredito serenamente, sem pestanejar.
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