quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Historiador Mário Sissoko: “PAIGC FOI FUNDADO EM CONACRI, NO ANO DE 1962”

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O historiador guineense, Mário Sissoko, revelou durante a entrevista ao nosso semanário, que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi fundado em Conacri, em 1962, por Amílcar Cabral em conluio com Rafael Barbosa. O historiador que falava à nossa rúbrica “Grande Entrevista” para abordar factos históricos que nortearam a criação do partido que conduziu a luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, negou que o PAIGC tenha completado 60 anos de existência, isto é, que o partido de Cabral não foi fundado em 1956.

Sissoko referiu-se, durante a entrevista, a factos históricos que põem em causa as informações que indicam que o partido libertador teria sido fundado em 1956. O historiador lembrou-se da conversa de angolano Mário Pinto de Andrade (membro fundador de MPLA) que antes da sua morte revelou que o ‘Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) não tinha sido fundado em 1956, e que fora ele, quem teria inventado que aquele movimento de libertação fora criado naquele ano’.
“Eu tenho em minha posse um cartão de militância de um dos membros de ‘MLGCV’, que era um movimento do qual faziam parte o próprio Cabral e o Rafael. O cartão faz duvidar da existência do PAIGC antes de 12 de Maio de 1961, data da emissão do documento, assinado pelo próprio Amílcar Cabral, na qualidade de responsável”, espelhou o historiador que, mais a frente, avançou que “se o PAIGC existisse naquela altura, então, estaria no cartão o nome do PAIGC e Cabral teria assinado o mesmo com o título do Secretário-geral do partido”.

O Democrata (OD): O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) completou 60 anos de idade. É de opinião que o PAIGC tem 60 anos, ou seja, que foi criado em 19 de Setembro de 1956?
Mário Sissoko (MS): Há uma falta de sinceridade intelectual nisso. Por isso e a meu ver, é importante sermos honestos. Há factos evidentes e com cronologias próprias conhecidas internacionalmente. Portanto, isso no mínimo poderia levar as pessoas a serem sinceras consigos mesmas para admitir certas coisas que poderiam contrariá-las.
Quero que me deixem referir-me a alguns factos históricos que vão contrariar toda essa informação que o PAIGC foi fundado em 1956, depois vou explicar o ano verdadeiro da fundação deste partido.
Recordo que depois do encontro de Dacar (Senegal) que reunira o próprio Amílcar Cabral, Rafael Barbosa, Victor Saúde Maria, Fernando Cabral e Luís Cabral para discutir alguns assuntos, Cabral foi admitido no MLG em 1960, por causa do Rafael Barbosa.
A ala dura de MLG não tinha concordado com a militância de Amílcar, porque não confiava nele. Aliás, tratavam-no como uma pessoa que não tinha nascido na Guiné. Rafael foi quem mobilizou uma ala dentro do movimento para aceitar Cabral, porque havia uma boa relação entre os dois.
O pai de Rafael foi quem hospedou o pai de Amílcar em Bissau. Mas também o próprio Rafael Barbosa tinha uma afinidade muito avançada com uma das irmãs de Amílcar Cabral. Acho que essa solidariedade carnal foi uma das razões que levou Rafael apoiar a todo o custo Cabral.
Tenho comigo um cartão de militância de um dos membros do ‘Movimento de Libertação da Guiné e das Ilhas de Cabo Verde – MLGCV’ que era um movimento do qual faziam parte o próprio Cabral e o Rafael. O cartão faz duvidar da existência do PAIGC antes de 12 de Maio de 1961, a data da emissão do documento que foi assinado pelo próprio Amílcar Cabral.
O cartão pertence a um dos elementos do grupo de 40 camaradas seleccionados para participar numa formação na especialidade de comandos, em Marrocos. O titular do cartão é o comandante Zé Pedro Silva.
No cartão consta a assinatura de Amílcar Cabral como responsável, mas ele não é identificado nem como Secretário-geral nem como presidente do partido. Se o PAIGC existisse naquela altura, então, constaria no cartão o nome do PAIGC e Cabral assinaria o mesmo com o título de Secretário-geral do partido.
Quero relembrar uma coisa e para que as pessoas que eventualmente irão ler o texto possam ter uma ideia clara sobre isso tudo, depois que tirem as suas ilações. Amílcar Cabral e Domingos Ramos iam sentados à frente numa viatura e Nino Vieira atrás (na mesma viatura). Amílcar estava a brincar com Domingos Ramos, puxava-lhe a camisa. Como ia alegre, Nino perguntou-lhe se teria conseguido uma “Naniazinha”. Cabral respondeu que não, mas que estava contente porque o seu partido completara o seu primeiro aniversário. Isso aconteceu em 1963.
OD: Quando foi fundado o PAIGC, concretamente?


