domingo, 16 de julho de 2017

Mister Baciro Candé:”NENHUM TREINADOR LEVA UM CAPITÃO A UMA COMPETIÇÃO SEM PÔ-LO JOGAR”

[ENTREVISTA] O selecionador nacional de futebol, Baciro Candé, disse numa entrevista ao semanário ‘O Democrata’ que nenhum treinador pegaria num jogador, num capitão de equipa e o levasse para uma alta competição e não pô-lo a jogar nem um minuto, que as pessoas pensassem bem sobre isso. “Não é momento oportuno para falar sobre isso…”, rematou. Candé respondia assim à questão sobre a não utilização de Bocundji Cá, se tinha a ver com uma opção técnica ou foi uma encomenda da direção da Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), conforme informações que circularam no país.
 
Sobre o assunto diz que no momento não podia responder, mas garantiu que haveria de chegar dia, ou seja, o momento oportuno para responder ou debruçar-se sobre esse assunto, de formas a esclarecer a opinião pública nacional.
 
Mister Candé considerou de ‘ímpar’ a geração dos jogadores – “Djurtus” que qualificaram o país, pela primeira vez na sua história, à uma Copa das Nações Africanas em Futebol, CAN’2017, realizada no Gabão de janeiro a fevereiro deste ano.
 
Candé respondeu várias perguntas feitas pelos repórteres do Jornal O Democrata para a rúbrica ‘Grande Entrevista’, tendo abordado o assunto da participação inédita do país na fase final do CAN. Candé garantiu, ainda durante a entrevista, que nunca Catió Baldé influenciou a equipa técnica dos ‘Djurtus’, mesmo tendo alguns jogadores que representa na seleção. Acrescentou neste particular que Francisco Santos Júnior (Santos) foi a única novidade, depois da chegada de Baldé como Diretor-Executivo da seleção guineense, questionando sobre como as pessoas dizem que houve interferências do empresário de futebol nas suas escolhas, para de seguida dizer que ninguém o empurra!
 
Jornal O Democrata (OD): Como é que se sente, por ser o primeiro guineense a qualificar a seleção nacional de futebol numa competição internacional, sobretudo no Campeonato Africano das Nações?
 
Baciro Candé (BC): Em primeiro lugar, sinto uma grande satisfação e um orgulho enorme em ser o primeiro guineense a conseguir tal proeza. Acreditemos ou não, a Guiné-Bissau tem grandes valores, não somente eu. Temos grandes técnicos, só deparamos com falta de oportunidades. Se tivermos oportunidades, acredito que temos potencialidades para chegar mais longe.
 
OD: Agora há quantidade de jogadores disponíveis para representarem os ‘Djurtus’. Já é altura de dar qualidade a seleção?
 
BC: Sim. A Guiné-Bissau sempre teve grandes valores, jogadores de renomes e com grande respeito. O exemplo disso é a presença de muitos jogadores guineenses que militam nas camadas jovens da seleção portuguesa até aos seriares. Isso significa que temos grandes valores, tanto na diáspora como aqui no país, mas os valores internos só precisam ser lapidados. Temos matéria-prima.
 
A ida da Guiné-Bissau ao CAN’2017 abriu o caminho e o patamar para que os nossos praticantes sejam conhecidos. O que nos falta na Guiné-Bissau é a organização, mas estamos a reparar que o nível da organização está a subir paulatinamente. Com a organização, penso que todos os intervenientes que militam no estrangeiro estarão disponíveis para representar o país com orgulho!
 
OD: Fala-se que há portugueses que se disponibilizaram para representar a Guiné-Bissau. Para si como selecionador, o que é que isso significa?
 
BC: É um grande orgulho para mim, porque isto demonstra que a Guiné-Bissau está num bom caminho em termos desportivos, isto me orgulha bastante como líder da seleção nacional. Todos os guineenses estão de parabéns, porque não sou eu, nem a minha equipa técnica e nem a Federação de Futebol da Guiné-Bissau, mas sim todos os guineenses se mobilizaram para que conseguissemos chegar ao CAN. Penso que isso é um orgulho e um prazer enorme ver a forma como se fala agora da Guiné-Bissau no mundo fora. A Guiné-Bissau está aberta para qualquer pessoa que queira ajudar, estaremos abertos ao diálogo.
 
