Os ambientalistas guineenses afirmam que a construção da central eléctrica de Buba, na região de Quínara, no sul da Guiné-Bissau, sobretudo, no local onde está a ser erguida, prejudicará o Parque Natural das Lagoas de Cufada considerado a maior bacia da água doce do país e ao nível da Costa Ocidental.
Os ambientalistas alegam que os ruídos, dos grupos da central elétrica instalada a 30 quilómetros do parque, vão perturbar os animais e a maioria acabará por fugir do parque. A Central tem uma capacidade de 30 ‘kilowolts’ e com uma rede de 130 quilómetros capaz de cobrir todos os sectores que compõem as regiões de Quinará e Tombali.
O Parque Natura das Lagoas de Cufada situa-se no sul da Guiné-Bissau, na região administrativa de Quinará, concretamente, a Leste e sudoeste do sector de Fulacunda e noroeste do sector de Buba. Parque tem uma superfície total estimada em 89 mil hectares e 890 quilómetros quadrados. Foi criada em dezembro de 2000 por decreto 13/2000, sob a tutela do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP).
Segundo os dados disponíveis, a população residente na zona do parque é estimada em 3.534 (três mil e quinhentos e trina e quatro) habitantes, distribuídos em 33 tabancas, sendo que a maioria está concentrada na zona norte do Parque, ao longo do Rio Corubal, seguida das tabancas localizadas ao longo da estrada que liga Buba e Fulacunda.
GOVERNO NÃO FEZ ESTUDO DO IMPACTO AMBIENTAL PARA A CONSTRUÇÃO DO CENTRAL ELÉTRICA
A construção da central que se espera resolver boa parte dos problemas da energia elétrica nas regiões de Quinara e Tombali, sempre foi objeto de divergências entre os ambientalistas e autoridades regionais. Para os ambientalistas que lutam pela preservação do Parque Natural das Lagoas de Cufada, a construção da Central Elétrica naquela localidade que dista a 30 quilómetros do parque prejudicará e muito o parque que alberga a maior bacia da água doce da sub-região.
Enquanto administração local e o Governo Central insistem para que a central seja construída no mesmo local, sustentando que o espaço fora cedido para a instalação do central desde o pretérito ano 1996. A administração local que conta com a ‘bênção’ do Governo Central, decidiu de ‘unhas e dentes’ defender a instalação da central naquele local, aliás, acredita que a energia elétrica vai contribuir muito em tirar as regiões de Quinara e do Tombali do isolamento em que se encontram.
A administração local esclarece, no entanto, que o decreto que cria o parque natural de Cufada é datado do ano 2000, ou seja, quatro anos depois de o espaço ter sido cedido para a construção do central eléctrica em 1996. Acusam, todavia, os ambientalistas de se importarem apenas do seu trabalho e de proteger os animais, mas não ligam para a vida das pessoas e do desenvolvimento daquela zona.
Um dos técnicos do ambiente ouvido pelo repórter afirma que o problema não tem nada a ver com a questão do tempo da concessão do espaço para a instalação do central eléctrica ou do período da criação do parque, porque tudo já está consumado e o importante é que todos devem pautar na busca de solução, que segundo ambientalista, passa por procurar outro local para a instalação da central.
O ambientalista denuncia ainda que as autoridades guineenses não se designaram em fazer um estudo de impacto ambiental no período em que se avançava com a iniciativa da construção da central eléctrica de Buba. Defende que era importante realizar um estudo de impacto ambiental e económico antes que se avançasse com a execução da obra.
No entendimento do técnico, a ausência do estudo de impacto ambiental levou as autoridades regionais a cederem aquele espaço para a construção da central que hoje está a ser objeto de divergências entre ambientalistas e populares do sector de Buba. As informações apuradas pelo repórter de O ‘Democrata no terreno, indicam que a lei não permite a construção da infraestrutura daquela natureza no interior de uma área protegida.
O Democrata soube ainda que a coordenação do projeto de construção de central não apresentou documento algum sobre o estudo de viabilidade económica e técnica. Perante a situação, ambientalistas defendem como a solução para pôr fim às divergências que opõem as partes desavindas na cidade de Buba é a deslocação da central para outro espaço, a fim de evitar danos ambientais naquela zona que teria consequências imprevisíveis.
Ambientalista abordado por repórter, no terreno, sustenta que o coletivo que representa não está contra a instalação de uma central elétrica na região de Quinara, porque a energia é indispensável para o desenvolvimento do país, mas sublinha que cada coisa tem que estar no seu devido lugar apropriado.
MINISTRO DE ENERGIA DETERMINA QUE CENTRAL SEJA FEITA NO MESMO LOCAL
Para titular da pasta de Energia e Indústria, Florentino Mendes Pereira, o facto está consumado. Pois, é preciso pensar como é possível minimizar os efeitos ambientais que os ambientalistas estão a precaver.
“O financiamento para fazer esta obra ronda 20 milhões de dólares norte-americanos e qualquer mudança de plano ou transferência que se queira operar como alternativa, sobretudo deslocar a central para outro espaço, o governo é obrigado a pagar os prejuízos aos financiadores. Portanto, é preciso equacionar e repensar nas soluções que não afetarão muito o ambiente”, aconselha o governante.
Florentino Mendes Pereira explicou que o governo guineense está trabalhar na perspectiva de desenvolver a zona sul do país, tendo frisado que qualquer desenvolvimento económico e social passa pela eletrificação da zona.
