terça-feira, 10 de maio de 2016

SER MÃE SOLTEIRA EM MARROCOS, SER REPUDIADA PARA SEMPRE

Rachida, nome fictício, diz ao El País que preferia ter tido um cancro do que engravidar do bebé que tem agora nos braços. «Pelo menos estaria com a minha família.» Com outras sete mães solteiras, vive numa casa de acolhimento em Tânger, gerida pela organização 100% Mamans. Esta é uma das poucas ONG em Marrocos que dá até seis meses de acolhimento às mães solteiras, abrigando os seus filhos e dando-lhes assessoria jurídica e cursos que lhes permitirão manter uma vida profissional.

Há milhares de mulheres como Rachida, que da noite para o dia são expulsas da casa dos pais e repudiadas pelos amigos, pelos vizinhos e até pelos colegas de trabalho. Em Marrocos, o Código Penal proíbe relações sexuais fora do matrimónio. E os filhos dessas relações recebem o depreciativo nome «wlad ihram», que em árabe dialetal de Marrocos significa «filhos do pecado».

Ao lado de Rachida está outra mulher, que entregou o filho há dias para adoção. Em frente a esta está Sanan, de 30 anos, com o seu bebé ao colo. «Para mim o pior momento foi quando engravidei e tive de pedir na rua para comer.» Expulsaram-na de pensões e até da esquadra.

«A mim também me puseram fora de casa em pleno inverno», diz Rachida. Outra mãe, de 21 anos, explica: «Em Marrocos nós, as mulheres, não estamos preparadas para viver sem a proteção da família, para sair de casa com 18 anos e um filho. No meu caso, sei que desgracei toda a minha vida. Fiquei sem família, e não vou poder casar-me, estudar ou encontrar um bom emprego».

Mustafá el Maarauf, assistente social, trabalha com crianças abandonadas, filhos de mães solteiras, na sede de uma ordem religiosa de Tânger. Acredita que muitas destas mães estão ligadas à prostituição. «A sociedade trata-as como prostitutas, e às vezes não lhes resta outra saída.» No entanto, os responsáveis da 100% Mamans dizem que isso é um mito.

A sede desta ONG tem uma série de pequenas casas, que são partilhadas pelas mães. Podem ser alojadas até 12 pessoas, mas sempre por um prazo máximo de seis meses. No final, têm de partir, para dar lugar a outras mães. E a vida de trabalho não será fácil. «Se se engravida sem estar casada, o chefe explora, quem aluga uma casa também… E é difícil encontrar alguém que alugue casas a mães não casadas», explica a mãe de 21 anos ao El País.

Ghnimi Jalib, vice-presidente da 100% Mamans, diz que nada mudou em Marrocos desde que a francesa Claire Trichot fundou esta ONG, há dez anos. Desde aí já receberam mais de 1300 mulheres, todas com histórias terríveis. Trichot lembra sempre o caso de uma jovem deficiente mental que foi trazida para o abrigo por um funcionário municipal. Estava grávida devido a uma violação, mas mesmo assim os pais expulsaram-na de casa. A bebé que teve era loura e de olhos azuis, como a mãe, mas sem qualquer deficiência. A organização acabou por chamar o pai dessa rapariga, sob ameaças de o denunciar às autoridades. Ele veio e aceitou de novo a filha. «A pressão social é o pior», diz Jalib. Fonte: Aqui