OPINIÃO
“MON-DI-TIMBA KA KIRIM DÉEE…”
Infelizmente se pode caracterizar
salário na Guiné-Bissau, como cantou o expoente máximo da música moderna
guineense, Justino Delgado. As entidades patronais (sobretudo públicas) não
falham em prazo de pagamento, mas os salários nunca chegam. A realidade
salarial, tanto no sector público como no privado, não valoriza nem atrai os
quadros, com formação profissional, média ou superior na nossa terra. Salário
praticado desde a independência, em vez de atrair, afugenta. Elas continuam a
fazer orelhas moucas a esta questão tão candente. Por outro lado, na
interpretação do povo, podemos afirmar que se transformou numa espécie de
convite à corrupção, à delapidação do erário público. Se a noção de salário
fosse entendida como contrapartida dos serviços prestados pelo empregado, na
Guiné-Bissau, a interpretação é de que enquanto “o Estado finge pagar salário e
os trabalhadores fingem trabalhar”. A postura clara dos trabalhadores tem sido
de confrontação: “olho por olho, dente por dente”. Será assim até quando?
Os cidadãos e as famílias guineenses são
empobrecidos a tal ponto que o “salário colonial” chega a superar, sem
exageros, o que se pratica hoje (há quarenta anos) na nossa terra. O egoísmo
dos nossos governantes é, neste aspecto, radical. Também parece que a visão vem
a condizer com o caos generalizado no país. A luta entre facções políticas tem-se
centrado na tentativa de abocanhar a fonte de riqueza e sua consolidação. A
questão salarial nacional nunca constituiu matéria de debate parlamentar na
nossa terra. O próprio Presidente da República, com pendor presidencialista, e
economista de formação, tem proclamado o combate à corrupção, mas em nenhum
momento ousou pôr o dedo na ferida, assumir que o salário praticado na
Guiné-Bissau é, mormente, criminoso, ou que seja a questão salarial factor de
corrupção.
O que nos dizem os entendidos nessa
matéria, é que, na Guiné-Bissau, existe desfasamento dramático entre “salário
real” e “salário nominal”. É o foco da questão! Não são coincidentes, porque
aquilo que efectivamente o trabalhador recebe (salário nominal) não corresponde
a capacidade de consumo do próprio trabalhador (salário real). Nunca foi,
portanto, ponderado o facto de o “salário real” (poder de compra de
bens/serviços) provir do “salário nominal” (moeda recebida) do trabalhador. É
desses aspectos que os nossos dirigentes políticos deveriam falar, tendo em
conta que o salário de um trabalhador, hoje em dia, não tem poder de compra nos
produtos de “fuka-ndjai”, no mercado de Bandim. Mas, depois são eles os
primeiros a vangloriar, dizendo que pagam “salário” na hora aos seus trabalhadores.
É dito de tal maneira que aos trabalhadores parecem transformados simplesmente
em mendigos.
Outra questão, ainda maior, relaciona-se
com a clássica pergunta de como se pode viver num Estado onde não existem
bancos de crédito/investimento, ou seja, onde não existe confiança para que os cidadãos
possam investir o seu capital, tal como acontece em outras partes do mundo?
Será que estas questões fazem parte da agenda dos nossos políticos?
Enfim, o salário praticado neste país que consideramos nosso, não dignifica
os trabalhadores. Os trabalhadores nunca viram o sol. Não há um dia em os seus
direitos não foram espezinhados pelas entidades empregadoras. As estruturas
sindicais, por exemplo, foram literalmente assaltadas por agentes políticos
infiltrados que as inibem em suas acções reivindicativas. E em termos, por
exemplo, de postura dos nossos dirigentes, o actual Ministro das Finanças,
segundo os rumores que correm, teve o desplante de avisar - logo após o seu
empossamento – de que a sua missão não se destinava pagar as dívidas do Estado.