MS: Deixa-me terminar a explicação disso.
Outra versão que põe em causa os 60 anos de existência do PAIGC foi quando Cabral (guineense), Lúcio Lara e Mário Pinto de Andrade (angolanos) queriam tomar parte na Primeira Conferência dos Povos Africanos em Túnis, entre 25 a 30 de Junho de 1960. O único partido da África lusófona que estava representado, aliás, que tinha condições para participar era a União dos Povos de Angola (UPA).

Cabral e companhia queriam intervir naquela conferência. Perguntaram-lhes se pertenciam a alguma formação política e se faziam parte de um dos blocos dos partidos que havia naquela altura na África, responderam que não tinham partido e que não pertenciam a nenhum bloco. Foram aconselhados a criar uma organização partidária e apresentá-la ao mundo, para que pudessem ser conhecidos e reconhecidos.
Se o PAIGC existisse naquela altura, participariam naquele evento em nome do próprio partido. O Amílcar não foi sincero com o Lúcio Lara e Mário de Andrade, porque não lhes falou da existência de MLGCV, do qual ele fazia parte.
O partido angolano “UPA”, do qual faziam parte mais negros, foi fundado em 1957. Mário de Andrade tomou a iniciativa de declarar que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) tinha sido fundado em 1956. Ele foi um dos membros fundadores do MPLA. Foi ideia sua. Por isso tomou a iniciativa de mostrar que o seu partido era mais antigo em relação à “UPA”. Essa revelação foi feita pelo próprio Mário Andrade à sua família, antes da sua morte. A declaração foi retomada por uma Antropóloga angolana, depois pelos historiadores guineenses Tcherno Indjai (falecido) e Julião Soares que vive em Coimbra (Portugal).
Acho que foi isso que motivou Cabral a retomar a ideia de que o PAIGC tinha sido fundado em 1956, porque a Frente da Libertação para a Independência da Guiné (FLING) tinha sido fundado em 1957. Essas informações mostram claramente que o PAIGC não foi fundado em 1956. Mário Andrade foi honesto consigo mesmo antes de morrer, porque teve a coragem de contar algumas verdades. Segundo a antropóloga angolana, Mário Andrade disse à sua família que “muitas coisas que foram ditas não correspondem à verdade”.
Lembro que o próprio Mário Andrade disse-me que muitas coisas foram ditas sobre a história da luta, mas não correspondem à verdade. Ele disse ainda que é preciso tomar muita cautela sobre as coisas que Amílcar Cabral escreveu. Mário Andrade punha em causa até as obras literárias de Cabral, que segundo ele, muitas não foram escritas por Amílcar. Estávamos no festival de artes do mundo negro que decorrera em Adis Abeba (Etiópia). Foi alí que conversámos.
Fiz essa narração da história para permitir que o leitor tenha informações claras que lhe ajudem a tirar as devidas ilações. Agora vou responder à sua pergunta sobre a data da fundação do PAIGC. O PAI que mais tarde se transformou em PAIGC, foi fundado à revelia do MLGCV em Conacri, no ano 1962, por Amílcar Cabral em conluio com Rafael Barbosa.
Lembro ainda que Mário Pinto de Andrade desempenhara as funções do Comissário da Informação e Cultura aqui no país. Ele aconselhava-me para ter cuidado com tudo aquilo que Amílcar Cabral escreveu. Alertou-me ainda que há muita coisa relatada sobre a história da luta de libertação nacional que não corresponde minimamente a verdade.
Antes da nossa ida à Etiópia, Mário de Andrade já confidenciava várias vezes comigo. Um dia ele disse-me assim – ‘cuida-te com essas duas mulheres’. Tratava-se de Maria Cabral [viúva de Amílcar Cabral] e Lucete Cabral, acrescentando que ‘tu és como eu em Angola’. Na altura eu era o seu vice-coordenador-geral no Conselho Nacional da Cultura, na qualidade Director do Instituto Nacional de Investigação Científica.
Mário Andrade veio para perpetuar a memória de Amílcar, mas pediram-lhe depois que recuperasse os programas da Rádio Libertação, cujos conteúdos punham em causa a real situação que se passava na Guiné-Bissau. E de uma forma brusca, decidiram suspender os programas sem dar qualquer explicação, obrigando o Joaquim Landim a mudar-se para Canchungo.
Na verdade, os conteúdos temáticos dos antigos programas da luta pela independência recuperados da Rádio Libertação não abonavam nada a real situação que se passava no país após a independência.
Na altura, os Transportes Aéreos Angolanos (TAG) faziam a ligação entre os países da África lusófona: Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Angola. Andrade aconselhava-me muito, apesar das nossas divergências de métodos de trabalho. Um dia disse-me – ‘não sei em que dia vou abrir os meus olhos na prisão de Luanda’. Ele era muito ameaçado pelo regime angolano.
Mas os seus alertas à minha pessoa pressupunham que ele já tinha a ideia da forma como eu viria a estar com essa gente do PAIGC. Até chegou a dizer-me que tudo aquilo que disseram que Amílcar escreveu não foram escritos por Amílcar Lopes Cabral.
OD: Apesar de tudo, Cabral conseguiu destacar-se no meio dos líderes da África lusófona. O seu destaque no meio dos seus colegas deve-se à quê?