MANÉ DIZ QUE AUTORIDADES APROVEITAM CRISE POLÍTICA PARA AVANÇAR COM OBRAS DE CENTRAL
Entretanto, o repórter contatou o diretor do Parque Natural das Lagoas de Cufada, Joãozinho Mané, para falar sobre as diligências que estão sendo tomadas pelas organizações que defendem a conservação da natureza junto das autoridades competentes para suspender os trabalhos de instalação da futura central elétrica de Buba.
Joãozinho Mané explicou que tomou o conhecimento sobre a cedência daquele espaço para a construção da central eléctrica em 2004. Contudo, segundo disse, contatou, na mesma altura, as autoridades regionais informando-lhes que não é possível construir central elétrica dentro do parque.
“A Guiné-Bissau é signatária de várias convenções e deve engajar seriamente e respeitar as convenções, enquanto uma nação dentro do contexto das nações. Quando iniciaram a limpeza do espaço onde esta ser construída a central, fomos lá falamos com os responsáveis, mas não deram ouvidos e aproveitaram a constante instabilidade política e governativa para avançar com a obra, mas estou confiante que o melhor juiz do mundo é o tempo que vai nos dizer a verdade e as pessoas ficarão a saber que queriamos para o bem-estar dos guineenses”, espelhou.
O responsável do Parque Natural das Lagoas de Cufada assegurou ainda que o desenvolvimento é planificado, mas as pessoas não perceberam quais as suas verdadeiras intensões e fizeram coisas erradamente e não querem reconhecer as suas falhas e resolveram intoxicar a população com falsas informações que os ambientalistas não querem que seja construída a central.
“A primeira coisa que deve ser feita é responsabilizar quem ordenou a construção da central elétrica no espaço do parque e a segunda coisa é que o Estado tem que ter a coragem de deslocar a central para outro espaço ou que continuem com a obra para depois assumirmos todas as consequências no futuro”, exortou.
Explicou neste particular que central elétrica não é como uma simples casa, mas sim é a combinação de máquinas que em funcionamento fará muita perturbação e consequentemente provocará a fuga dos animais da zona do parque.
Segundo ambientalista, a lagoa de Cufada é maior bacia da água doce na Guiné-Bissau e ao nível da Costa Ocidental de África e única que reforça ou recarga lençol freático em toda região de Quinara.
“Essa informação que estou a avançar é uma coisa que foi confirmada através de um estudo científico que fizemos aqui. Portanto, se as autoridades entenderem que a central eléctrica deve ser construída naquele espaço, então que façam um processo de desclassificação da zona reservada, evitando assim violar a lei que criou o Parque Natural. Estado da Guiné-Bissau criou o Parque Natural em 2000, através do decreto que foi publicado no Boletim Oficial e deve ser desclassificado também através de um decreto, como funciona um Estado de direito. Sem esse processo estarão a violar o espaço que o próprio Estado criou”, advertiu o diretor do Parque Natural das Lagoas de Cufada.
O ambientalista deixa claro que caberá às autoridades nacionais decidirem se vão ou nao acabar com o parque natural para construir a Central Elétrica.
Questionado sobre a reivindicação dos populares do sector de Buba que alegam que os ambientalistas se preocupam mais com os animais e deixam as pessoas a sofrerem, Joãozinho Mané explicou que os populares de Buba foram intoxicados com más informações. Sublinha, neste particular, que para a construção de uma central eléctrica é preciso fazer estudo de impacto ambiental para melhor ter conhecimento se o espaço é adequado para sua instalação ou não.
O repórter ouviu igualmente os populares que reclamam a conclusão da obra. A população local diz discordar de uma eventual iniciativa de mudança de planos e ameaça sair à rua caso a obra for deslocada para outro espaço.
Aladje Sadjo Camará, um dos habitantes do sector Buba, que falou em nome da população local, pediu ao Governo Central, através do ministro da Energia e Indústria, para não deslocarem a Central Elétrica do espaço onde está ser construída. Frisou que o sul sempre foi desprezado e agora que conseguiu um projecto daquela envergadura com a ajuda de Deus que facilitará o desenvolvimento do sul, então não permitirão que ninguém lhes prejudique em nome de outros interesses.
“O espaço onde está ser construída a Central elétrica, era horta [quinta] de caju que pertencia a algumas pessoas e foi destruída para permitir a construção da instalação da central eléctrica e na altura toda gente estava presente, porque que só agora na última fase da construção que a central vai ser deslocada para outro espaço”, questionou o porta-voz dos populares.
De referir que o Parque Natural das Lagoas de Cufada é constituído pelas lagoas de Biorna, Bedasse e a própria Cufada. Ele alberga a maior lagoa de água doce do país e ao nível da sub-região. Parque Natural de Cufada é tido como um meio muito favorável à sobrevivência tanto da fauna como da flora, servindo de fonte de abastecimento de lenções freáticos da zona, assim como da nutrição para a diversidade biológica existente.
Razão pela qual, periodicamente recebe grandes números de aves aquáticas, tanto autóctones com migradoras, algumas com estatutos de animais protegidos de importância internacional. A zona é também importante para fauna selvagem, sobretudo na época seca, na qual é rica em antílopes, com presença de Hipopótamos, crocodilos e Pis-bus, principalmente na época das chuvas.
O objetivo da criação do parque é a conservação e manutenção de ecossistemas, espécies animais e vegetais ameaçados.
Por: Aguinaldo Ampa