segunda-feira, 19 de setembro de 2016

MORADORES DE PESSAK ESPERAM “MILAGRE DE DEUS” PARA A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA

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DSP kuma terra ranka, didimé i só pó!

A situação do estado de degradação do troço que liga Chapa de Bissau a Bairro de Pessak continua a merecer uma preocupação enorme dos moradores daquele bairro periférico da capital Bissau. O estado avançado da degradação daquela estrada impossibilita a circulação normal de viaturas, em particular dos transportes públicos, facto que levou os proprietários a impedir que as suas viaturas circulem naquela linha.
Os moradores mostram-se desesperados e fatigados, após terem apresentado queixas junto dos seus representantes no parlamento, mas que não conseguiram até agora fazer seja o que for para a reabilitação da estrada. Agora acreditam apenas em “Milagre de Deus” para iluminar as mentes dos governantes, de forma a poderem levar à frente o projecto de reabilitação ou construção da estrada de Pessack.

Sobre o assunto, uma equipa de repórteres do semanário “O Democrata” deslocou-se, este fim-de-semana, às vias rodoviárias de Pessak para constatar a real situação de degradação da estrada daquele bairro, sobretudo no que concerne às dificuldades de acesso dos transportes públicos. O repórter presenciou a luta por lugares nos transportes (táxis e toca-tocas) da parte dos passageiros, tendo o próprio jornalista tomado a decisão de se juntar aos passageiros na luta pelo lugar no transporte.
MORADORES DE PESSAK LUTAM A “SOCOS E COTOVELADAS” POR LUGARES NOS TOCA-TOCAS E TÁXIS
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A situação de degradação da estrada cria dificuldades de acesso aos transportes públicos, sobretudo no período de manhã, provocando constrangimentos aos passageiros que se deslocam ao serviço e outros afazeres. À tarde a azáfama é em sentido contrário, já no regresso para casa. Para conseguir um lugar nos carros, tanto táxis como nos “toca-tocas”, é preciso uma “luta ferronha” de puxa-puxa.
Quando chega um táxi ou toca-toca, começa logo o puxa para cá e empura para lá e brigas entre passageiros. A situação regista-se mais no período da manhã, quando os transportes saeam de Pessak para a Chapa de Bissau (terminal). No período da tarde, a partir das 16 horas, já é a hora de regresso para a casa. A luta pelo transporte público naquela zona favorece apenas os mais fortes, enquanto crianças, mulheres e grávidas ficam de lado a espera, tranquilamente.
A estrada de Pessak ficou danificada através das águas estagnada da chuva que acabam por cortar o troço, na localidade denominada de “Leste”, impedindo assim a circulação de viaturas. Os populares residentes na zona do terminal são obrigados a percorrer uns bons metros até chegar ao destino.
No que diz respeito às viaturas que fazem transporte nessa estrada, elas apresentam deficiências enormes em termos de higiene. Notam-se sujeiras no interior das mesmas e as cadeiras estão todas estragadas. Até as viaturas denominadas pelos passageiros de “segunda qualidade” (viaturas particulares usadas nas horas difíceis para transportar pessoas) também não dispõem das condições propícias em termos de higiene. As referidas viaturas são particulares e não têm autorização para o serviço de transporte público. Contudo, os motoristas aproveitam as horas mortas para transportarem passageiros, conseguindo desta forma um pouco de rendimento que lhes ajuda no quotidiano.
POLÍCIA DE TRANSITO FAZ “VISTA GROSSA” À SOBRELOTAÇÃO DOS TRANSPORTES DE PESSAK 
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Os toca-toca desta linha não têm uma lotação certa de passageiros. As pessoas apinham-se no carro até não haver mais espaço, respirando em cima uns dos outros, puxando-se dentro das viaturas devido aos abanões por causa de buracos.
Os táxis, que normalmente deveriam transportar cinco pessoas incluindo o condutor, acabam por levar seis ou sete, dependendo do volume dos passageiros. Estes  sufocam-se devido a sobrelotação.
