segunda-feira, 6 de abril de 2015

O PODER DA MÚSICA PROIBIDA

Segunda-feira à noite, Camden Town. Um rapaz dirige-se para o palco, onde centenas de pessoas enchem uma pequena sala. «Hoje é o melhor dia da nossa história», diz, «porque o nosso primeiro álbum é publicado». Um lugar comum? Nem por isso. As extraordinárias circunstâncias que rodeiam a banda «Songhoy Blues» dotam a frase de outro significado. É um momento especial, este que vive a banda de quatro jovens na casa dos vinte anos do norte do Mali. 
 
Music in exile é o nome do álbum desta recente banda, e resume um pouco a sua história. Por entre caminhos atribulados e com vários obstáculos, estes jovens enchem hoje salas com o seu groove e um estilo muito característico.
 
A história dos Songhoy Blues começa nas ruas empoeiradas de Diré, uma aldeia junto ao rio Níger, perto de Timbuktu. Ali se divertiam a tocar guitarra acústica, cada um para seu lado. Partilham todos o mesmo apelido, Touré, mas não têm qualquer laço familiar, nem tão pouco com Ali Farka Touré, uma lenda da guitarra malinense.
 
«Escutávamos a música que os artistas da nossa terra faziam, a música tradicional», explicou French Garba, o guitarrista da banda, num hotel modesto no norte de Londres depois do último concerto, em fevereiro passado. No entanto, «também ouvimos música moderna, já que somos da geração da internet, do mundo aberto, e por isso bebemos destas duas fontes». De acordo com o artista «é importante manter as recordações do passado, quando tocávamos cada um no seu canto e vivíamos a música tranquilamente nas nossas casas».
 
Tudo mudou na primavera de 2012, quando os jihadistas armados assumiram o controlo do norte do Mali. «A música foi imediatamente proibida», conta Garba. Quem tocava ou ouvia podia enfrentar várias torturas ou mesmo ir preso. Por isso, decidiu fugir com milhares de refugiados e entrou num autocarro com destino a Bamako. «A vida sem música não é possível. O Homem e a música têm de estar juntos», disse.
 
Quando chegou a Bamako, o único som que ouvia era o das armas. No entanto, lá estudava na universidade e conheceu outros músicos. «Havia muitos deslocados no norte. Falavam sobre o que tinham deixado para trás em casa, e então decidimos formar uma banda para recriar esse ambiente e para tentar aliviar o sofrimento do nosso povo. As nossas letras falam de paz e reconciliação», explicou o músico.
 
O nome Songhoy Blues reúne duas homenagens. Uma delas ao povo de Songhai, que dominava o Sahel Ocidental nos séculos XV e XVI e a que pertencem três membros. E outra ao blues, música que tem as suas raízes no norte do Mali e cuja reinvenção protagonizada pelo outro lado do Atlântico fascinou os músicos.
 
 A banda rapidamente ganhou espaço no circuito local de Bamako. Os seus ritmos dançantes e os riffs insistentes conseguiram reunir pessoas de todo o país, incluindo alguns inimigos históricos. «A música é uma droga. Torna as pessoas saudáveis e cura a saudade», sublinhou Garba.
 
 O reconhecimento internacional surgiu quando Marc-Antoine Moreau, um caça-talentos francês, procurava novos talentos para o projeto Africa Express e deu de caras com algumas músicas da banda maliana, que depressa o conquistou. «Foi o início de uma bela história», recorda a banda. Fonte: Aqui