OD: Como é que o Mister Candé classificaria esta seleção que levou o país ao CAN, em quatro frases?
 
BC: Em poucas palavras, digo que esta seleção deu a segunda independência ao país. Estes jogadores e os intervenientes merecem todo o respeito dos guineenses e todos amantes da Guiné. Em suma, o que fizeram é ímpar! É ímpar! Não tenho outras palavras para descrever o feito desta geração de futebolistas.
 
OD: Não acha que merece uma Estátua?
 
BC: O que peço ao povo da Guiné-Bissau é que me respeitem.
 
OD: Sente que o governo está dar-lhe o valor que merece?
 
BC: Sinto que ainda não chegamos onde merecemos, pois não estou sozinho. Ainda não chegamos onde é necessário. Penso eu que, com um pouco de respeito, se dignificarmos o que é nosso, poderemos fazer muito mais. O que é importante neste momento é o reconhecimento. Nós da equipa técnica, não esperamos que, quando vimos à seleção, é para que sejamos reconhecidos, não. Mas a juventude que está a nossa volta merece outro tratamento, merece ser respeitado e merece um reconhecimento para que possa ter força anímica e poder dar mais e melhor.
 
OD: Sente que esta seleção está em condições de estar novamente no CAN, depois da primeira vitória em casa frente a Namíbia?
 
BC: Sim, nós estamos preparados para isso. O nosso objetivo principal é chegar ao CAN’2019 nos Camarões. Não passa da cabeça de ninguém de que não vamos estar nos Camarões. O meu objetivo pessoal e de toda a equipa técnica, é chegar o CAN’2019. E vamos fazer tudo para chegarmos ao CAN.
 
OD: Tem noção do dinheiro que está a trazer para o país? As pessoas podem investir no país, assim como os jogadores se valorizaram. Exemplo disso são as transferências para clubes das primeiras ligas europeias onde vão ganhar dinheiro e este dinheiro vai converter-se para o país…
 
BC: Nós estamos a fazer marketing para o país, sei disso porque fui jogador profissional. O que a Guiné-Bissau está a fazer neste momento a nível da seleção é salutar. A prova disso é o leque de futebolistas que estão sendo transferidos. Isso é fruto da nossa ida ao CAN. Se por ventura conseguirmos aquilo que traçamos, que é a ida ao CAN’2019, os nossos jogadores vão se valorizar ainda mais.
 
OD: A seleção nacional é favorita no grupo K de qualificação para o CAN’2019?
 
BC: Nunca a Guiné-Bissau é favorita, nós começamos do nada! Estamos ainda a engatinhar. Estamos a procura de uma consolidação da nossa seleção. Indo ao CAN, claro que é uma responsabilidade acrescida! Podem não valorizar o nosso trabalho cá dentro, mas as pessoas lá fora valorizam-nos.
 
OD: A equipa técnica convoca apenas um jogador que milita no campeonato nacional e o resto dos convocados são os que jogam no estrangeiro. Mister Candé, isso deve-se ao nível baixo do campeonato nacional ou uma estratégia da equipa técnica?
 
BC: Já respondeu a pergunta! Qual é o nível do nosso campeonato? As pessoas não pensam. Na fase preliminar do CAN’2017, não havia campeonato nacional, tivemos uma época parada. E como é que iriamos pegar num jogar super-amador, super-amador mesmo para jogar numa alta competição com exigências?
 
OD: Há um leque de futebolistas jovens que manifestaram suas disponibilidades de jogar pela seleção nacional. Será que a equipa técnica que Mister Candé lidera está preparada para lidar com esta situação?
 
BC: É bom e salutar! Só recuando um pouco, quando fui escolhido para ser selecionador nacional de futebol, há uma rádio da capital Bissau, cujo nome não vou mencionar, que dizia que eu, Baciro Candé, não tinha competência para estar a frente dos ‘Djurtus’ e que alguns jogadores da selecção nacional ultrapassaram a minha competência! E aceitamos o desafio, depois de dois ou três meses chegamos ao CAN, onde fizemos um trabalho brilhante.
 
