Por: Almirante, Américo Bubo Na Tchuto (transcrição do Professor Filipe Benício Namada)
USA/Bissau, 30/07/2016.
Na adolescência, apenas uma criança, que carreguei com a minha cruz que fui obrigado a carregar pelo povo da Guiné-Bissau em luta pela liberdade contra o jugo colonial. Isto porque cresci forte e alto, na adolescência superei todas as idades normais, para sempre ingressar as idades mais elevadas que aquelas da minha própria idade fisiológica e mental. Assim, todos os parceiros das fases de idade por que passei, sempre temeram o adolescente Bubo Na Tchuto.
Carregado com a minha cruz em plena luta libertadora, embora jovem adolescente, comecei a pensar diferentemente dos meus colegas combatentes, e, sobretudo, dos meus chefes. Por exemplo, Amílcar Cabral dizia que não devíamos deixar “os Tugas” dormirem tranquilos na nossa terra, pelo que devíamos buscá-los onde quer que estivessem. Transformei imediatamente este slogan em minha palavra de ordem. Comecei logo a não poder ficar numa Barraca, ou, num grupo esperando sermos atacados para reagir.
Em consequência, passei a ir a procura dos “Tugas” lá onde se encontravam, ou, lá onde supostamente a informação dizia que iam atacar, carregado de uma bazuca e as sua munições em quantidade suficiente, uma metralhadora «bi-pés», com a sua longa fita de munições enlaçada em volta do corpo, uma pistola e uma espada. Por causa disso, os meus chefes me acusaram junto da direcção do Partido e da Guerra apresentando-me como um desordeiro que não queria submeter-se a nenhuma ordem. Então, fui chamado apresentar-se a Conakry, na presença do próprio Amílcar Cabral, que me perguntou o que é que eu queria, sendo um jovem que não queria obedecer a ninguém, criando desordem nas frentes de combate?
Respondi então, calmamente ao Amílcar, explicando qual era a palavra de ordem que servia de minha guia, como acima expliquei.
Foi o próprio Amílcar que se levantou para me abraçar, elogiando-me como sendo o seu verdadeiro soldado. Em seguida, me entregou uma carta que me dava todas as liberdades para que pudesse deslocar-me para todas as zonas de combate a procura dos “Tugas” lá onde se encontravam.
Foi assim que, de campo de batalhas a campos de batalhas, contribuí para libertarmos o país, a actual Guiné-Bissau. E, apesar de todos os obstáculos e calúnias, Bubo Na Tchuto, um puro guineense, atingi a graduação de Almirante que ganhei com mérito de sangue.
Será ainda o alto, forte e feio guineense nomeado Bubo Na Tchuto que faz medo a certas pessoas, ou, o corajoso Almirante, combatente da liberdade da Pátria? Quem sabe?
Hoje porém, face ao que me aconteceu há quem diz “é o que ele merece”. Porém, outro com certeza pensará que é uma ironia da vida. Mas, quem bem conhece Bubo Na Tchuto se lembrará que foi a partir das brincadeiras de crianças que ele se identificou com o povo americano por se considerar alto, forte e corajoso.
Aliás, é a identificação que sempre fiz, ao ponto de considerar, anos após independência, de tudo fazer para emigrar para os Estados Unidos da América, onde hoje me encontro, numa situação contrária a minha livre vontade.
Claro que, da fase de libertação chegamos numa nova fase, que foi o próprio Amílcar Cabral quem nos disse que “ a luta de libertação constituindo a primeira fase do processo de libertação de um povo, era penosa sem dúvida, mas muito menos difícil a realizar, que a segunda fase do arranque para o desenvolvimento”. Ninguém entre os combatentes entendeu esta “parábola”.
Para nós, ao contrário, a libertação do país significava o período de “Maná” que outrora conheceu o povo Hebreu. Talvez foi a razão porque o período se tornou extremamente mais difícil, porque todos nós queremos tornar-nos ricos de um dia para outro. Em consequência, tornamo-nos vulneráveis a mercê dos nossos “tubarões” nacionais, isto é, dos nossos políticos intriguistas aliados dos “dragões” internacionais interessados de espoliar os nossos recursos nacionais.
Quem não se lembra da quantidade de droga deixada no Rio de Biombo e que ficou conhecido como a «Droga de Biombo», que foi ali deixada, intencionalmente, para obrigar o povo guineense conhecer a droga para se tornar, ao mesmo tempo, “cobaia” e “isca” nas mãos dos «dragões» internacionais como povo mortiço de fome? Pois, foi a partir daí que a maioria parte do povo guineense (entre os quais nós mesmos), ficou a saber da existência concreta de algo que se chama droga pura.
Tudo foi feito pelos «barões» internacionais da droga que precisavam de uma certa cumplicidade interna para poderem utilizar o nosso país, sem controlo, para entrar na Europa e na América, local de verdadeiros consumidores prontos a alienar uma importante soma para conseguir o seu produto de “alívio” criando uma enorme procura. O que explica o fomento desse mercado diabólico.
Hoje, pergunto como não somente parar, mas acabar definitivamente com este drama humano, onde, por um lado, existem os grandes consumidores com enormes possibilidades com que adquirem e consomem tranquilamente o seu produto de «alívio» e diversão. Enquanto por outro lado, existem os «barões» super potentes aliados de cumplicidades variadas pelo mundo inteiro para fazerem chegar o seu produto diabólico lá onde querem, em detrimento dos pequenos que por motivos de fome caiem nas suas armadilhas?
Está ali, hoje, nesta questão, o fundo das minhas preces que faço quotidianamente a Deus Pai pedindo para que me perdoe e perdoe o mundo inteiro, sobretudo, os que directa ou indirectamente contribuíram e contribuem a manter este processo dramático de negócios diabólicos.
Perguntaste-me onde vou?
Prazo a Deus que me deixem voltar com a minha cruz para Madina de Boé!
USA/Bissau, 30/07/2016.
Por: Almirante, Américo Bubo Na Tchuto (transcrição do Professor Filipe Benício Namada)