O centro de saúde do setor de Farim, “Dr. Silvano Rodrigues”, enfrenta problemas de falta de técnicos para responder às necessidades de uma população estimada em cerca de cinquenta mil (50.000) pessoas, como também a falta de energia eléctrica. Isso tem levado os médicos do serviço neonatal a recorrer à técnica denominada “Mamãe Canguru”, envolvendo as crianças recém-nascidas com o peso abaixo da média em sacos de plástico, de formas a permitir-lhes ganhar certa temperatura corporal adequada e assim salvar-lhes as vidas.
Os médicos usam a tal técnica por falta de energia eléctrica que impossibilita o uso da incubadora. O Hospital ‘Dr. Silvano Rodrigues’ tem atualmente 18 técnicos: três médicos e incluindo o diretor de hospital e 15 enfermeiros, dos quais cinco são afectados ao serviço da maternidade.
‘Farim Din Din Bancó – Terra de Juventude, em português’, é um dos cinco sectores que compõem a grande região de Oio, no norte da Guiné-Bissau. É um sector que tem uma grande reserva de fosfato, de acordo com os dados avançados pelas autoridades nacionais. A mina é uma das esperanças das mais de 50 mil habitantes daquela zona, que entendem que, com a exploração da mesma, haverá mudanças nas suas vidas bem como poderá significar um abrir de caminho para o desenvolvimento do próprio sector que é considerado a capital da região.
Uma equipa de reportagem do semanário “O Democrata” deslocou-se recentemente ao sector, e constatou as dificuldades dos técnicos de saúde em termos de condições de trabalho, como também o estado avançado de degradação do telhado de difício do hospital.
O Centro hospitalar de Farim não escapa a realidade da Guiné-Bissau, que é um país que carece de tudo em todos os sectores sociais da vida. No centro “Silvano Rodrigues”, a energia elétrica é quase inexistente e a água que se consome é de má qualidade, conforme testemunharam os próprios técnicos à nossa reportagem. O telhado do hospital está em avançado estado de degradação, o que dificulta os trabalhos dos funcionários, principalmente durante a época chuvosa.
A intenção da direção do centro de saúde é conseguir um financiamento para mudar a cobertura de fibra para zinco de alumínio, devolvendo assim a comodidade de trabalho aos funcionários. As dificuldades são imensas. O hospital carece de camas devido a falta a atualização do referido centro conjugado com o aumento da população.
No que tange aos meios de transporte, das três viaturas de que o hospital dispõe, apenas duas estão em funcionamento.
As doenças mais frequentes em Farim e que chegam ao centro de saúde são a pneumonia, a diarreia, o parasitismo intestinal, ITS, tifóide e paludismo, este com mais frequência na época das chuvas.
FALTA DE ENERGIA ELÉCTRICA LIMITA OS TRABALHOS DO SERVIÇO NEONATAL
O diretor do centro de saúde “Silvano Rodrigues”, Ernesto Lopes Có, manifestou a sua preocupação face às dificuldades que o centro que dirige está enfrentar neste momento, apontando a questão energética como uma das prioridades.
Ernesto Lopes Có, médico clínico geral e diplomado na saúde pública internacional, desempenha as funções do diretor do mesmo hospital e de médico, juntando assim, a parte clínica à parte administrativa.
A dificuldade energética do hospital “Silvano Rodrigues” agravou-se depois da empresa de telecomunicações MTN, que fornecia energia elétrica ao centro graças a uma parceria, decidiu cancelá-la. Contudo, a nossa reportagem soube que a direção do hospital já endereçou uma carta a direção da MTN, com vista ao restabelecimento da parceria, mas até a data da reportagem a direcção do hospital não recebeu nenhuma resposta.
De acordo com Ernesto Lopes Có, a falta da energia elétrica afeta o serviço neonatal, ou seja, das crianças que nascem com peso abaixo da média e que, em condições normais, deveriam ser colocadas na incubadora.
“Temos incubadora, mas não podemos trabalhar, sem a energia elétrica. Se tivermos crianças de baixo peso, com menos de 2,5kg. Essas crianças deveriam ser colocadas numa incubadora. Recebemos uma, mas como estamos com falta da energia elétrica, a máquina não pode funcionar. Necessitamos de quem nos possa apoiar para que a nossa incubadora possa funcionar”, apelou Ernesto Lopes Có.
Como a incubadora não funciona, os técnicos recorrem à técnica denominada – Mamãe Canguru, que consiste no uso de sacos de plástico para colocar os recém-nascidos e forrá-los com fraldas, de forma a permitir que a criança ganhe um certo grau de temperatura. Quando não é possível, o evacuamos o bebé para o serviço de neonatologia do Hospital Nacional Simão Mendes para o devido tratamento.
“Silvano Rodrigues” tem um grupo de painéis solares, mas que não consegue cobrir as necessidades em energia durante todo dia. Quando a MTN fornecia energia, os técnicos reservavam a energia acumulada pelo painel para os serviços noturnos. Como o painel precisa de muito sol para acumular mais energia, durante a chuva absorve menos energia devido a fraca intensidade dos raios do sol, fato preocupa a direção do hospital.
PACIENTES DE CENTRO DE SAÚDE CONSOMEM ÁGUA IMPRÓPRIA
A água que sai das torneiras do hospital não é adequada para o consumo humano, conforme testemunham os próprios técnicos. O próprio director do centro não esconde a sua desconfiança em relação à qualidade daquele líquido precioso, mas resolveu deixar os pormenores com os técnicos ligados à água potável para melhor explicarem a razão.
