domingo, 30 de abril de 2017

BUBAQUE APRESENTA NÍVEL PREOCUPANTE DO VÍRUS DA SIDA

[reportagem] A situação da prevalência do vírus da sida [de 3,9%] preocupa bastante os profissionais de saúde da Região Sanitária de Bijagós, que conta com onze (11) áreas sanitárias, com uma população estimada em 11.204 (onze mil duzentos e quatro) habitantes no censo populacional de 2009 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
 
Bubaque centro das ilhas Bijagós, é uma ilha potencialmente turística situada a 70 (setenta) quilómetros da capital Bissau, equivalente a 43 (quarenta e três) milhas náuticas numa ligação direta.  Atualmente, o Hospital Regional de Bubaque ‘Marcelino Banca’ conta com dois (2) médicos [o diretor regional de saúde e o diretor clínico], vinte (20) enfermeiros, três (3) técnicos de laboratório e seis (6) serventes, todos para responder às necessidades de uma população numa zona de difícil ligação com Bissau, a capital guineense.
 
Dos vinte (20) enfermeiros, dois são do curso superior e dezoito (18) do curso médio ou geral- Apesar desse número, os responsáveis consideram que ainda há a necessidade de mais técnicos sanitários naquele centro hospitalar.
 
A demora na evacuação de doentes de outras áreas sanitárias pertencentes à região para o hospital ‘Marcelino Banca’, em caso de urgência, preocupa os profissionais de saúde de Bubaque. Para a evacuação de Bubaque para Bissau, falta uma vedeta-ambulância rápida que facilite a ligação.
 
HOSPITAL ‘MARCELINO BANCA’ TEM OITENTA CAMAS
 
O Hospital ‘Marcelino Banca’ possui 80 (oitenta) camas para internamento de doentes em diferentes serviços, mas esse número torna-se insuficiente na época das chuvas, por se tratar de um período com um enorme volume de casos de paludismo. Nesses casos os responsáveis do centro aproveitam o edifício destinado às mães – Casa das Mães, para internar pacientes.
 
Numa visita realizada pela equipa de reportagem do Jornal O Democrata aos serviços do ‘Marcelino Banca’ constatou-se que a sala onde se internam as grávidas alberga igualmente os serviços pós parto. Os repórteres viram na sala mulheres grávidas e uma mãe que teve um bebé um dia antes da realização desta reportagem.
 
Para o transporte dentro da ilha de Bubaque, o hospital conta com uma ambulância doada pelo governo de Timor Leste. Os responsáveis hospitalares disponibilizaram os contatos do motorista aos populares para contatarem, em caso de urgência.
 
Em caso de uma urgência de evacuação para Bissau, como o hospital não dispõe de uma vedeta-ambulância rápida, os responsáveis do hospital ‘Marcelino Banca’ recorrem à administração local para solicitar apoio que por sua vez entra em contato com operadores turísticos, que colaboram regularmente, cedendo vedetas, assim como uma avioneta para transferência de doentes para Bissau.
 
Não obstante o apoio prestado pelos operadores turísticos, a questão que se coloca é do tempo de evacuação. Se o hospital tivesse uma vedeta própria, faria todas as evacuações quando achasse necessário, sem depender de terceiros. Pedir colaboração as outras entidades o processo de transporte do paciente torna o processo moroso.
 
“Quanto mais tempo durar a evacuação de um doente, mais complicações se trazem ao seu estado clínico. O seu tratamento torna-se mais complexo. Por isso, há uma necessidade de termos uma vedeta rápida para transporte de doentes, quando se justificar. Muitos doentes, em caso de evacuação das ilhas arredores, chegam aqui num estado crítico devido às dificuldades de transporte e saem daqui para Bissau com o mesmo atraso, aumentando assim o risco para o doente”, espelhou o responsável.
 
PALUDISMO É DOENÇA MAIS VERIFICADA NO HOSPITAL ‘MARCELINO BANCA’
 
O hospital de Bubaque ‘Marcelino Banca’ regista mais casos de paludismo associado à anemia, assim como casos de diarreias, contou o Médico e Diretor Clínico do centro de referência regional, Marino Pedro Lopes a trabalhar na ilha há quatro anos.
 
As grávidas muitas vezes chegam ao hospital ‘Marcelino Banca’ já num estado complicado, tudo por falta de uma evacuação atempada.
 
