Há pouco menos de seis meses, milhares de africanos e afrodescendentes saíram às principais cidades e ruas francesas e outras cidades capitais africanas - sobretudo da África francófona - para, em júbilo, com a vitória do candidato Emmanuel Macron nas presidenciais gaulesas.
Em 2008, outrossim, milhões de africanos e afrodescendentes comemoraram , em êxtase, a escolha do Mr. Barack Obama - primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América.
No entanto, em 2011, com o advento da "Primavera Árabe", cujo propósito era, entre outros, lutar contra os regimes "ditatoriais" nos mais importantes países árabes: Síria, Egito, Tunísia, Algeria, Iemem, Líbia, etc...
O presidente Barack Obama e o seu, então, aliado francês, presidente Nicola Sarkozy tiveram papel propendente na queda do regime líbio - com o assassinato do coronel Khadafi..."erro" que viria a ser reconhecido pelo próprio presidente norte-americano em face à persistência da instabilidade no "mundo árabe"...
Em nome dos valores humanitários, na sequência e em consequência da "Primavera Árabe", milhões de refugiados provenientes dos países árabes, em litígio, foram acolhidos em alguns países europeus.
Por outro lado, os milhões africanos "negros" oriundos, sobretudo, da África ocidental continuam abandonados à sua própria sorte nos mares do mediterrâneo...
A França, através da sua moeda (FCFA - Franco da Comunidade Financeira Africana), quer na UEMOA - África de Oeste, quer na SEMAC - África Central, continua a ter o "monopólio" do sistema financeiro nestas regiões, uma vez que cerca de 70 por cento do segmento sistema é controlado por três bancos franceses ...
O actual presidente francês, personalidade da nossa geração e com "apenas" 39 anos de idade, o que, a priori, esperava-se que devia e/ou podia cultivar um discurso menos "colonialista" ou menos "fascista" para não chama-lo de "xenófobo" que, efectivamente, pudesse contribuir para baixar a "tensão" e o "medo" que reina no seio da sociedade francesa e europeia, em relação ao terrorismo que tem assolado o povo francês e não só...
O presidente francês terá "esquecido" que aquele povo africano que ele chama de "pouco civilizado e com problema central de alta taxa de natalidade" é o mesmo povo que, por sinal, contribui para que "la republique France" pudesse orgulhar-se do seu símbolo: "Liberte, Fraternite et Igalite"...
Terá o "Monsieur president" esquecido que a alta taxa de natalidade africana tem, paradoxalmente, contribuído com a mão-de-obra "qualificada ou não" à favor da economia francesa...um fenómeno economico e social tão visível e notório, inclusivamente, no desporto através de principais seleções de futebol francesas...
Por exemplo:
Um jovem francês de origem maliana - sobrenome - Bathily - serviu-se de "escudo" humano para salvar famílias francesas contra o atentado terrorista, há menos de três anos, salvo erro...Ele que é, também, fruto da alta taxa de natalidade africana...engraçado...!
Este discurso "egocêntrico" do "Monsieur President Macron" é, ao meu ver, disproporcional e discabido, nos dias actuais, em face aos problemas de terrorismo, problemas ambientais, emigração, crises económica e financeira, etc...que o nosso mundo enfrenta...
Partindo do princípio que vivemos num mundo como ele é, ou seja, o nosso mundo não é perfeito e nem podia o ser...considerando que vivemos na era da informação. Não obstante, o "racismo reverso" ainda prevalecer no qual o "racista" faz-se de vítima perante o vitimado...por isso continuamos a escutar este tipo de discurso sobre o continente "negro", como este do "Monsieur President" francês...um discurso típico de um "Colonialismo pós colonial"...convenhamos...!
Uma espécie de "Camisa de Força" a jovens nova geração de africanos...que estão, cada vez mais conectados numa rede que o mundo chama de - TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação... Por conseguinte, haver vamos se, os jovens africanos, aceitarão pacificamente usar esta "Camisa de Força" que nos é "oferecida" pelo "Monsieur president Macron" em particular, e pelo Ocidente, em geral...
Minha modesta opinião!
Santos Fernandes
Ziguinchor, 16 de Julho de 2017.
"Semana da independência da França".