PRS e os 15 – PARA FAZER A DIFERENÇA
Na Guiné-Bissau, a designação “Partido”, sem a devida descriminação, refere obviamente ao PAIGC, em virtude de ter sido a única formação política outrora existente e de ter dirigido o País, ininterruptamente, durante um longo período de 18 anos após o fim da Luta Armada de Libertação Nacional. Na perspectiva dos seus fundadores, a definição “Partido” encaixava-se na perfeição (isto porque Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes, Júlio de Almeida e Elisée Turpin, presentes no acto, preconizavam os mesmos objectivo e partilhavam a mesma ideologia política, assentes numa visão estratégica similar para o futuro dos nossos Países (a Guiné e Cabo-Verde).
Entretanto, falhado o objectivo inicial de conquistar a independência pela via pacífica, para fazer face às exigências impostas pela nova fase de resistência à dominação colonial (transição da cidade para o campo, mobilização dos camponeses e o eclodir da própria Luta Armada), o PAIGC foi obrigado a abandonar a sua essência pequeno burguesa e a transformar-se num Partido de Massa, abrindo as suas fileiras à todos os quadrantes da sociedade e passando a definir-se como um Movimento de Libertação Nacional, característica que continua a manter, consolidar e aprofundar ao longo destes 43 anos de independência, afastando-se cada vez mais dos ideais dos seus fundadores, que, reconhecendo os imperativos históricos-conjunturais dessa mudança, nunca abandonaram o projecto político e organizacional que esteve na génese da sua fundação (fazer do PAIGC um Partido Político de facto, através duma rigorosa selectividade e permanente formação política e ideológica dos seus Quadros e militantes), à semelhança do que se passa com o MPLA-PT (Angola) e a FRELIMO (Moçambique).
Cientes do importante papel que, impreterivelmente, esta formação política seria chamada a desempenhar no processo do desenvolvimento socioeconómico do nosso País, em virtude de ter organizado e realizado com sucesso a luta que culminou na independência nacional, Num contexto político uni-partidário, em que o PAIGC era um Partido-Estado, os seus líderes deviam consciencializar-se das prementes necessidades de adaptá-lo as novas exigências inerentes ao contexto histórico imergente dos escombros da Luta Armada de Libertação, torná-lo mais eficiente, melhor organizado através da coesão e fortalecimento das suas bases, recorrendo a uma selecção mais rigorosa no processo de admissão de novos militantes, implementando a democracia interna e apostando fortemente na formação e integração de Quadros nas suas fileiras, recorrendo essencialmente aos destaques da sua Organização Juvenil, para colmatar as lacunas que naturalmente iam sendo deixadas pelos mais velhos, que dignamente já tinham dado tudo o que tinham para dar ao seu Partido, ao seu País e ao seu povo, na certeza de que, da excelência da sua organização (do PAIGC), dependeria a organização e a eficácia do funcionamento do aparelho do Estado que este Partido representava, assim como de toda a sociedade guineense.
Entretanto, contrariando as expectativas, o PAIGC que há 60 anos atrás nasceu “Partido”, acabou por se transformar num caótico Movimento de Libertação em que só 10% dos seus militantes alguma vez leram parte dos seus Estatutos (conjunturalmente e por conveniência própria); só 5% percebeu minimamente o seu conteúdo; só 2% falam com base nesse conteúdo; 98% dos militantes só se sentem motivados pela alínea b) do Artigo 14º (eleger e ser eleito aos órgãos do Partido), que se transformou num grande negócio (negociar o seu voto (receber subornos) para eleger ou ser eleito para traficar influência e resolver os seus problemas pessoais e familiares) e são completamente alérgicos às alíneas g) e h) do Artigo 15º, que exortam ao seguinte: (melhorar constantemente a sua qualificação técnica, científica e cultural) e (elevar o nível da sua formação política e ideológica, esforçando-se por aprender e aprofundar, de forma crítica, o legado teórico de Amílcar Cabral), respectivamente.
O próprio Presidente do PAIGC, o Eng.º Domingos Simões Pereira, durante as últimas eleições gerais, num gesto político inédito, movido por sentimentos de amizade, violou flagrantemente os Estatutos do seu Partido, quando decidiu simplesmente ignorar as suas alíneas k) e p) do Artigo 15º para manifestar o seu apoio e apelar os seus seguidores à apoiarem o candidato Presidencial independente Paulo Gomes, em detrimento do Candidato indigitado pelo Partido que lidera. Como podem constatar, é assim que as coisas funcionam no PAIGC – cada um com cada qual. E a nossa sociedade funciona exactamente à sua imagem (uma sociedade mergulhada na corrupção, imoralidade, cobardia, mentira, inveja, oportunismo, trafulhices, feitiçaria, poligamia, filharada, intriga e demais factores estimulantes desta maldita pobreza em que estamos mergulhados), onde tudo acontece e pode acontecer:
“Graças ao estado de coisas supra referidos e aos valores entretanto inculcados à nossa sociedade, a Guiné-Bissau é certamente o único País do Mundo, onde existe a escolaridade mínima obrigatória (a 4ª Classe) para obter uma carta de condução, enquanto que o Deputado da Nação que aprova a Lei que define os requisitos para a obtenção da carta de condução ou mesmo o Ministro de Estado que com a sua assinatura (a única coisa que aprendeu a fazer) valida as cartas de condução, são iletrados (analfabetos)”.
