segunda-feira, 17 de abril de 2017

Opinião: A ÚLTIMA FOTOGRAFIA DE GUINÉ BISSAU

Por vários momentos, acreditou-se de que, a odisseia de Guiné-Bissau estava prestes a terminar, e que estaria logo a começar sua narração. Assim como os gregos, persas, Assírios, Ruandeses, Etíopes e cabo-verdianos já fecharam este livro e agora só o olham para reavivar a memória, prestar tributo àqueles que não conseguiram transpor o rio.

Ruanda, não obstante a presença colonial depois teve que lidar com a guerra fratricida que opôs irmãos: Hutus e Tutsis. Uma guerra patrocinada pelas grandes potências ocidentais e que sempre faço questão de lembrar, apesar das medias e imprensas falarem apenas em guerras fratricidas e étnicas.

A raiva e ódio, de quem não pertencia a sua etnia resultaram em morte de mais de 800 mil pessoas. Dentre os quais, homens, mulheres e crianças. Ruanda ficou destruída e teve suas mulheres estupradas e com almas esmagadas. Muitas cabeças foram cortadas, crianças decapitando crianças; tudo isto, aconteceu aos olhos nus da ONU, agências que dizem serem parceiros de desenvolvimento dos Africanos.


Ruanda depois teve sorte de encontrar um mais que presidente – Ilustre Paulo Kagame. Um homem que conseguiu através de concertação nacional, reunir os povos e irmãos ruandeses à volta daquilo que é mais sagrado e fundamental – Ser ruandês.

Hoje Ruanda é um país belo, forte, capaz, autossuficiente e exemplo de integração e bem-estar em África. Seu presidente, Paulo Kagame, dá e faz conferências em toda África e quase no  mundo inteiro (pesquisem sobre Ruanda). Ruanda teve sorte.

Quero que, o caro leitor de O Democrata entenda porque trouxe este exemplo, a população guineense já é pequena, em termos de números, imaginemos como ficaria após uma guerra igual à de Ruanda. A guerra étnica é dos piores que poder existir. O atual cenário político guineense tem descarrilado e tentando descambar para um lado perigoso. O caso 17 de Outubro é um exemplo de que, as mágoas de índole étnica só se apaga com o mesmo preço. Um militar afirmou categoricamente que, ele não sabia o que há entre Ansumane Mané e Nino Viera, mas foi movido pelo ódio de 17 de Outubro, que no entender dele tinha como alvo os balantas. Apenas como dever de memória. Hoje, quando temos um primeiro-ministro que faz discurso de que existem os anti-fula e os prós fulas, e vive carregando símbolos étnicos como vimos em Bafatá, o cenário desenha-se perigoso. Podemos perceber que a nossa sociedade tem mais gente calada com uma raiva irascível dos que estão na rua. E para piorar, afirmou na RFI o seguinte:- “felizmente sou fula”. Isto só chama atenção para o caminho que podemos estar a enveredar e, perigosamente caso o chamamento dele cair bem, no gosto dos fulas.

Tem-se falado muito na etnia ultimamente na Guiné, as pessoas têm sido apontadas através de sua etnia (“kil fula, kil manjacu ou kil pepel, enfim…). Os políticos sempre fazem questão de buscar naquilo que é fragilidade dos Africanos para fortalecerem suas bases ou convicções partidárias. Os guineenses precisam aprender a serem guineenses também. Assim como aprenderam a ser balantas, fulas papeis, Mandingas e etc. Também precisam aprender a chorar pelo hino e bandeira. Cada guineenses que move, move-se pela sua região e etnia. Os sucessivos processos na Guiné-Bissau têm demonstrado este retrato de Guiné. Todos sabem como presidente Nino Viera foi combatido, todos sabem do que presidente Koumba Yalá era acusado, todos sabem agora, de que atual Presidente é acusado.

Não podemos fechar os olhos para um problema real e presente na Guiné. Não sejamos hipócritas. “Cusas de etnia pudi bim tici guerra”.

Nem Amílcar Cabral, com o seu cunho intelectual, conseguiu criar uma unidade étnica sustentável, serviu apenas para luta armada, pois o inimigo era comum.

Nós precisamos dum primeiro-ministro, antes de tudo, guineense; precisamos de um presidente de república, antes de tudo, guineense e; também, precisamos ser todos e cada um guineense, antes de qualquer coisa. Atual quadro sociopolítico guineense deixa um retrato feio dos guineenses. Etnicismo não perdoa nem o jovem universitário guineense, isto é penoso. Com todo respeito às etnias guineenses e suas riquezas, mas para bem analisar, nada do que albergam as etnias guineenses a Guiné precisa para o progresso que sentimento de guineendade.

Esta é a nossa última fotografia. Um país fracassado, desviado, incapaz de estar à altura das grandes Agendas internacionais. Um país dividido por etnias, raças e religião. Um país sem expressão internacional, um país ironizado e ignorado por causa de instabilidade política crônica.

O que a Guiné tem de melhor afinal? São os guineenses e mais nada. É preciso que lutemos e trabalhemos para uma Guiné melhor. Caso contrário, o nosso retrato poderá ficar mais feio. A Guiné-Bissau é dos mais pobres países de mundo (PNUD, 2014), a educação de qualidade, praticamente, é inexistente, com uma boa percentual dos intelectuais fora da Guiné e maioria dos jovens em formação fora da Guiné, e a mercê do sistema de capitalismo global financeiro e selvagem, e pior, enfrentando a onda de conservadorismo reacionário que refloresceu.

Um país sem grandes projetos de desenvolvimento e política de promoção feminina. Nós precisamos ter gesto e mais gestos, gestos de unidade, gestos de mudança, gestos do bem comum e gestos de ter coragem para sonhar uma Guiné Bissau mais forte, unida, coesa e progressista.
No raça!


Por: Tamilton Gomes Texeira  
Estudante de ciências sociais