quinta-feira, 20 de abril de 2017

OPINIÃO

“MON-DI-TIMBA KA KIRIM DÉEE…”

Infelizmente se pode caracterizar salário na Guiné-Bissau, como cantou o expoente máximo da música moderna guineense, Justino Delgado. As entidades patronais (sobretudo públicas) não falham em prazo de pagamento, mas os salários nunca chegam. A realidade salarial, tanto no sector público como no privado, não valoriza nem atrai os quadros, com formação profissional, média ou superior na nossa terra. Salário praticado desde a independência, em vez de atrair, afugenta. Elas continuam a fazer orelhas moucas a esta questão tão candente. Por outro lado, na interpretação do povo, podemos afirmar que se transformou numa espécie de convite à corrupção, à delapidação do erário público. Se a noção de salário fosse entendida como contrapartida dos serviços prestados pelo empregado, na Guiné-Bissau, a interpretação é de que enquanto “o Estado finge pagar salário e os trabalhadores fingem trabalhar”. A postura clara dos trabalhadores tem sido de confrontação: “olho por olho, dente por dente”. Será assim até quando?

Os cidadãos e as famílias guineenses são empobrecidos a tal ponto que o “salário colonial” chega a superar, sem exageros, o que se pratica hoje (há quarenta anos) na nossa terra. O egoísmo dos nossos governantes é, neste aspecto, radical. Também parece que a visão vem a condizer com o caos generalizado no país. A luta entre facções políticas tem-se centrado na tentativa de abocanhar a fonte de riqueza e sua consolidação. A questão salarial nacional nunca constituiu matéria de debate parlamentar na nossa terra. O próprio Presidente da República, com pendor presidencialista, e economista de formação, tem proclamado o combate à corrupção, mas em nenhum momento ousou pôr o dedo na ferida, assumir que o salário praticado na Guiné-Bissau é, mormente, criminoso, ou que seja a questão salarial factor de corrupção.

O que nos dizem os entendidos nessa matéria, é que, na Guiné-Bissau, existe desfasamento dramático entre “salário real” e “salário nominal”. É o foco da questão! Não são coincidentes, porque aquilo que efectivamente o trabalhador recebe (salário nominal) não corresponde a capacidade de consumo do próprio trabalhador (salário real). Nunca foi, portanto, ponderado o facto de o “salário real” (poder de compra de bens/serviços) provir do “salário nominal” (moeda recebida) do trabalhador. É desses aspectos que os nossos dirigentes políticos deveriam falar, tendo em conta que o salário de um trabalhador, hoje em dia, não tem poder de compra nos produtos de “fuka-ndjai”, no mercado de Bandim. Mas, depois são eles os primeiros a vangloriar, dizendo que pagam “salário” na hora aos seus trabalhadores. É dito de tal maneira que aos trabalhadores parecem transformados simplesmente em mendigos.

Outra questão, ainda maior, relaciona-se com a clássica pergunta de como se pode viver num Estado onde não existem bancos de crédito/investimento, ou seja, onde não existe confiança para que os cidadãos possam investir o seu capital, tal como acontece em outras partes do mundo? Será que estas questões fazem parte da agenda dos nossos políticos?

Enfim, o salário praticado neste país que consideramos nosso, não dignifica os trabalhadores. Os trabalhadores nunca viram o sol. Não há um dia em os seus direitos não foram espezinhados pelas entidades empregadoras. As estruturas sindicais, por exemplo, foram literalmente assaltadas por agentes políticos infiltrados que as inibem em suas acções reivindicativas. E em termos, por exemplo, de postura dos nossos dirigentes, o actual Ministro das Finanças, segundo os rumores que correm, teve o desplante de avisar - logo após o seu empossamento – de que a sua missão não se destinava pagar as dívidas do Estado. Credo! E logo a seguir, vimos que de facto, a deliberação do senhor Ministro João Aladje Mamadu Fadia, apresentava “dois pesos e duas medidas”. É que, afinal, os ricochetes do senhor Ministro não eram invariáveis. A medida, no fundo, tinha destinatários. Se aplica mais ao povo indefeso, assim como os trabalhadores da “Guiné-Telecom” cuja dívida do Estado ronda já os oitenta meses de salário em atraso. E quando se tratava de grandes empresas, a situação muda de figura. O exemplo tem sido o caso da dívida do Estado para com a empresa Areski. Aí - meus amigos - a apreciação já aparece mitigado e serena.

Ora, o problema é ainda mais grave, quando a noção de corrupção da actual cúpula dirigente, tenda a ser travestida. Para o Primeiro-ministro Umaru Cissoko, corruptos são aqueles funcionários públicos que delapidam erário público. Correcto! Até aqui estamos de acordo. E se ele não o comete, tudo bem. Mas, na cabeça de Cissoko, parece nunca chegará a entender a diferença entre a sua postura política pública e a do, por exemplo, magnata americano que se tornou Presidente dos EUA,  Donald Trump. A diferença entre os dois, está no seguinte: se diz que Cissoko tem muito dinheiro. Mas, de toda a maneira, se desconhece a origem da sua fonte de riqueza. Cissoko, enquanto Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, se vangloria de nunca ter usado dinheiro do Estado nas suas actividades públicas. Enquanto o Presidente Donald Trump é um magnata reconhecido e a sua fonte de riqueza é de acesso público. Por outro lado, Trump – com todas as alcunhas ideológicas que merece - mas umas das diferenças gigantes será o facto de nunca ter usado o seu próprio dinheiro em actividades públicas do Estado Americano. Coisa que o Cissoko faz cá, sem pudor e sem nunca ter sido interpelado por quem de direito. E ainda ostenta que está a servir o povo guineense. Pergunto: qual dos dois “dirigentes” é corrupto? O Primeiro-ministro, Cissoko, quando ele próprio vangloria, dizendo que tudo que faz nessa qualidade sai do seu bolso, o que é que isso significa? Fá-lo a mando de quem e para depois pedir conta a quem, como já o fez com JOMAV, em relação ao cargo que hoje ocupa na Guiné-Bissau? 

 O conceito de corrupção também ganhou outra tonalidade quando o próprio Presidente JOMAV, presidencialista, em “Presidência Aberta em Gabú”, se gaba de ter mandado melhorar “salário” do sector castrense, sem se dedicar uma única palavra sequer a casos como os de trabalhadores da “Guiné-Telecom”. E, em Canchungo lançou uma mensagem às mulheres e a juventude guineense, dizendo: “É preciso perguntar: quem são os novos-ricos na Guiné-Bissau? Onde conseguiram as suas riquezas? Sabemos todos como é que se constrói a fortuna na Guiné-Bissau! Como é possível uma pessoa com muitas dificuldades e no curto espaço de tempo apresenta-se com uma viatura de luxo e uma mansão? Portanto, torna-se já uma pessoa da classe média. Ele consegue tudo isso, só porque teve possibilidade de passar pelo governo (…)”.  Mesmo assim, nem uma palavra do caso de trabalhadores da “Guiné-Telecom” que se definham na mendicidade para onde foram relegados pelo Estado (Ex-Secretário de Estado dos Transportes e Telecominicações, senhor João Bernardo Vieira). Ah, já sei a razão, para uns impera o medo da capacidade de estraçalhar (rasgar) a boca a qualquer um, com “lança-granadas” e outros é retoricamente invocado o princípio de “segredo de justiça”, para disfarças a insensibilidade política dos governantes em relação a causa dos trabalhadores, como acabamos de referir.

BAFATÓRIUUUU…
KA NHA MEDI,

NHA PUI!