Depois do pedido falhado de sanções à ONU, DSP volta a tentar com a CEDEAO
Marcel de Souza é bipolar: de um dia para o outro, passa de um tranquilo optimismo ao mais inquieto pessimismo, disparando em todas as direcções, ameaçando com sanções todos os actores políticos da crise guineense. Quando todos pensavam que vinha pedir explicações a quem o acusou fundamentadamente de mentiroso em segunda mão, chegou cheio de afectações e de falinhas mansas, para que o ajudassem a resolver o bico de obra em que se meteu, quando assimilou acriticamente as mentiras do mediador Alpha Condé, outro personagem seriamente afectado da mesma doença. Ora quando o árbitro enverga a camisola de uma das equipas em campo, perde forçosamente o seu estatuto.
Desafiados ambos a produzirem provas que sustentassem as suas afirmações de que teria sido Augusto Olivais o nome escolhido em Conacry, face às declarações do Primeiro-Ministro indigitado no quadro do referido acordo, não conseguiram nem souberam responder à altura, por evidente falta de argumentos.
Quanto às afirmações, no mesmo sentido, recentemente produzidas em Cabo Verde pelo dirigente do PRS que chefiou a delegação do seu Partido nessas conversações, o qual jurou em entrevista não ser verdade, teve o Presidente da Comissão da CEDEAO oportunidade para o confrontar directa e pessoalmente na sua visita a Bissau, mas ficou-se pelos elogios, olhos nos olhos (ou no "tête-à-tête"). Não consegue enfrentar quem lhe chama de mentiroso pelo nome, e vem depois tirar um Comunicado Final ameaçando com sanções, sem dizer a quem?
Pode vislumbrar-se a custo, com muito esforço de imaginação, um vago e pobre ensaio de argumentação, quando invoca, no referido comunicado, que é preciso respeitar "a letra e o espírito" do Acordo (ponto 9, alínea c). A "letra" propriamente dita não refere qualquer nome, será que entende por "espírito" o que lhe dá na real gana, para sua própria recreação e dos lobbies mafiosos já por demais conhecidos e desmascarados?
Como foi que apareceu a assinatura de Angola no acordo, será que também pertence à CEDEAO, ou são pressões antigas movidas por interesses inconfessos?
A longa mão de José Eduardo dos Santos estende-se bem para além da sua tradicional área de influência da África Austral e grandes Lagos: conhecido pela sua intolerância, domesticação da religião ao serviço do culto da sua personalidade, demolição de Mesquitas e mesmo massacre de gente religiosa e pacífica, como no caso do Monte Sumi (nunca esclarecido), não tem qualquer legitimidade para se imiscuir num processo no qual é parte interessada, continuando a procurar a desforra da humilhação que sofreu com a retirada forçada da MISSANG, na sequência do contra-golpe de 12 de Abril de 2012.
Todos conhecemos a parcialidade da diplomacia portuguesa (e da Agência Noticiosa lusa), envolvida em degradantes actos de subserviência ao ditador que reina em Luanda. Para exemplo, basta citar duas curtas passagens do tratamento que dão ao referido Comunicado Final, na "notícia" tirada há poucas horas, rapidamente republicada pelo Diário de Notícias ("curiosamente" de capital angolano)
1) Tomando por referência a alínea d) do ponto 9: depois de reproduzir o comunicado em tradução literal (sem aspas), "A missão da CEDEAO também exortou os dirigentes e os políticos guineenses a cessarem as declarações incendiárias e o incitamento à clivagem identitária entre os cidadãos", acrescenta, no mesmo parágrafo, "sem citar a quem se referia." Como quem não quer a coisa, no parágrafo seguinte, dão uma ajudinha ao leitor, "Recentemente, o primeiro-ministro, Umaro Embaló, afirmou que está a ser contestado por ser muçulmano." No mesmo ponto, pode ler-se que Marcel de Souza, para além de se ter aliado ao mediador Alpha Condé (já destituído por mentiroso), também pretende ser juiz em causa própria, convidando "os actores políticos a darem provas de circunspecção nas suas declarações públicas, e a absterem-se de todo ataque directo contra a instituição e a liderança da CEDEAO", nem que por "média interpostos". Qual liderança? Um verdadeiro líder não mente. O "ataque" já foi feito há muito tempo, não sabe como defender-se e vem armar-se em donzela ofendida? Pois o Ditadura do Progresso enfia a carapuça, e vem uma vez mais desmascarar e desmontar as manipulações em que este parece ser fértil, sem coragem para o assumir.
Mas voltando ao fraco e pedante argumento do espírito do acordo (para avivar a memória do senhor Marcel de Souza que parece fazer-se esquecido do que não lhe convém), este era explicitamente, e na sequência das peripécias desta infindável crise, encontrar uma solução governativa que garantisse a sustentabilidade governativa na ANP, face ao fracasso do PAIGC de DSP em consegui-lo, com a indicação de Carlos Correia para o cargo.
