A falta de água está a matar, lentamente, o campo hortícola de Zinhalikunda que pertence a Cooperativa Lâmpada de Campo do Sector de São Domingos, região de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau. Esta situação afectou directamente a produção hortícola de 326 agricultores entre homens e mulheres que inicialmente trabalhavam naquele campo.
A escassez da água para a irrigação do campo é a razão da desistência de um número significativo de horticultores, em continuar a trabalhar no mesmo campo. Actualmente apenas uma centena de camponeses é que continuam a praticar actividades hortícolas naquela zona.
Uma equipa de reportagem do seminário “O Democrata” visitou este fim-de-semana o campo hortícola de Zinhalikunda, onde constatou o sofrimento dos horticultores que estão numa situação de desespero total, vendo as suas produções a estragar.
A organização de horticultores “Cooperativa Lâmpada de Campo” foi criada desde o pretérito ano 2003, por iniciativa do falecido Carlos Silva Schwartz (Pipito), então Secretário Executivo da ONG Acção para o Desenvolvimento (AD). A iniciativa reuniu onze (11) associações de diferentes vilas do Sector de São-Domigos, com o intuito de organizá-las de forma a poderem contribuir através das suas actividades, no combate à pobreza rural.
HORTICULTORES CULTIVAM NUM CAMPO DE OITO HECTARES, USANDO TÉCNICAS TRADICIONAIS E SEM MEIOS
Os horticultores de Zinhalikunda dispõem de dois campos agrícolas, dos quais um é destinado para a produção hortícola e outro para a produção de arroz. O campo hortícola tem 15 hectares, mas devido às tremendas dificuldades, desde a vedação do campo à falta do meios de trabalho, apenas oito hectares foram trabalhados.
O segundo campo destinado para a produção de arroz tem uma área de 80 hectares. Apesar dos esforços feitos no trabalho, a cooperativa dispõe de um moto-carro que serve como meio de transporte para os agricultores bem como transportar os produtos e materiais.
Os horticultores mostram-se muito revoltados devido à falta de apoios da parte das autoridades para poderem ultrapassar a situação da falta de água e de meios para a vedação do campo. Essa situação fez com que muitos horticultores desistissem e resolveram fazer outras actividades.
Outra dificuldade que os camponeses manifestaram à nossa reportagem tem a ver com a falta de uma vedação moderna, razão pela qual o campo é “assaltado” pelos animais no período da noite, sobretudo os gados que transforma o campo hortícola num autêntico coral e estragando assim toda a produção feita.
Os horticultores informaram ainda que cansaram de pedir o apoio para a vedação do campo, no entanto realçaram que pelo menos se conseguiram o apoio para a vedação do campo e podem continuar a lutar com a questão da água no poço que fizeram.
Coordenador da Cooperativa Lâmpada de Campo, Indjai Dabó explicou na entrevista ao repórter que a produção no campo hortícola e feita por agrupamento de homens e mulheres, onde cada qual ocupa de um determinado trabalho.
Informou por um lado que os homens dedicam-se exclusivamente das produções de mancarra, mandioca, nhambe, batata doce, entre outros. Enquanto as mulheres, por outro lado, consagram nas produções das cebolas, tomates, alface e cenoura.
Relativamente a quantidade da produção dos produtos feitos, Indjai Dabó não consegue explicar a quantidade cultivada e explorada desde o janeiro e até o mês em curso devido as dificuldades que não mencionou. Contudo, lembrou que no ano passado (2015) só a produção de cebola foi estimado em mais de quatro (4) toneladas.
CAMPONES DE ‘NHAMBALAM’ PEDEM MEIOS PARA PRODUZIR TRINTA TONELADAS DE ARROZ
Os produtores conseguiram no ano passado (2015) produzir duas toneladas de arroz na bolanha de “Nhambalam”. Os camponeses afirmaram ao repórter do “O Democrata” que se tiveram meios técnicos e materiais de trabalho, desde o moto cultivadores e tractores agrícolas podem produzir 30 toneladas de arroz.
Indjai Dabó disse que a sua cooperativa decidiu apostar seriamente na diversificação dos produtos, por isso neste ano agrícola fizeram a plantação de pomar de laranja, limão, banana e toranja. Contudo, mostrou-se confiante que se tudo correr como o previsto dentro de dois ou três anos estarão em condições de produzir uma grande quantidade de banana e da laranja para o mercado nacional.
Lamentou neste particular que a dificuldade deparada na evacuação dos seus produtos e particularmente produtos hortícolas para o mercado nacional e o mercado senegalês, sobretudo em Ziguinchor. Acrescentou ainda que devido a falta meios de evacuação de produtos bem como da sua conservação, acabam por ver os produtos hortícolas estragados.
PRODUTORES PEDEM FORO DE ÁGUA DE 200 METROS PARA ULTRAPASSAR A CRISE
Relativamente a situação de falta da água que enfrentam no campo de horticultura, disse que o problema de fornecimento da agua só pode ser ultrapassado se for construído um foro de água com 200 metros de profundidade no campo, a fim de substituir o actual foro que tem apenas 28 metros de profundidade.
“Um número significado das mulheres desistiu de trabalhar no campo hortícola por causa de dificuldade da água. Dantes faziam parte da cooperativa 287 mulheres, mas agora só ficaram 80 mulheres e os homens que fazem parte do projecto continuam a ser os 39”, contou o coordenador, que entretanto, lamentou ainda a questão dos gados que ocupam o campo no período da noite e acabam por estragar todo o trabalho.
“Temos informado à polícia sobre esta situação no sentido de chamar atenção aos donos de gados, mas infelizmente não moveram nenhuma palha. Os próprios criadores de gados alegam que os mesmos precisam de comer e por isso não podem ficar todo tempo no coral”, asseverou.
Informou, no entanto, que os horticultores trabalham no campo para ajudar na sobrevivência dos seus filhos, desde a educação e saúde através dos seus rendimentos obtido no trabalho de campo.
“Cada agricultor dispõe de um pequeno espaço individual, no qual produz e resultado da venda é gerido por ele mesmo. Cada agricultor paga uma quantia de 500 francos cfa por mês devido a utilização do espaço. Para além do espaço individual, o agricultor associado tem o dever de trabalhar também no espaço colectivo da cooperativa e dinheiro resultante da venda de produto do espaço colectivo é guardado como fundo da organização”, disse.
UE-PAANE APOIA PRODUTORES DE COOPERATIVA LÂMPADA DE CAMPO
O Projecto de Apoio a Actores Não Estatais (UE-PAANE) é a organização que apoia a cooperativa através do fundo da União Europeia. Sustentou que receberam o apoio daquela organização para a construção de uma “Casa Agrícola” junto de uma dos campos de cultivo.
Contou ainda que aquela organização apoiou a cooperativa na realização de trabalho de canalização e construção de foro da água e os seus acessórios técnicos.
Da parte das autoridades, sublinhou que o apoio se resume apenas no fornecimento de cimpentos agrícolas. Frisou que receberam ainda da parte do ministério de agricultura beneficiaram de uma bosla para a formação dos seus membros em Bafatá.
“Queremos o apoio para a formação dos nossos produtores no domínio de agricultura, porque só através do conhecimento técnico e cientifico é que estaremos em condições de concorrer em pé di igualdade com os agricultores senegalês e gambianos”, defendeu.
Por: Tiano Badjana