MS: Cabral tinha grandes homens que estavam a dirigir a luta. Os soldados eram muito corajosos e faziam sucessos na batalha, por isso o homem acabou por merecer certa atenção no seio dos seus colegas. Em Angola havia muitos problemas dentro do próprio partido MPLA. E havia três frentes dirigidos por diferentes partidos, designadamente o próprio MPLA, a FNLA e a UNITA. Cada um destes partidos lutava pelo protagonismo de ser o verdadeiro representante do povo angolano.
Nesta situação é difícil conseguir-se sobressair.
O PAIGC tinha o campo sozinho na Guiné para fazer a história, após a eliminação dos seus adversários. E o próprio Amílcar reconhecia que também havia problemas no partido e por isso dizia sempre que nem toda a gente era do partido. Isso é verdade, mas a prioridade dos combatentes naquela altura era lutar pela independência da Guiné.
O facto de todos se terem mobilizado pela causa da independência não significa que não havia problemas políticos graves. Havia muitos problemas políticos no seio do partido, mas a prioridade de toda a gente era a independência.
OD: Além do PAIGC, haviam outros movimentos políticos ou partidos a lutar pela libertação da Guiné…

MS: A FLING foi o primeiro partido a desencadear a luta pela libertação do país, na zona norte, mas o PAIGC acabou por sabotá-la através de um golpe baixo.
A FLING tinha o apoio de um jovem comerciante felupe (grupo étnico da região de Cacheu), Jhon Lambo, que ajudava na logística dos combatentes de FLING que estavam nas matas. O PAIGC organizou os seus homens, disfarçados como combatentes da FLING e foram bombardear a tabanca daquele comerciante que apoiava aquele partido, de forma a fazer com que a população se revoltasse contra a própria FLING. A população revoltou-se contra a FLING que acabou por retirar-se da mata, porque não tinha apoios, nem mesmo da Guiné-Conacri.
Após aquela situação toda, houve muitas negociações que envolveram até o Comité de Descolonização e que culminaram com a assinatura de um documento em 1969, recomendando a criação de uma única frente. O PAIGC recebeu a delegação da FLING juntamente com os seus combatentes na frente norte, concretamente em Morés (região de Oio), num ambiente de festa, mas na verdade tinha outra intenção.
O PAIGC não queria partilhar o protagonismo da luta com nenhum outro partido. Portanto, isso levou os seus dirigentes a cometerem muitos atos de crueldade para eliminar os adversários.
A delegação da FLING foi levada para o interior da mata de Morés, e alí foram todos mortos, de forma a desencorajar aquele partido de prosseguir com a iniciativa de lutar pela independência.
Essa situação aconteceu na ausência do camarada Osvaldo Vieira que era o comandante da frente norte. Foi assim que o PAIGC conseguiu tirar a FLING do caminho e consequentemente escrever a história sozinho, como o único interlocutor do povo guineense naquela altura.
OD: Qual era o ambiente vivido em Conacri entre os movimentos de libertação da Guiné-Bissau (FLING, MLGCV e PAI)?