Numa entrevista aos passageiros momento antes da partida a caminho de Pessak, lamentaram aquilo que consideram em como não faz sentido continuarem a votar nos governantes que se esquecem dos seus eleitorados depois de serem eleitos.
“Já estou a viver há vários anos nesse bairro, mas nunca ouvi um deputado a falar sobre a nossa estrada e muito menos um governante. Mas têm conhecimento das dificuldades que os moradores de Pessak enfrentam todos os dias nesta estrada. Quando chove, a estrada transforma-se em riacho para a pesca” lamentou um dos moradores.
Aquele morador de Pessak disse ainda que são abrigados a levantarem-se cedinho para poderem chegar a tempo e horas aos respectivos serviços. Segundo o morador, para conseguir cumprir com a sua agenda do dia, preferem ter viatura privada, muito segura e potente para enfrentar as pedradas de Pessak.
Nesse sentido, a veterana de bairro de Pessak pediu às entidades responsáveis, nomeadamente ao Presidente da República, ao Primeiro ministro e à deputada eleita nesse círculo para ajudar os populares a saír no sofrimento e isolamento.
Djariatu Baldé, outra moradora do esquecido bairro, explicou que as viaturas que fazem transporte de pessoas nessa linha não reúnem nenhumas condições de higiene e muito menos segurança, devido ao seu estado avançado de degradação.
“Nesta linha só circulam viaturas velhas por causa das más condições de estrada. Ninguém iria deixar a sua viatura nova nesta linha, devido ao estado avançado de degradação da estrada. Estamos aqui a espera de um bom filho da Guiné para nos ajudar” assegurou.
Aquela cidadã residente de Pessak advertiu que as grávidas e os idosos são a camada que enfrentam maiores dificuldades em conseguir transporte para chegar ao seu destino.
“Pessak transformou-se hoje num dos piores bairros de capital, devido ao isolamento e à falta de boas infraestruturas, água potável. Temos a impressão que estamos numa outra república, à espera de um milagre de Deus” espelhou.
O repórter de “O Democrata” falou com os motoristas de Toca-Toca e Taxi que circulam nessa linha, que explicaram que todos os dias de manhã à noite recebem insultos de passageiros como se fossem as autoridades responsáveis pela construção das estradas.
Questionado sobre o não cumprimento da lotação estipulada, o motorista Djicas assegurou que não têm como controlar a lotação devido à forte procura.
“Antes da viatura chegar ao terminal, os passageiros agarram-se ao carro, outros correm atrás para marcar lugares. Às vezes os que estão na viatura não conseguem sair normalmente e vêem-se obrigados a usarem força para descer. Assim, é difícil controlar e respeitar a lotação normal”.
No decorrer da viagem para o bairro de Pessak fez-se muito calor. Uma das passageiras disse que a estrada de Pessak só seria construída no dia em que Deus fizer um milagre na cabeça das autoridades nacionais, para reduzir sofrimento dos moradores do bairro que não faz parte da capital guineense.
Ainda nessa aventura, cruzámo-nos na curva do mercado de Cundock, com um grupo dos motoristas e ajudantes que estavam a colocar pedras e sacos de areias para encher buracos profundos na estrada, com apoio de moradores.
MOTORISTAS DE PESSAK COMPRAM “ATERRO – AREIA” PARA TAPAR BURACOS NA ESTRADA
O repórter dirigiu-se ao responsável do grupo. Serifo Batcha explicou que decidiram substituir o estado devido ao sofrimento que os moradores de bairro de Pessak estão a passar e que já dura há muito tempo e que fica pior na época chuvosa.
“Se ficarmos a espera do Estado para resolver a situação caótica de estrada, nunca mais circulamos. Temos doentes que precisam de transporte para ir fazer tratamento e as grávidas, mas não há viaturas em boas condições devido à própria condição da estrada. Portanto, decidimos juntar motoristas e ajudantes, com apoio de alguns moradores e elementos da Associação juvenil de bairro para fazer este trabalho que pode minimizar o sofrimento” lamentou.