Ainda bem recentemente a mesma rádio voltou a carga nas vésperas do jogo com a Namíbia, tendo dito outra vez que eu não tenho condições, ou seja, os jogadores ultrapassam-me e que eu não podia enfrentar aqueles jogadores. Pergunto: quem convoca os jogadores? É o Mister Candé, o selecionador! Se não tenho condições para lidar com esses futebolistas, como é que serei capaz de convocá-los?
 
Eu estou preparado e sou treinador profissional, não treinei apenas na Guiné-Bissau. Já treinei na Europa. É bom termos muitos jogadores disponíveis para termos mais possibilidades de escolha.
 
OD: Como é que conseguiram dar numa boa dupla, você e Romão dos Santos, saindo na altura de dois clubes rivais?
 
BC: O que importa é a Guiné-Bissau. Por isso, quando fui solicitado para assumir a seleção nacional, fui logo a casa do Mister Romão pedi-lo para se juntar a mim na seleção de futebol, onde decidi associar o útil ao agradável, trazendo para a equipa técnica o adjunto de Romão e ao mesmo tempo preparador físico que é Luís Mango (Dutur), um excelente jovem e excelente profissional.
A experiência que eu adquiri e o nível de formação que tenho, acho que não vale a pena entrar nos esquisitos. O mais importante é que o treinador vive de resultados, o objetivo era único classificar a Guiné-Bissau para o CAN’2017.
 
OD: A não utilização de Bocundji Cá é meramente opção técnica ou foi uma encomenda da direção da FFGB, que obrigou Mister Candé a não utilizar o Capitão dos ‘Djurtus’?
 
BC: Não sei… nem sei responder a esta pergunta. A idade que eu tenho neste momento, ninguém me empurra! Ninguém! Não sei, se repararem bem, desde que chegamos do Gabão nenhum de nós falou a respeito. Houve muitas turbulências com ameaças de conferências de imprensa, mas que nunca chegou de acontecer. E estamos a espera. Não há nenhum treinador que pega num jogador, num capitão de equipa e leva-o para uma alta competição e não o põe a jogar nem um minuto, por favor pensem bem! Não é momento oportuno para falar sobre isso…
 
OD: Aconteceu alguma coisa?
 
BC: Neste momento não posso responder, mas há-de chegar um dia, ou seja, momento oportuno para responder a esta pergunta!
 
OD: Marcelo Djaló poderá reforçar no futuro a barra defensiva da nossa seleção?
 
BC: Conheço o Marcelo Djaló, pessoalmente, mas sobre se poderá ou não reforçar a seleção, dependerá do momento.
 
OD: A equipa técnica não pensa em provocar a chamada do jovem polivalente franco-guineense, Dayot Upamecano para a seleção guineense?
 
BC: Há muitos jogadores com grandes potenciais que jogam na Inglaterra, na Alemanha, na Bélgica, Holanda e Espanha, já falei pessoalmente com eles, faltando apenas receber um ‘Okay’ da parte deles. Mas como já tinha dito, os jogadores que estão a representar a Guiné-Bissau hoje são jogadores de grande gabarito, sem menosprezar seja quem for, assim como o país está aberto para receber quem estiver nas devidas condições de representar a seleção nacional. Não é como dantes! No futuro quem estiver em condição de representar o país é que vai jogar nos ‘Djurtus’.
 
OD: Como está o processo de Cafú e Edgar Ié?
 
BC: Estamos à espera das respostas dos jogadores. Como disse, falei com muitos. Tudo depende da disponibilidade dos jogadores contatados.
 
OD: Diz-se que Catió Baldé é o agente da maior parte dos jogadores da seleção nacional, isso explica a sua influência nas opções técnicas?
 
BC: Não, não, eu desconheço isso. Não sei como é que classificam isto. Pensem bem, antes da chegada de Catió Baldé, a maioria dos jogadores já fazia parte da seleção. Apenas o Francisco Santos Júnior é que veio depois, ou seja, ele é o único que não fazia parte dos jogadores com os quais apuramos o país ao CAN’2017. Quem é que veio de novo além de Santos? O que é que Catió Baldé tem a ver com isso? Os jogadores que pertencem ao Catió já faziam parte da fase preliminar para o CAN’2017.
 