MS: Nino Vieira e Tchico Mendes eram todos da Frente de Libertação para a Independência da Guiné (FLING), mas as pessoas aceitaram lutar por uma única causa. O PAI foi criado em Conacri. No momento da criação do PAI, havia um mal-estar entre Sekou Touré e o seu número dois, Saifoulaye Diallo, fundador do partido marxista-leninista conacri-guineense com sede em Mamou – chamado de PAI. Este decidiu depois extinguir o seu partido e juntar-se a formação política do então Presidente da Guiné-Conacri, Sekou Touré.
Como Amílcar Cabral tinha dito que a sua mãe era da etnia fula, Saifoulaye Diallo era quem o protegia. Todo aquele programa que disseram que era do PAI, foi feito em Conacri pelos quadros comunistas conacri-guineenses que deixaram a França para vir apoiar a Guiné-Conacri, depois de saída da França. Foram eles, em colaboração com Saifoulaye Diallo, que ajudaram na elaboração dos estatutos e programa do PAI que Amílcar criou em Conacri. O nome dado ao partido recém-criado, ‘PAI’, era idêntico ao nome do partido de Saifoulaye Diallo. Para muitos, Saifoulaye queria mandar um recado ao Sekou Touré, por isso envolveu-se na criação do partido de Cabral.
OD: Quando acrescentaram as duas siglas, ‘GC’, ao PAI?

MS: GC vem de MLGCV, através da integração de Amílcar no núcleo de nacionalistas cabo-verdianos. Havia MLGC do Senegal e também da Guiné-Conacri.
MLGCV foi fundado por Mamadú Assimio Sissoko, representante do MLG de Bissau, ele e o Luís da Silva (Tchalumbé). Os elementos de MLGCV foram expulsos da Guiné-Conacri porque não correspondiam ao projecto de uma única Guiné almejada por Sekou Touré e que Amílcar Cabral admitia. Mas quando a luta começou a ganhar a força, Amílcar veio com a ideia da unidade entre a Guiné e Cabo Verde para um Estado forte. Sekou Touré entendeu logo que Cabral jamais respeitaria o compromisso.
OD: Como é que Amílcar Cabral conseguiu destacar-se em Conacri, no meio de outros movimentos de libertação?

MS: Foi fácil. Aquelas camaradas, por exemplo, o Dauda Bangura é de origem conacri-guineense nascido na Guiné-Bissau. Ele conhecia os nossos irmãos balantas que trabalhavam no campo agrícola (bolanhas). Foram mobilizados secretamente para irem votar na criação do movimento PAI em Conacri.
Amílcar utilizou bebidas, dinheiro e comida para mobilizar as pessoas. Levou os nossos irmãos balantas para Conacri, dando-lhes bebidas, roupas, carne e dinheiro. No dia da votação foram levados para o local do pleito e foram eles que votaram massivamente a favor de Cabral.
Cabral tinha na altura dez mil dólares norte-americanos que conseguiu em Portugal. Depois de expulso da Guiné, Cabral viajara para Angola e depois para Portugal, onde trabalhou numa fazenda.
Também recebeu da parte de Rafael Barbosa o dinheiro das cotizações dos elementos do MLGCV do Senegal, que se estima em 67.000 (sessenta e sete mil) escudos guineenses. Segundo as minhas pesquisas, foi este dinheiro que Amílcar usou para mobilizar as pessoas que votaram nele. Foi com esse dinheiro que foram compradas bebidas e carne para os seus apoiantes, recrutados por Dauda Bangura.
A iniciativa de Rafael de entregar o dinheiro e documentos do movimento ao Amílcar gerou polémica, ao ponto de alguns membros quererem bater-lhe. Mas no final, decidiram deixá-lo com Deus. Por isso, mais tarde alguns elementos da MLGCV consideraram que Rafael estava a pagar a sua traição ao movimento.
OD: A estratégia de Cabral de dizer que a mãe era fula é verdade ou apenas um disfarce?

