terça-feira, 3 de maio de 2016

10 949 MULHERES: UM RETRATO DE UMA PIONEIRA DO COMBATE NACIONALISTA ARGELINO

Após a luta pela independência,  foram consideradas seres menores e colocadas sob a tutela dos homens.


Muitas mulheres participaram na guerra pela independência da Argélia, mas ficaram no anonimato. Agora, escreve o Jeune Afrique, um documentário homenageia uma dessas argelinas, pioneira no combate nacionalista.

Mais do que um documentário – 10 949 Mulheres (o número inscrito nos registos do ministério dos Antigos Combatentes da guerra da Argélia) é o retrato de uma mulher excecional, filmado já no final da sua vida. Nassima Hablal participou na guerra pela independência, como muitas outras mulheres – seguramente mais do que as 10 949 presentes nos registos –, e foi, sobretudo, uma pioneira dessa luta.

Nassima nasceu em 1928. Tornou-se militante do Partido do Povo Argelino Independentista em 1945. Dedicou-se a essa causa depois de presenciar a repressão sobre uma marcha anticolonial que aconteceu a 8 de maio desse ano, em Sétif, e que acabou por se transformar num massacre. Em 1947, participou nas atividades de criação da Associação das Mulheres Muçulmanas Argelinas (AFMA). Tudo isto era clandestino – e Nassima era ao mesmo tempo secretária do governo geral, em Argel. Quando a guerra começou, tornou-se secretária de Ramdane Abane, líder intelectual dos independentistas (e da Frente de Libertação Nacional – FLN).

A partir de 1956, passou a ser responsável pelos artigos do Moudjahid, o novo órgão de comunicação «oficial» da FLN. E teve um papel importante junto de Aïssat Idir, que hoje dirige a UGTA, o primeiro sindicato «livre», ligado ao partido nacionalista.

Nassima Hablal acabou por ser presa, em fevereiro de 1957, durante a batalha de Argel. Foi torturada e seguiu de prisão em prisão, até alcançar a prisão domiciliária. Acabou por fugir e refugiar-se no «quartel-general» da FLN, em Túnis.

Depois, chegou a independência, e com ela chegaram as desilusões, escreve o Jeune Afrique. Sobretudo no que dizia respeito às mulheres. Celebradas durante a luta pela independência, após esta foram consideradas seres menores e colocadas sob a tutela dos homens.

Não fazendo parte do 1% que avançou para ações armadas, muitas vezes conotadas como terrorismo, e que por isso teve algum reconhecimento, Nassima caiu no esquecimento, como quase todas as suas «irmãs de luta» – de tal forma que, quando morreu, em 2013, teveum funeral simples e íntimo, sem qualquer tipo de homenagem.

Este documentário, a primeira longa-metragem de Nassima Guessoum, historiadora especializada na guerra da independência, é um relato da vida desta mulher. Foi possível apenas graças às confissões que Nassima Hablal fez à realizadora, que podia ser sua neta, sempre em tom bem-humorado.

Fonte: Aqui