Doka e a sua equipa não acreditam que internamente, os Partidos Políticos guineenses representados na Assembleia Nacional estejam tão carentes em Quadros com capacidades para assumir a liderança do País, tendo que recorrer à figuras independentes supostamente independentes, mas que em ultima instância respondem e obdece ao Domingos Simões Pereira, cujos interesses pelo País se manifestam exclusivamente nos períodos eleitorais, como é o caso do Paulo Gomes e Raimundo Pereira e Companhia Lda., que só na qualidade de Presidentes da República ou Primeiro-Ministro se disponibilizam a regressar ao País e contribuir para o bem-estar do seu povo. Trocado por miúdos, se não for para ser Presidente da República ou Primeiro Ministro, dispensam a condição de residentes na Guiné-Bissau.
Doka e a sua equipa, evidenciando as suas reconhecidas qualidades de observadores políticos atentos e baseando-se numa análise sistemática e sintética das movimentações políticas que se fazem sentir nos bastidores, e com todo o respeito pelo primeiro magistrado da nação, descartam quaisquer hipóteses de Sua Ex.ª o Senhor Presidente da República, Dr. José Mário Vaz (JOMAV) nomear o Sr. Paulo Gomes para o cargo Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, por razões que se a enumerar de seguida:
1º Foram adversários durante as últimas eleições presidenciais, o que donota divergência na visão estratégica para o País.
2ª A intrínseca, evidente e recorrente proximidade do Sr. Paulo Gomes ao Domingos Simões Pereira, retira-lhe o voto de confiança do Presidente, portanto a sua nomeação ao cargo de Primeiro-Ministro significaria nada mais e nada menos que semear uma nova tempestade nas relações entre o Governo e a Presidência da República;
3º Tal nomeação nunca obteria o agreement do Partido de Renovação Social (PRS) e dos 15 deputados em roptura com a bancada parlamentar do PAIGC, a Segunda Maior Força Política Nacional (PRS) aliada aos 15, configuram uma nova maioria melhor preparada para assumir a liderança do País colocando um ponto final ao impasse e ao futuro incerto que representa as soluções desenhadas pelo Domingos Simões Pereira, para que isso não aconteça, este mobilizou toda a sua quadrilha para encontrar soluções alternativas ainda que implique recorrer inclusive à figura do diabo;
4º O Paulo Gomes, a imagem de Domingos Simões Pereira é muito arrogante, pelo que é provável que decline qualquer convite nesse sentido para não ter que despachar com o actual Presidente da República, cuja imagem tudo fez para denegrir ao nível da nossa Sub-região. Entretanto obedecendo à uma estratégia de longo prazo, Domingos Simões Pereira tudo faria para o convencer a militar no PAIGC e a aceitar o cargo que lhe permitiria manter contacto com os Líderes Mundiais e veicular a mensagem que mais lhes convêm, além de utilizar os recursos do Estado para promover e fortalecer o Poder e a imagem do PAIGC e do seu Presidente, assegurando assim o apoio desta formação política nas próximas eleições presidenciais;
Sua Ex.ª Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, o Congresso de Cacheu colocava perante os seus Delegados um dilema muito importante que consistia no seguinte:
Eleger para Presidente do Partido (PAIGC) e consequentemente futuro 1º Ministro do País, na condição de obter a legitimação do comité central do PAIGC, da ANP e em última instância do Presidente da República, um Candidato supostamente super inteligente (que sabe tudo, tudo, tudo e mais alguma coisa), mas muito arrogante e rancoroso, incapaz de dialogar com os seus parceiros e consequentemente incapaz de constituir um Governo coeso e funcional. Estamos s falar do Candidato Domingos Simões Pereira;
Eleger para Presidente do Partido (PAIGC) e consequentemente futuro 1º Ministro do País, de pois de oter as aprovações anteriormente mencionadas, um Candidato à semelhança de qualquer um de nós, que sabe o que sabe, não quer e nem sequer necessita de saber tudo, na medida em que existem outras pessoas portadoras de outros saberes e valências, bastando-lhe a ele SER UM LÍDER, e que pela sua demonstração de humildade, simpatia e facilidade no relacionamento político e social, consegue estabelecer pontes de diálogo e trabalhar harmoniosamente com todos em prol do desenvolvimento socioeconómico do nosso País. Neste caso concreto, o Candidato Braima Camara que saiu vencido por uma coligação de 6 ou 7 outros candidatos agora em ruptura.
Sr. Presidente, por razões já conhecidas, o primeiro variante não deu certo e neste momento estamos ancorados no meio do nada absoluto. Resta-nos contornar com sabedoria as "guerrinhas" pelo Poder, inerentes a estas situações e avançar com coragem e determinação para a implementação do segundo variante, com o PRS e os 15 a assumirem a liderança do país com uma solução de rompimento com o modelo de gestão da coisa pública que Domingos Simões Pereira felizmente não conseguiu fazer prevalecer.
DILEMA: “O saber não ocupa espaço” ou “Há sempre espaço para novos saberes”?
Estará a Guiné-Bissau condenada ap fatalismo de ter que sobreviver com um PAIGC proficuamente recheada de pingarelhos indecorosos, enquanto repelem das suas fileiras os "desalinhas" com esta cultura mafiosa, peculatária e escroque?