“Recebemos grávidas em mau estado. Sendo um centro de referência regional, todos os outros centros das onze áreas sanitárias da região evacuam os seus doentes para Bubaque. Nós aqui diagnosticamos o doente, se identificarmos o seu estado clínico e concluímos que é um caso que podemos tratá-lo, então seguimos com os tratamentos. Se o caso ultrapassar a capacidade do centro, transportamo-lo para Bissau, onde existe um hospital com equipamentos para responder casos críticos”, explica Marino Pedro Lopes.
 
O Hospital ‘Marcelino Banca’ é um centro do tipo ‘A’, que tem as suas limitações em termos do funcionamento, por isso, os responsáveis da região sanitária de Bubaque pedem, pelo menos, a abertura de um bloco operatório neste centro hospitalar com vista a resolver muitas urgências que os técnicos locais podem solucionar sem a necessidade de evacuação para Bissau. Por exemplo, muitas vezes somos obrigados evacuar as grávidas para Bissau para uma cirurgia obstétrica, algo que poderia ser feito em Bubaque.
 
O hospital ‘Marcelino Banca’ conta com os serviços de Pediatria que cobre a parte da Nutrição; serviço de PAF – da Imunização de crianças; serviço de Laboratório; de Maternidade; Urgência; Medicina interna; Oftalmologia; Fisiologia, onde são atendidos pacientes com tuberculose; Banco de socorro e Casa Mãe, que está na fase de acabamento em termos de construção, faltando apenas o bloco operatório começar a funcionar.
 
“Casa Mãe deve funcionar só com um bloco operatório. Casa Mãe sem bloco operatório não pode funcionar, por isso, há toda uma necessidade de termos um bloco operatório. É um serviço destinado às grávidas em alto risco obstétrico, que muitas vezes chegam ao centro num estado que exige a sua permanência no hospital até depois do parto. Como o centro tem pouca capacidade para manter as grávidas até ao parto, construiu-se a Casa Mãe que deverá funcionar com um bloco operatório”, detalha Pedro Lopes.
 
Lopes revelou ainda que, tendo em conta a insuficiência de técnicos, a direção do hospital solicitou mais pessoal médico e enfermeiros para o centro, acrescentando para a participação em alguns seminários, se ele se desloca a Bissau o centro fica descoberto de médico, fato que considera de inaceitável. Assim, se algum pessoal se desloca para Bissau, haverá outro para fazer-lhe cobertura, de uma forma rotativa.
 
TURISMO VECTOR DO VIH/SIDA NA ILHA DE BUBAQUE E BIJAGÓS
 
O enorme fluxo turístico da ilha de Bubaque fez dela uma zona vulnerável às contaminações com vírus da sida. Prova disso é o número de pessoas infetadas, cujo nível situado em 3,9 por cento na região das ilhas Bijagós constitui uma dor de cabeça para os responsáveis regionais de saúde.
 
Como qualquer centro de saúde, o hospital ‘Marcelino Banca’ de Bubaque faz tratamento de VIH/Sida e tuberculose – TB. No momento da realização desta reportagem, estavam internados dois doentes com TB e outros em tratamento ambulatório, que só vão ao hospital para a toma dos seus medicamentos.
 
No serviço de CTA, que lida diretamente com casos dos afetados com vírus da sida, ali há doentes que estão em tratamento ambulatório, onde estão a ser seguidos pelos técnicos.
 
Ainda o serviço de CTA tem doentes com coinfecção, ou seja, doentes com vírus da sida e ao mesmo tempo têm tuberculose. Em outras palavras, são pessoas com VIH/Sida associado à tuberculose, que também estão em tratamento ambulatório.
 
Na região sanitária de Bijagós – Bubaque apresenta um nível elevado da prevalência do vírus da sida, revela o diretor clínico do hospital.
 
“Em termos percentuais, temos um nível elevado. Bubaque é uma ilha turística onde aparecem diferentes pessoas. Devido à situação económica, as nossas jovens entram em relações de risco, acabam por afetar-se com vírus ou qualquer outro problema de saúde. Mas estamos sempre a sensibilizar as pessoas para usarem o preservativo no ato sexual. Podemos dizer que a situação do VIH aqui na ilha de Bubaque é lamentável”, confessou Marino Pedro Lopes aos repórteres do jornal O Democrata.
 
