segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Opinião: NA GUINÉ BISSAU PODE-SE CONSTRUIR UM ESTADO

Sempre que no decurso de um processo com questões de quase impossível resposta, é fundamental agir em função do pensamento cartesiano (duvidar e perguntar). A nossa sociedade e suas promessas do tão bem esperado e recebido século XX, conheceu tão diversificado e dispares processos que hoje a realidade não faz nada a não ser nos afrontar com questões.

Questões do tipo, por que motivo a ONU não consegue pôr fim à guerra na Síria, se ela é a organização mais poderosa do mundo? Por que motivo um candidato e suas claras ideias como Trump consegue chegar à presidência dos Estados Unidos após os seus ferozes discursos contra os negros, gays, mulheres e africanos? Por que motivo uma nação como a França, apoiou os rebeldes na Síria e “assassinaram” Kadaffi daquela forma?
Por que motivo no Brasil se derrubou uma presidenta sem que se lhe conhecesse culpa devida? Por que motivo milhões e milhões de crianças dormem nas ruas dos países no mundo, nomeadamente Estados Unidos? Por que motivo ainda os negros têm que brigar pelos seus direitos?

Por que motivo que, de cada cinco pessoas que sofrem violência no mundo três teriam que ser mulher [vide o texto de Mia Couto no Google sobre medo]? Por que motivo as indústrias como a de armamento nunca vão à falência mesmo durante crise de 2008? Por que motivo ou, até quando teremos que lidar com a realidade do Allepo e silêncio da ONU? Por que motivo tudo está como está?
O ilustre leitor de O Democrata poderá perceber que este texto poderia ser apenas de perguntas sobre o nosso tempo e a nossa realidade objetiva. Mas as pequenas questões são para incomodar um pouco as nossas mentes e para podermos perceber que estamos cômodos ao demasiado(?).
Voltando ao título, não é que eu tenha fugido do prelúdio de texto. Podemos também perguntar agora, será a Guiné-Bissau um Estado ou, foi um projeto de Estado que se transformou numa selva da politicagem e aquilo que eu chamo de “Estado natural moderno”? Peço desculpa ao caro leitor por estar-lhe a recordar aquilo que já sabia, como por exemplo, a Guiné ser um país que nunca teve uma legislatura concluída, sem saneamento básico, sem sistema hospitalar a altura. Com a educação praticamente inexistente e taxa de analfabetismo ao teto. Onde o poder ainda pertence aos “donos da independência”, onde a classe juvenil é obstinada à marginalidade, pois o Estado nem consegue financiar o Orçamento Geral de Estado e não tem como pensar Desenvolvimento.
Podemos analisar o Estado a partir do Rousseau (Contrato Social), podemos analisar a partir do Locke, Karl Marx ou, qualquer teórico que tenha pensado a arquitetura do Estado nos moldes que aderimos e depois analisarmos se temos um Estado ou nem por isso. Estas questões e realidades sempre nos desafiam a pensar alternativa para organização da nossa sociedade. Tenho a certeza de que, existe outra forma de organização social e civil possível, mas estou longe de me atrever em dizê-la.
Eu entendo que precisamos repensar a nossa condição no mundo e ver onde estamos e se pretendemos ir a algum lugar.
Por isso entendo que é o momento de todos os segmentos sociais (camponeses, agricultores, doutores, engenheiros, bideiras, investigadores, tecnocratas, lideres religiosos e jovens universitários repensarem a Guiné) e não só em pratos limpos: Um novo CONTRATO SOCIAL (que terá que olhar, estudar, analisar de maneira crítica a nossa realidade antes de tudo).
Tudo que à Guiné precisa neste momento é duma política organizacional. Promover uma nova forma de pensar o Estado a partir das nossas próprias realidades vigentes. Mas principalmente, promover a educação de base e superior como meio que vai consubstanciar o progresso e bem-estar social.
Precisamos resinificar o sentido de Estado e da Democracia caso pretendermos manter esse modelo, pois o antro cultural guineense demonstra que precisamos adequar determinadas coisas e dispensar certas coisas advindas da democracia, como exemplo:- muitos partidos para uma população pequena, os partidos precisam reunir determinadas condições, não podemos ter partidos que vivem apenas de/e na coligação durante todo tempo, pois para estes partidos reinam sempre a máxima e lógica de quanto pior melhor.
A Guiné não é o pior território (me custa designá-la de Estado), de mundo apenas não cumpriu devidamente com os requisitos dum Estado. Embora admitamos ser um país isolado do progresso, devido ao despreparo daqueles que sempre o administraram.
Empobreceram o sentido de Estado, quebraram esperança de todos, estupidificaram erário público guineense e acabamos numa espécie de sociedade laxista (de moral frouxo). O pacto social vai ser construído com base na integração social e extensão do Estado para todos.
Precisamos construir com base nos grupos sociais um novo projeto de Estado, precisamos discutir e conversar sobre nova fórmula e possibilidades administrativa. Temos que ser corajosos para inovar, ousar e tentar fazer tudo de novo.
Um Estado que terá como pedras basilares: justiça e justiça social, integração étnica e social, garantia das liberdades, proteção dos vulneráveis, promoção de paz e bem-estar social, educação para todos, promover e criar mecanismos para efetivação da igualdade do gênero; um Estado que vai criar condições para geração de riqueza e sua equitativa redistribuição; um Estado onde será ensinado desde primeira escola, respeito pelas leis e regras políticas estabelecidas.
Construir um Estado onde as pessoas compreenderão que existem linguagens sociais, culturais, políticas e diplomatas etc. Com isto quero dizer, por exemplo- que temos que passamos de uma espécie estado de mais ou menos para um estado de fato. Estrutura a nossa sociedade para que todos possam compreender, que somos diferentes e isto não deve ser entendida como superioridade.
Investir de fato na educação em todas as regiões, tabancas, aldeias resgatar as meninas duma cultura falida (não vou entrar aqui em detalhe) e injustificável para colocá-las na escola e futuramente servir a nação tal qual aos homens. Por fim edificar uma sociedade civil sem inclinações partidárias tendenciosas.
Espero não ser um tanto utópico, o erro seria pensar que é tarde recomeçar, reorganizar a partir das bases. Se alguém achar que é tarde, peço-lhe que olhe para o Timor e tome como exemplo a nação Servia, que nasceu a partir duma derrota com a desintegração da antiga Jugoslávia.
É tempo de agir e agir como nunca aconteceu na nossa história, por isso e, para isso os jovens académicos e de centros rurais precisam construir suas próprias agendas para sua emergência nesta nova era. Sociedade civil precisa assumir o comando e não ser comandado.
Posso não ter uma resposta única para uma mudança rápida mas, a minha única certeza é que precisamos fazer algo. Por exemplo, um novo CONTRATO SOCIAL e edificação de ESTADO de verdade.
Oremos!!!

Por: Tamilton Gomes Teixeira
Estudante da UNILAB/CEARA/Brasil