sábado, 7 de maio de 2016

A VOZ DAS RAPARIGAS QUE NÃO QUEREM SER BRINQUEDOS SEXUAIS

Só pa bai yalsa mon na djambacussis di tudo terra pa sibi kê ku na passa, pabia anôs homis nô sta suma nô entrado nan.
 
Achie tem 17 anos. É uma ativista etíope que exige aos responsáveis, em todos os fóruns em que participa, que protejam eficazmente os direitos das mulheres.
 
«Não quero tornar-me num instrumento para o sexo», disse Achie, de voz segura e determinada, em frente a centenas de pessoas, entre elas líderes políticos e económicos de todo o mundo. Foi na Cimeira dos Governos do Mundo, recorda o El País, perante uma plateia sobretudo masculina. Falou em nome das meninas e das jovens de todo o mundo, lembrando o seu direito a estudar sem medo de serem violadas a caminho da escola, a chegar ao nível de ensino mais elevado e a ter as mesmas oportunidades que os rapazes.

Antes disto, Achie já tinha discursado na Comissão de Estado para as Mulheres, em Nova Iorque, e em encontros paralelos da Cimeira Mundial de Doadores, em Adis Abeba. Em fevereiro, no Dubai, Kathy Calvin, presidente da UNFoundation, deu-lhe metade do seu tempo de intervenção, para que Achie pudesse falar em frente a todas aquelas pessoas.
 
Desde os 15 anos que Achie faz parte de várias organizações de defesa dos direitos das raparigas na Etiópia. Atualmente é membro da Let Girls Lead, uma ONG internacional.
 
«O primeiro problema das mulheres está nas diferenças educativas. E é emocionante sentir que se pode mudar algo», diz Achie ao El País no seu inglês perfeito. O Índice de Desenvolvimento Humano prova isso mesmo: a média de anos de escolarização das mulheres da Etiópia é de 1,4, e a dos homens de 3,6. Mais do dobro.
 
Achie defende também que as meninas não devem casar-se, sobretudo se isso levar a deixar a escola. «As raparigas querem os seus sonhos. Quando as ouvimos, percebemos que querem algo tão simples e prático como ir à escola e sem serem violadas (…). E eu quero um mundo em que não me sinta sem voz.»
 
«Creio que a agenda política esquece o que é ser uma menina. E não vejo nenhuma alternativa melhor, nada mais sustentável, do que investir nelas», acrescenta Achie. No seu país, diz que há progressos: «O governo comprometeu-se a acabar com o casamento infantil até 2025».
 
A sorte de Achie foi diferente da de muitas raparigas etíopes. E diz que é por isso que luta por que a saúde, a educação e as oportunidades não sejam presentes do destino, mas sim direitos. Ela vai estudar para a Universidade de Princeton, nos EUA. «Engenharia ou Ciência Informática. Ainda não decidi.» O que decidiu foi que irá continuar o seu trabalho de ativista, «para ajudar raparigas, que, por sua vez, ajudarão outras».
 
E Achie conclui: «A minha mãe sofreu muitas desgraças. Teve uma infância difícil, uma vida dura… Mas inculcou-me a paixão e a tenacidade para nunca abandonar aquilo em que acredito. E ensinou-me a não pensar a curto prazo, mas sim num cenário maior, e a preocupar-me com as pessoas. Espero que esteja orgulhosa de mim». Fonte: Aqui