Serifo Batcha acrescentou que os motoristas de linha de Pessak juntaram dinheiro para comprar duas carradas de aterro e pedras no valor de 90 mil francos xof. Durante os trabalhos, um morador do bairro, Causo Baldé, reforçou com outras duas carradas, totalizando assim quatro.
“Não sabemos que mal fizemos às autoridades do país que, desde as eleições de 2014 até data presente, nunca ouvimos o nome da estrada de Pessak a ser mencionado na Assembleia Nacional Popular pelo deputado do nosso círculo, mas acreditamos que um dia iremos sair deste isolamento de estrada e de corrente elétrica”.
MORADORES DE PESSAK PEDEM AO GOVERNO QUE LHES TRATE COMO GUINEENSES  
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Um dos responsáveis da Associação de Jovens Unidos de Bairro de Pessak, Sumaila Turé, explicou ao repórter que já fizeram vários pedidos de socorro às autoridades competentes no sentido de reabilitarem a estrada que já leva tempo sem nenhuma intervenção pontual de reabilitação.
“Decidimos fazer com o nosso esforço com meios e apoio de moradores e de pessoas de boa vontade, para vencermos pouco a pouco as dificuldades”, garantiu.
O responsável juvenil informou que é triste ver a estrada de Pessak quando chove. A corrente das águas pluviais criam uma corrente de água e lama que acaba por cortar a estrada, na localidade denominada Leste. Adiantou ainda que nestas condições de vida, é difícil os moradores de zona escaparem do perigo. Desejam apenas ser felizes, à semelhança dos outros bairros.
“Queremos ser tratados como guineenses que na verdade somos, porque exercemos os nossos direitos enquanto cidadãos. Devemos ser recompensados para que nas próximas eleições possamos participar na escolha dos dirigentes que vão tomar os destinos da nação. Se isso não acontecer, ficaremos de fora à espera da ajuda de Deus” exortou.
OBRAS PÚBLICAS PROJECTA REABILITAR A ESTRADA DE PESSAK EM OUTUBRO PRÓXIMO
O nosso repórter contactou o director de Serviço de Manutenção das Estradas do Ministério das Obras Pública, Oliveira N’urque Nhanque, com o intuito de abordar a situação da degradação daquela estrada, como também informar-se dos projectos de reabilitação da mesma.
O responsável explicou que a Estrada de Pessak tal como as outros da capital que estão em avançado estado de degradação constituem uma preocupação enorme para o governo, acrescentando que tinham agendado a sua manutenção antes da época das chuvas, mas só conseguiram assinar contrato com a empresa no período das chuvas, por isso a reabilitação foi agendada para segunda quinzena de Outubro do ano em curso.
Oliveira N’urque Nhanque adiantou ainda que a estrada de Pessak não será alcatroada, mas vai receber uma manutenção com aterro e drenagem e vão ser abertas valetas para facilitar a passagem de água de chuva.
“Estamos cientes de sofrimento dos moradores de Pessak, tendo em conta o estado de degradação da estrada que liga a partir da Chapa de Bissau a esse bairro, mas não temos como iniciar o trabalho. O aterro está húmido e se tentarmos deitá-lo na estrada, vai ser pior. Portanto, queremos pedir aos moradores que aguentem até Outubro” lamentou.
O responsável do Serviço e Manutenção das Estradas garantiu que o projecto que a sua instituição tem na manga é o de fazer a manutenção de todas as vias urbanas onde circulam as viaturas denominadas Toca-Toca. Segundo Oliveira Nhanque, a maior dificuldade que a direcção geral das estradas e pontes enfrenta é o facto de terem uma única entidade financiadora para a manutenção das estradas, que é o Fundo Rodoviário.
“O Fundo Rodoviário tem como missão conservar as estradas, mas neste momento é obrigado a fazer para além da sua competência. Seria bom se o governo apoiasse nesse sentido, assim seria possível cobrir todas estradas que estão no estado de degradação, para minimizar o sofrimento de populares” exortou.
Oliveira Nhanque advertiu que as receitas que entram no Fundo Rodoviária pode ser muita coisa, mas para a manutenção das estradas não consegue cobrir 30 por cento das necessidades da direcção geral das estradas e pontes, por isso, somos obrigados a priorizar.
 
Por: Aguinaldo Ampa