Ponto a reter: Adama Barrow é um muçulmano devoto. Tem duas mulheres e cinco filhos. Barrow viveu três anos e meio em Londres, onde estudou e foi segurança na loja Argos.
Há seis meses, Adama Barrow era um desconhecido na cena política. O empresário de 51 anos assume agora a presidência da Gâmbia, pondo fim a mais de duas decádas de Yahya Jammeh no poder.
Adama Barrow foi o grande vencedor das eleições presidenciais de dezembro. A eleição abriu um difícil capítulo para o novo Presidente do pequeno país africano. O Presidente cessante, Yahya Jammeh, mostrou resistência em deixar o poder e Adama Barrow, por razões de segurança, procurou refúgio no Senegal.
Foi na Embaixada da Gâmbia no Senegal que Adama Barrow tomou posse esta quinta-feira (19.01) como Presidente. Ao mesmo tempo as tropas africanas cruzavam a fronteira do Senegal ameaçando com uma intervenção militar, para obrigar Yahya Jammeh a deixar o poder.
Entretanto, as discussões dos Presidentes da Mauritânia e da Guiné, esta sexta-feira (20.01) em Banjul com Yahya Jammeh para o convencer a sair do país e a ceder o poder a Adama Barrow, ainda prosseguem, seis horas depois da expiração do ultimato de uma força da CEDEAO.
A entrada na política
Adama Barrow entrou na política depois da detenção de altos funcionários do Partido Democrático Unido terem sido detidos em julho.
Urnas de voto das eleiçoes presidenciais de dezembro.
O empresário conseguiu unir sete partidos da oposição e um candidato independente para enfrentar Yahya Jammeh, há 22 anos no poder, nas últimas eleições presidenciais.
Os gambianos deram a vitória a Barrow, que conseguiu 263.515 votos (45%) contra os 212.009 (37%) de Jammeh, pela Aliança para a Construção e Reorientação Patriótica.
Apesar de a vitória ter sido uma surpresa, o próprio Barrow parecia olhar para o futuro quando dizia à DW, antes do escrutínio, que o país precisava de uma mudança. "As infraestruturas em 1975 eram melhores do que são agora. A rede rodoviária na capital é muito má”.
Se há seis meses dificilmente alguém teria reconhecido Barrow na rua, agora a sua imagem está por todo o lado. Como Presidente da Gâmbia quer melhorar a economia do país e acabar com os abusos dos direitos humanos.
Adama Barrow também prometeu deixar a presidência em três anos para impulsionar a democracia no país.
Da Londres à Gâmbia
Adama Barrow é dono de uma agência imobiliária, desde 2006. Sem qualquer envolvimento na política chegou a apresentar-se como viciado no trabalho: "Trabalho 12,13,14 horas por dia”, disse à AFP.
Adama Barrow
Barrow viveu três anos e meio em Londres, onde estudou e foi segurança na loja Argos. Uma experiência que o faz entender a atração dos jovens gambianos pela Europa. O fraco desempenho económico e a supressão que marcaram os anos de Jammeh no poder levaram milhares de pessoas a arriscar a travessia no Mar Mediterrâneo, em busca de um futuro melhor. Em 2016, mais de 10 mil jovens fugiram do país.
Adama Barrow é um muçulmano devoto. Tem duas mulheres e cinco filhos.
A crise na Gâmbia não está a afetar Barrow apenas politicamente, mas também pessoalmente. O filho de oito anos, Habibu Barrow, morreu recentemente depois de ter sido mordido por um cão. Adama Barrow faltou ao funeral. Foi aconselhado a permanecer no Senegal por motivos de segurança.
Gambianos na Alemanha ansiosos
A situação na Gâmbia tem sido acompanhada pelos refugiados gambianos na Alemanha – estimados em 14.500. À DW, General, nome fictício, mostra-se "assustado” e confessa estar sempre a pensar no seu país e no que pode acontecer.
Redes sociais essenciais para a comunicação entre refugiados e a Gâmbia.
"Telefono ao meu irmão todos os dias quando acordo para saber se está tudo bem. E à noite pesquiso e leio notícias de lá. Às vezes nem consigo dormir, tenho de ler sobre o que está a acontecer”, afirma o refugiado de 30 anos.
Brigitta Varadinek nota que tem havido algum receio mas também otimismo. Varadinek é fundadora da Bantabaa, uma associação que dá aconselhamento legal, cursos de formação e aulas de alemão a refugiados da Gâmbia em Berlim.
Mesmo depois de Jammeh ter voltado atrás na promessa de aceitar a derrota depois das eleições, os refugiados, diz Varadinek, "permaneciam otimistas e diziam ‘agora vai ter de sair'”.
Carlos, nome fictício, saíu há três anos da Gâmbia e confessa que continua a sentir "medo até ouvir que Jammeh foi apanhado ou que se foi embora”.
Fonte: DW África