Credo! E logo a seguir, vimos que de facto, a deliberação do senhor Ministro
João Aladje Mamadu Fadia, apresentava “dois pesos e duas medidas”. É que,
afinal, os ricochetes do senhor Ministro não eram invariáveis. A medida, no
fundo, tinha destinatários. Se aplica mais ao povo indefeso, assim como os
trabalhadores da “Guiné-Telecom” cuja dívida do Estado ronda já os oitenta
meses de salário em atraso. E quando se tratava de grandes empresas, a situação
muda de figura. O exemplo tem sido o caso da dívida do Estado para com a
empresa Areski. Aí - meus amigos - a apreciação já aparece mitigado e serena.
Ora, o problema é ainda mais grave,
quando a noção de corrupção da actual cúpula dirigente, tenda a ser travestida.
Para o Primeiro-ministro Umaru Cissoko, corruptos são aqueles funcionários
públicos que delapidam erário público. Correcto! Até aqui estamos de acordo. E
se ele não o comete, tudo bem. Mas, na cabeça de Cissoko, parece nunca chegará
a entender a diferença entre a sua postura política pública e a do, por
exemplo, magnata americano que se tornou Presidente dos EUA, Donald Trump. A diferença entre os dois, está
no seguinte: se diz que Cissoko tem muito dinheiro. Mas, de toda a maneira, se
desconhece a origem da sua fonte de riqueza. Cissoko, enquanto
Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, se vangloria de nunca ter usado dinheiro do
Estado nas suas actividades públicas. Enquanto o Presidente Donald Trump é um
magnata reconhecido e a sua fonte de riqueza é de acesso público. Por outro
lado, Trump – com todas as alcunhas ideológicas que merece - mas umas das
diferenças gigantes será o facto de nunca ter usado o seu próprio dinheiro em
actividades públicas do Estado Americano. Coisa que o Cissoko faz cá, sem pudor
e sem nunca ter sido interpelado por quem de direito. E ainda ostenta que está
a servir o povo guineense. Pergunto: qual dos dois “dirigentes” é corrupto? O Primeiro-ministro,
Cissoko, quando ele próprio vangloria, dizendo que tudo que faz nessa qualidade
sai do seu bolso, o que é que isso significa? Fá-lo a mando de quem e para
depois pedir conta a quem, como já o fez com JOMAV, em relação ao cargo que
hoje ocupa na Guiné-Bissau?
O
conceito de corrupção também ganhou outra tonalidade quando o próprio Presidente
JOMAV, presidencialista, em “Presidência Aberta em Gabú”, se gaba de ter
mandado melhorar “salário” do sector castrense, sem se dedicar uma única
palavra sequer a casos como os de trabalhadores da “Guiné-Telecom”. E, em
Canchungo lançou uma mensagem às mulheres e a juventude guineense, dizendo: “É
preciso perguntar: quem são os novos-ricos na Guiné-Bissau? Onde conseguiram as
suas riquezas? Sabemos todos como é que se constrói a fortuna na Guiné-Bissau!
Como é possível uma pessoa com muitas dificuldades e no curto espaço de tempo apresenta-se
com uma viatura de luxo e uma mansão? Portanto, torna-se já uma pessoa da
classe média. Ele consegue tudo isso, só porque teve possibilidade de passar
pelo governo (…)”. Mesmo assim, nem uma
palavra do caso de trabalhadores da “Guiné-Telecom” que se definham na
mendicidade para onde foram relegados pelo Estado (Ex-Secretário de Estado dos
Transportes e Telecominicações, senhor João Bernardo Vieira). Ah, já sei a
razão, para uns impera o medo da capacidade de estraçalhar (rasgar) a boca a qualquer
um, com “lança-granadas” e outros é retoricamente invocado o princípio de
“segredo de justiça”, para disfarças a insensibilidade política dos governantes
em relação a causa dos trabalhadores, como acabamos de referir.
BAFATÓRIUUUU…
KA NHA MEDI,
NHA PUI!