PEDRO LOPES: ‘É RARO VER CRIANÇAS DESNUTRIDAS NO HOSPITAL DE BUBAQUE’
 
Sobre a situação da desnutrição e em particular nas crianças que provoca anemias nessa camada, o Médico Clínico Geral admitiu que existem crianças com este problema, mas que é pouco frequente, tendo apontado a existência de mariscos em abundância nas ilhas e o seu consumo por parte da população tem vantagens, o que espelha o bom nível da nutrição na região.
 
Ainda nesse particular, Pedro Lopes assegurou que é raro ver as crianças desnutridas no hospital de Bubaque, porque o consumo dos mariscos provenientes do mar é frequente na zona. Mas o responsável clínico revelou que aparecem alguns casos menos graves que são, por exemplo, dos casos de desnutrição aguda moderada, que são tratados de uma forma ambulatória. Contou ainda que estas crianças são frequentemente tratadas no Centro de Recuperação Nutricional da Igreja Católica.
 
Segundo nos contou, os casos de anemias severas com necessidades da transfusão de sangue são associados ao paludismo. Lopes revelou que o banco de sangue não dispõe de condições para a conservação de bolsas de sangue, pelo que as transfusões são feitas de forma direta. Isto é, passando de um familiar para o paciente, de quem doa para quem recebe.
 
O diretor clínico considerou de insuficiente o número de camas disponíveis, tendo em conta as demandas, sobretudo na época das chuvas, quando as doenças são mais frequentes e aumenta drasticamente a procura aos serviços de saúde.
 
Marino Pedro Lopes contou que nessa estação do ano (época da chuva) registam-se mais pacientes em situações graves que precisam de internamento, pelo que são obrigados a improvisar espaços para o efeito. Adiantou que às vezes usam a Casa Mãe recém-construída para internar doentes.
 
Marino realçou a importância da existência de uma vedeta rápida que permita a evacuação de doentes em estado grave para Bissau, como forma de reduzir a perda de vidas humanas.
 
Recordamos que, a Fundação ‘Rosa Vaz’, da Primeira-Dama, aproveitou a terceira fase da ‘Presidência Aberta’ para doar ao hospital alguns equipamentos, compostos por kits de materiais escolares, injeções de soros, seringas, máscaras, batas e camisolas.
 
Na ocasião, a chefe do Gabinete da Fundação da Primeira-Dama, Marcelina Monteiro, em representação da Maria Rosa Vaz, sublinhou que o gesto vai continuar no sentido de poder minimizar as dificuldades que o referido centro enfrenta.
 
Marcelina Monteiro revelou que a fundação tem em manga um projeto já submetido aos parceiros pela instituição que representa, acrescentando que o referido programa colmatará muitas dificuldades dos diferentes hospitais do país.
 
Monteiro mostrou-se esperançado que os parceiros da Fundação Rosa Vaz vão financiar o projeto em causa, ajudando assim na materialização do desejo da Fundação.
 
O Diretor do Hospital, Domingos Barbosa, agradeceu na ocasião o gesto da Primeira-Dama, exortando-a para que continue. Barbosa aproveitou a ocasião para realçar a necessidade urgente de um apoio pontual ao centro de saúde devido ao seu isolamento.
 
O diretor disse ainda que os técnicos das finanças do hospital deparam-se também com dificuldade de deslocar-se para Bissau a fim de buscar dinheiro para colmatar algumas despesas do centro.
 
Domingos Barbosa quer ver melhorados alguns aspetos no hospital ‘Marcelino Banca’. Na sua visão, os referidos aspetos constituem prioridade para o centro de saúde de referência regional nas ilhas Bijagós.
 
Contudo, Domingos Barbosa reconheceu que não é possível que todas as dificuldades sejam resolvidas só de uma vez, mas elege a conclusão de bloco operatório, cuja construção estava em curso, mas foi interrompida. De seguida elegeu a cedência de vedetas-ambulância rápidas para efeito de evacuação de doentes, como sendo as prioridades para o referido centro hospitalar.
 
O Democrata soube que a Fundação Rosa Vaz já tem cinquenta lençois para oferecer ao hospital ‘Marcelino Banca’ de Bubaque, a doação destina-se para vinte e cinco (25) camas do centro de saúde.
 
Recorde-se que em termos administrativos, a zona insular é designada de região de Bolama e Bijagós, mas no domínio sanitário existe uma separação, ou seja, há Região Sanitária de Bolama e Região Sanitária de Bijagós (Bubaque).
 
 
Por: Alcene Sidibé/Sene Camará
Fotos: SC
Abril 2017