OD: Como é que Mister Candé classifica a decisão de Idrissa Camará (Computador)?
 
BC: Cada um é livre de escolher ou de decidir. Ele é livre!
OD: A situação judicial da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, não pode refletir-se na seleção?
 
BC: Não! Eu não penso muito nisso, porque considero que os nossos trabalhos são totalmente diferentes. Mas admitimos que perturba, porque a federação tem que estar saudável para que possa responder às necessidades da seleção e também exigir resultados ao departamento técnico da FFGB. Mas temos que estar preparados para tudo.
 
OD: Há jogadores que reclamam a chamada à seleção e consideram que foram prejudicados pela equipa técnica que lidera. Tem algum comentário sobre isso?
 
BC: Vivi em Portugal 35 anos, fui jogador modesto sempre na primeira divisão e depois decidi abraçar o curso de treinador. Sou treinador profissional com 4.º (Quarto) Nível UEFA PRO, o último nível de formação. Treinei na Europa e fiz história, não é só na Guiné-Bissau, nunca houve um jogador a vir a público dizer que a seleção o prejudicou. Seleção não é uma equipa, mas sim é onde se reúnem os melhores de um país. É como vida militar.
 
Na era do Norton de Matos e do Paulo Torres, ninguém tinha reclamado a sua não chamada à seleção, porquê agora? Por que sou guineense, não sou branco! Se nós fossemos brancos seriamos respeitados e não estaríamos como estamos, pela contribuição que damos pelo país. Merecemos um pouco de respeito, assim como os nossos familiares merecem respeito e consideração. Porque não fiz para mim, mas sim fiz tudo para a Guiné-Bissau e continuo a fazê-lo!
 
Os jogadores pertencem aos clubes, são os clubes que os pagam, por isso, quando não forem chamados para seleção, que respeitem os seus colegas, porque amanhã ele pode ser chamado e seu colega ficar também de fora. É assim que se constrói um balneário! A seleção não contrata jogadores, mas sim são os clubes que contratam os atletas.
 
OD: Há situações que sempre norteiam a seleção, desde atraso nos pagamentos de prémios às dificuldades nas viagens. Como é que consegue gerir isso psicologicamente para pôr os jogadores a jogar?
 
BC: É verdade, duma parte é um trabalho que eu faço de uma forma árdua, porque estes jogadores todos não me tratam como um treinador, mas sim como um pai. Falo frontalmente com todos, nunca discriminei ninguém, coloco-os na mesma posição. Nunca os faltei ao respeito. Todos eles me escutam, discuto com eles e peço suas opiniões, porque eles é que são os intervenientes, e eu estou aqui apenas para tentar moldar, tentar dar rumo ao acontecimento. Na verdade é difícil, mas nós estamos preparados para essas dificuldades e acima de tudo temos que ser pedagogos, o que fiz sempre, falar com os jogadores direta ou indiretamente, individual ou coletivamente, sempre para tentar levantar o moral.
 
OD: Pode-nos lembrar aqui, a mensagem que transmitiu aos jogadores no balneário momento antes do jogo com a selecção do Gabão, país anfitrião?
 
BC: Prepararei os meus jogadores antes do CAN’2017. Estávamos todos reunidos no balneário e na altura disse aos jogadores: Temos um grande grupo de trabalho, um grupo com cabeça, tronco e membros, um grupo valente. E depois de entrarmos no campo para reconhecer o relvado e na saída, disse aos meus jogadores: Chegou a hora de libertarmos a Guiné-Bissau pela segunda vez, no aspeto desportivo. Pensar o país em primeiro lugar, pensar em nós. Ainda pedi-lhes para esquecerem de tudo e pensar apenas no jogo, porque o futuro das outras gerações de futebolistas guineenses dependerá daquilo que vão demonstrar no CAN. Repliquei ainda que era aí que iriam começar os bons resultados, o nosso respeito começaria alí e o futuro do país e das gerações que ainda não nasceram, dependia deles!
 