MS: Vi as fotos da infância de Amílcar Cabral, o rosto dele e da sua mãe Iva são idênticos. E Dona Iva não é fula. Nós historiadores estudamos também a antropologia, por isso, reconhecemos as faces, mesmo a de uma pessoa morta.
OD: Até hoje está em debate sobre o lugar onde nasceu Amílcar Cabral. Tem uma informação exacta sobre o assunto, segundo as suas pesquisas?

MS: Quando Sekou Touré acusou Amílcar de ser um espião português enviado, através da França, para espiar e sabotar o seu regime, para um eventual golpe do Estado, pediram uma prova que confirmasse a nacionalidade guineense de Cabral. Os elementos do MLG, Assimio Sissoko e Luís Tchalumbé, mandaram informar o senhor José Lacerda [na altura encarregado dos negócios exteriores do MLG]. A partir de Bolama, a notícia chegou também a Bissau.
Aqui em Bissau, foram o enfermeiro Ladislau, o Justado Lopes e o Rafael Barbosa que receberam ofício das mãos da senhora Cadi Djaló, no porto de Pindjiguiti.
Foi Ladislau quem tomou a ‘água-forte’ e eliminou o nome que constava no documento e pôs o nome de Amílcar Cabral e levaram-no para Conacri.
Pegaram noutro documento e enviaram-no para Bafatá, onde mobilizaram o irmão de Juvenal Fernandes que trabalhava na administração local. Foi Juvenal Fernandes quem fraudou uma falsa-verdadeira certidão de narrativa de nascimento de Amílcar Cabral.
Mal o documento chegou a Conacri, as manobras foram descobertas. Logo que a ‘PIDE’ soube da informação, deteve Juvenal Fernandes e torturou-o. Ele não aguentou os maltratos, acabando por morrer. O mais triste é que nem ele, nem a sua família foram reconhecidos pelo PAIGC.
Foi assim que inventaram que Amílcar Lopes Cabral nasceu em Bafatá (Guiné-Bissau). Mas a autenticidade da certidão de narrativa é rejeitável aos olhos de um verdadeiro historiador.
OD: Em que local Amílcar Cabral nasceu, na Guiné-Bissau ou em Cabo Verde?

MS: Não posso confirmar que Amílcar Cabral nasceu na Guiné-Bissau. De acordo com as minhas fontes, talvez tenha vindo para a Guiné em idade menor. Para mim a sua verdadeira mãe é Iva Pinhel Évora.
OD: Segundo algumas informações, a Guiné-Conacri rejeitou a FLING muito cedo. É verdade e porquê?
MS: A Guiné-Conacri rejeitou a FLING, porque Amílcar já se tinha comprometido com as autoridades daquele país para a unificação dos dois países, numa única Guiné. E isso tudo era estratégia política. A FLING não aceitava a ambição geopolítica de Presidente Sekou Touré naquela altura.
A FLING já tinha outro acordo com a França, Senegal e a Casamança. Este acordo ressalvava que após a independência, a Guiné passaria 20 anos de coabitação administrativa com o Senegal. Os dirigentes da FLING concordaram com o Presidente Senghor do Senegal sobre o referido acordo.
Amílcar também acordou com Sekou Touré sobre a unificação da Guiné, mas não foi longe e começou a falar da unidade da Guiné e Cabo Verde. Então, Sekou Touré disse assim: Este português já começou a trair-nos. Ele fala da unidade da Guiné e Cabo Verde, então é o Portugal quem ganharia com isso. A partir dali também iniciou-se uma desconfiança entre os dois, Sekou Touré e Amílcar Cabral.
… Continua na próxima semana a segunda é última parte da entrevista.
Por: Assana Sambú/Sene Camará
Fotos: Marcelo N’canha Na Ritche