“Se tivermos apoio, queremos canalizar a água pública para o centro de saúde, porque a água sai da torneira com uma cor quase vermelha. Sabemos que todos os nossos trabalhos aqui no hospital necessitam de água de boa qualidade. A nossa principal necessidade para um funcionamento eficaz é água e luz elétrica”, vincou Lopes Có.
Anteriormente, o hospital funcionava com base numa nomenclatura – área sanitária de Oio-Farim, mas devido a particularidade da travessia do rio, funciona agora como hospital de referência regional, ultrapassando o nível de um simples centro de saúde.
ERNESTO CÓ: “HOSPITAL NÃO TEM CAPACIDADE DE ATENDER A POPULAÇÃO DESSA ÁREA SANITÁRIA”
As aldeias nos arredores de Farim, desde Guedadje, Binta e Cuntima, todas evacuam os seus doentes para o centro de saúde de Farim.
“Recebemos doentes evacuados de Binta, Cuntima e Guedadje. Podemos dizer que este hospital não tem capacidade para atender o número de população que temos nesta área sanitária. Às vezes ficamos sem camas para os doentes”, revelou Lopes Có à nossa reportagem.
Hospital “Silvano Rodrigues” necessita de pessoal técnico, porque o número atual dificulta o funcionamento normal do centro, obrigando os técnicos a trabalharem com grande esforço. A maternidade conta com cinco enfermeiros de parto. Por vezes os funcionários fazem diretas, isto é trabalham até ao amanhecer, dividindo o seu trabalho entre atendimento de urgência, consultas, partos e os livros que têm de preencher.
De acordo com o diretor, a maternidade recebe trinta a quarenta mulheres grávidas por dia, acrescentando que todo aquele trabalho é exagerado para uma pessoa. Lopes Có avançou que a sua direção já solicitou o aumento de número de pessoal técnico, em colaboração com o delegado regional de saúde com residência em Farim.
Có quer ver aumentado o número de parteiras para o dobro do atual, ou seja, para dez em vez dos cinco, para melhorar a qualidade do atendimento, isso permitirá que, enquanto uma parteira está nas consultas, a outra pode dedicar-se ao serviço de urgências.
O serviço de vacina conta com uma única pessoa que cuida de preencher todos os dados necessários, fato que o diretor quer corrigir, afetando o serviço com mais uma ou duas pessoas. A enfermaria está a funcionar normalmente contando com oito enfermeiros, a área da nutrição possui um enfermeiro.
A outra preocupação da atual direção do centro sanitário “Silvano Rodrigues” é a reforma que já bateu a porta de três enfermeiros, incluindo o enfermeiro-chefe.
“Precisamos até de médicos aqui. Imagine que dois médicos ocupam-se de consulta geral e um da oftalmologia, somos três no total. Nenhum técnico pode suportar esta carga de trabalho. Por exemplo, quando um médico dá consultas na medicina e outro na pediatria, ao terminarem as consultas, o médico de serviço tem que voltar depois do pequeno almoço para continuar os serviços de consulta do dia, após ter passado a noite em serviço. Isso é desgastante”, explicou Ernesto Lopes Có. “Se for num período onde qualquer um dos três está de férias, um único médico ocupa-se da consulta de pediatria e de medicina, atendendo ao mesmo tempo a maternidade e as urgências”, prosseguiu.
A direção e o delegado regional já enviaram um documento com uma lista das necessidades que do centro para um melhor funcionamento daquele hospital de referência na região de Oio, o pedido em causa já deu entrada no ministério da saúde há mais de três meses, mas até a realização desta reportagem nenhum pessoal foi enviado para o centro.
No hospital de Farim, a pneumonia é a patologia mais frequente, sobretudo nas crianças. Há também casos de diarreia, o parasitismo intestinal, a ITS – Infecção de Transmissão Sexual [uma doença que está a ganhar terreno no setor de Farim] e tifóide que cresce a cada dia que passa.
Segundo Lopes Có, a doença de tifóide cresce no setor de Farim e a nível nacional, devido à negligência dos guineenses em não acatar as recomendações dos técnicos sanitários, que passam pela utilização de lixívia na água das fontes e mesmo a de torneira, antes de consumi-la. Na falta de lixívia, recomenda-se o método de aquecimento da água durante alguns minutos antes de consumi-la, isso ajuda a eliminar as bactérias que provocam a tifóide e parasitismo intestinal.
Além da água mal-tratada que se consome, as verduras como alface e demais legumes aparecem como potenciais fontes de contrair tifóide e parasitismo intestinal.
“Para as verduras recomenda-se também a utilização de lixívia para desinfetá-los e consequentemente eliminar as bactérias que ali se encontram”, aconselha.
HOSPITAL DE FARIM NÃO REGISTOU NENHUM ÓBITO DURANTE A GREVE
Ernesto Lopes Có disse a nossa reportagem que não se registou nenhum óbito durante os dias de greve no setor sanitário do país, acrescentando que o serviço mínimo está a funcionar normalmente.
Có é um dos técnicos de saúde que prestavam o serviço mínimo no hospital “Silvano Rodrigues” durante a greve, assegurando a urgência.
No gabinete do diretor do hospital de Farim notam-se manchas da água da chuva que infiltra naquela sala.
Por: Sene Camará
Fotos: Marcelo N’canha Na Ritche