Em suma, disselhes: joguem pelo país. Em resposta disseram-me, Mister podes ficar descansado. Não vamos perder este jogo. E a promessa dos rapazes cumpriu-se, pois deram tudo e empatamos o jogo, durante 90+3 minutos da partida frente a seleção do Gabão. Estivemos a perder, mas a equipa não vacilou em nenhum momento. O Gabão não criou nenhuma oportunidade de golo até o lance infeliz que deu no autogolo, mas Deus o ditou assim. Mesmo assim o grupo não perdeu a força anímica e não perdeu a sua organização em nenhum momento até marcamos o golo de empate com todo mérito!
 
OD: Há vozes que apontam a falta de experiência como fator que impossibilitou os ‘Djurtus’ de chegar mais longe no CAN’2017. Concorda?
 
BC: São duas coisas que faltaram a nossa seleção, primeiramente, aponto a maturidade e de seguida a competitividade. Nós fomos a única seleção no CAN’2017 que não realizou nenhum jogo de preparação, nem um jogo de preparação!
 
OD: No jogo frente a seleção de Camarões, parece que os jogadores nacionais entraram em campo com aquele espirito de que mesmo se perderem, já deram o suficiente. Tem algum comentário a respeito?
 
BC: Não estou de acordo com essa afirmação. Nós fizemos tudo para ganhar o jogo, não sei se reparam que neste segundo jogo com os camaroneses mexi na equipa. Entrou o Piqueti Djassi e Frédéric Mendy, só ficou Toni Brito Silva nas alas em relação a partida de estreia. Nós estivemos a ganhar até aos 67 minutos, e quando nós da equipa técnica íamos decidir mexer na equipa para estancar o jogo e na altura aleijou-se uma das alas, neste caso Piqueti. Fui forçado a fazer uma substituição. Tínhamos que colmatar essa baixa na ala esquerda. Passados cinco minutos, o Toni se lesionou e outra vez fui obrigado a mexer forçosamente na equipa. Estava a preparar a entrada de um meio-campo para estancar o centro do terreno do jogo, porque a equipa dos Camarões fez todo tipo de jogo que não resultou em nada. Dali decidiu fazer jogo direto. Ainda depois da lesão de Toni, na altura em que preparávamos para fazer mexida para colocar no campo um defesa-central para passarmos a jogar com três centrais, aconteceu de novo uma lesão do Frédéric Mendy.
 
Todas as substituições que fiz, fui obrigado a fazê-las devido às lesões. Foi a razão de ter aquele desequilíbrio no jogo. Não sei se repararam que os dois golos que sofremos, ambos são de ressaca. Não havia um jogador na primeira linha da nossa zona defensiva que pudesse responder às investidas físicas dos camaroneses que começaram logo no início do jogo a desgastar os nossos atletas fisicamente, com entradas duras. O desgaste era maior e a intensidade do jogo era enorme. E nós não estamos habituados as pancadas, o nosso futebol é pegar a bola e jogá-la, fazendo-a circular.
 
OD: A seleção nacional já ganhou experiência para as futuras competições?
 
BC: Sim, agora temos muitos jogadores polivalentes que fazem várias posições no campo.
 
OD: A equipa técnica já está a estudar a seleção moçambicana, o próximo adversário dos ‘Djurtus’?
 
BC: Já vi o jogo deles, mas neste momento isto não importa, o mais importante são os primeiros 15 minutos do jogo, onde se analisa como é que o adversário evolui no campo e como faz a circulação da bola e como se movimenta com e sem bola.
 
OD: É imperativo ganhar Moçambique de Abel Xavier, em Maputo?
 
BC: Esta é nossa obrigação, em outras palavras o nosso dever é ganhá-los lá para que possamos ficar mais confortáveis na nossa caminhada rumo ao CAN’2019, porque temos duas saídas, vamos à Zâmbia. Acredito no grupo de trabalho que tenho, um grupo muito forte e valoroso e estamos muito motivados e moralizados para lutar pelos resultados que queremos.
 