2) "Quatro dos cinco partidos com assento parlamentar não reconhecem o actual Governo". A má-fé é evidente, mesmo passando sobre as divisões no seio desses Partidos. Porque não dizer de outra maneira, bastante mais científica, do estilo "44 deputados num total de 102 não reconhecem o actual governo". Seria claramente mais profissional. Deixem-se de truques!
Voltando ao Comunicado: este é uma longa série de disparates e de incongruências. Na alínea b do ponto 9, constatam "que os Acordos de Conacry não foram cumpridos". Estarão, por sua vez, a chamar mentiroso ao Presidente do Senegal, que considerou recentemente que foram cumpridos na sua maior parte? (talvez tenha faltado a reintegração dos 15 deputados, imputável ao PAIGC de DSP e portanto sujeitando os respectivos actores às sanções de que falam?)
Estarão esquecidos do Comunicado da CEDEAO congratulando o Primeiro-Ministro Sissoko pela sua nomeação (no âmbito do Acordo)? E se consideram que não foi cumprido, por que razões pedem que se encetem negociações para incorporar o PAIGC de DSP no Governo? (alínea h do mesmo ponto 9) Reconhecem o Governo ou não reconhecem? Em que ficamos? Além disso, porque falam em Acordos de Conacry e não em simples Acordo, no singular?
Será que se referem ao Acordo de Bissau e ao Acordo de Conacry? É que tanta imprecisão importuna, para quem faz ameaças inconsequentes. Nesse contexto, será preciso recordar as declarações do senhor Bangoura (que pelos vistos também sofre de amnésia aguda) o qual em Setembro do ano passado afirmou à RFI que "tout le monde nous a dit ici, en Guinée-Bissau, que tout est à l’origine des divisions au sein du PAIGC"?
Que credibilidades terão estes senhores que dão o dito por não dito? O PAIGC (de DSP) nunca falou em Olivais em Conacry, para depois mover mundos e fundos para o tentar fazer acreditar. Mais tarde, no espírito do Acordo de Conacry, os dirigentes desse Partido foram convidados a participar proporcionalmente no Governo, e não só declinaram, como expulsaram os seus militantes que aceitaram cumprir com essa responsabilidade patriótica, no estrito cumprimento do estipulado; ora agora, já reconhecem o Governo e querem pastas? Andamos a brincar?
Mas falemos das sanções genéricas e sem nome, pois há quem já esteja a fazer leituras erradas. Essas sanções aos indivíduos e grupos foram criadas para lidar com golpes de estado (e já foram inclusive aplicadas - erradamente - a alguns militares guineenses mantendo-se, aliás, muito para além dos prazos razoáveis, contrariando os próprios elogios à postura das Forças Armadas tecidos neste Comunicado Final), ou para poderes que não respeitam as decisões judiciais.
A que actores devem estas sanções ser direccionadas? Com toda a propriedade, a quem promove o bloqueio dos órgãos de soberania, como Cipriano Cassamá, induzindo o "impasse actual", conforme referido no ponto 7 do mesmo Comunicado. Ou a quem promove a "multiplicação de declarações políticas belicosas e incendiárias; e a onda de manifestações civis e tensões a estas relativas", como as "entidades" fabricadas ou "grupos de indivíduos “ a soldo do PAIGC de DSP, conforme a alínea i do ponto 9. Ou a quem insulta um Chefe de Estado estrangeiro e se propõe afectar os interesses ou ameaça mesmo a vida dos seus cidadãos.
O Presidente da Comissão da CEDEAO está a sonhar alto, a fazer bluff e arrisca-se a perder o emprego, ao tentar induzir os guineenses em erro, se pensa que a Conferência de Chefes de Estado da sub-região discutirá sequer a sua aplicação, como pretendem alguns, a um Presidente democraticamente eleito, que apesar de ser diariamente insultado nas ruas a mando de certos actores políticos, não tomou quaisquer medidas de repressão contra essas manifestações de lesa-soberania encomendadas, inexpressivas e não representativas, levadas a cabo por meia dúzia de gatos pingados na capital, contra o sentir generalizado da população, manifestado no resto do país durante a sua digressão em PRESIDÊNCIA ABERTA.
Noutros países essas manifestações difamatórias e de mau gosto seriam impensáveis e duramente reprimidas. Medidas repressivas que aliás poderiam ser consideradas perfeitamente legítimas: que faria qualquer cidadão se visse alguém faltando ao respeito a um símbolo do seu país. Qualquer patriota poderia reagir, pois que todos os direitos e liberdades têm limites em toda parte do mundo democrático, pois que a democracia de verdade não se compactua com cenas e manifestações anárquicas como estas que recorrentemente vem sendo encomendadas por DSP e seus comparsas.