OD: Há quem diga que a seleção guineense tem a mesma caneta com a portuguesa em termos de contagens para garantir apuramentos. Que comentário faz?
 
BC: Não, nós nunca fazemos isso, sobretudo na minha era, mesmo na qualificação não aconteceu, assim como no CAN’2017. Se lembrarem bem, até o último jogo do CAN no grupo da Guiné-Bissau, quem ganhasse seu jogo passava para a fase seguinte da prova. Nós, com três jogos passamos logo para o primeiro lugar do nosso grupo, quando assumimos a seleção. Nunca tivemos a caneta portuguesa!
 
OD: É para quando os dois jogos amistosos, com Gabão e Irão?
 
BC: Serão para o próximo mês [agosto] e setembro. A federação de futebol está a tratar disso.
 
OD: Há uma curiosidade na Guiné-Bissau. O país está tão mal, mas a seleção de futebol está a fazer aquilo que muitos países organizados não conseguem fazer. Isso tem alguma explicação da vossa parte?
 
BC: Para mim, são duas coisas totalmente distintas. O desporto e a política ativa são coisas opostas, nós fazemos o que temos que fazer e outra parte faz também aquilo que tem que fazer, juntando útil ao agradável. Agora se uma parte não estiver em condições, nós não podemos perder tempo. Fazer melhor para o país e foi o que fizemos e mobilizamos todo país. Vi uma coisa que nunca tinha visto na passagem do CAN, apesar da idade que já tenho, mesmo na política ativa isso não aconteceu ainda, vendo a Guiné-Bissau toda a mobilizar-se em volta da seleção. Isto significa que o país é a seleção nacional e a seleção nacional é o país, por isso, não queremos misturar estas duas coisas distintas, durante as competições esquecemos a política ativa. Faz parte da vida, mas vamos esquecer.
 
OD: Se Mister Candé fosse solicitado para dar seu parecer sobre a disponibilidade do jovem guarda-redes português de 23 anos de idade que disponibilizou-se para jogar pelos ‘Djurtus’, qual seria a sua opinião, Sim ou Não?
 
BC: Neste momento, não estou disposto a responder, só tenho a dizer que há muitos jogadores guineenses disponíveis para representar a seleção. Até o guarda-redes, desde as camadas de formação aos seniores. Mas se ele disponibilizar-se, nunca diria que não, apenas temos outras prioridades neste momento.
 
OD: Como Mister acompanha a prestação dos atletas guineenses?
 
BC: Bem! Tenho acompanhado, pois vou a Europa periodicamente e sempre faço questão de ir ao clube e as residências dos jogadores, falo diretamente com eles, dando-lhes incentivo moral. Como ouviram Pelé publicamente confessar o meu engajamento para com eles. Isso tudo mexe com cabeça deles. Eu fui até casa do Pelé, fui ao Benfica e Feirense, onde ele está e isso tudo é para dá-lhe aquele calor humano, para que ele sinta que a Guiné-Bissau está com ele. Não o Candé, mas o país é que está com ele!
 
OD: Ricardo Vaz Té é uma das possibilidades para reforçar o ataque dos ‘Djurtus?
 
BC: Todos os filhos da Guiné são possibilidades para reforçar a nossa seleção nacional de futebol. Claro que Vaz Té é um dos jogadores que está na nossa manga, falei com ele ao telefone e falei com o irmão que gere a sua carreira. Pedi que viesse representar as cores nacionais. Todos os guineenses têm essa possibilidade vir a seleção!
 
OD: Bruma jogará pela seleção da Guiné-Bissau, pois além de Portugal a Turquia está na corrida para atribui-lhe a nacionalidade. Assim ele jogaria para a seleção turca. Isso pode acontecer, Bruma na Turquia?
 
BC: Bruma nunca jogará na seleção turca. Bruma, se não jogar para a seleção portuguesa, jogará para a seleção da Guiné-Bissau. Vamos tentar Bruma e até a última hora no sentido de vir representar as cores da Pátria de Amílcar Lopes Cabral.
 
 
Por: António Nhaga/Alcene Sidibé e Sene Camará
Foto: SC