domingo, 22 de julho de 2018

BIGENE ESTÁ SEM ENERGIA ELÉTRICA POR FALTA DE CONSUMIDORES

[REPORTAGEM] O setor de Bigene tem um grupo de geradorde 87 KVA e em boas condições, mas não funciona devido a falta de potenciais consumidores para suportar as despesas da Central Elétrica. Esse fato deixou a pequena cidade sem energia elétrica pública e sem água potável.
A equipa de reportagem do jornal O Democrata esteve em Bigene e visitou as instalações da Central Elétrica local, cujas instalações foram construídas em 1958, ainda na época colonial.
Para conhecer os reais problemas da central, a nossa equipa procurou o senhor João Diamantino Gibril Baldé, que trabalha nos serviços energéticos do setor, desde a independência da Guiné-Bissau em 1973. É motorista e técnico da central.
Baldé aponta a pobreza como um dos fatores que impedem o fornecimento da energia elétrica, acrescentando que a falta de emprego jovem influencia também a falta de consumidores que pudessem suportar o funcionamento do grupo de gerador existente.
O responsável afirmou que o grupo de gerador de 87 KVA instalado na central elétrica tem capacidade de fornecer energia para toda sede setorial e algumas aldeias arredores.
O Democrata soube da existência de uma comissão composta na sua maioria porjovens que trabalha arduamente com objetivo de fazer funcionar a central, mas ainda tudo está numa incerteza, ou seja, ninguém sabe dizer para quando o setor terá a luz pública de volta as casas e as ruas de Bigene.
A Central Elétrica não possui nenhum fundo que lhe permita o restabelecimento da luz elétrica no setor.
João Diamantino Gibril Baldé avançou ainda que já reuniram várias vezes com os potenciais consumidores com vista a encontrar uma saída para todas as partes, para que haja a energia elétrica.
O calcanhar de Aquiles dos responsáveis da central elétrica tem a ver com o número reduzido de potenciais clientes que conseguiram identificar até a realização desta reportagem, fato que deixa a sua direção com muitas reticências.
“O número não nos permite arrancar com o fornecimento de energia elétrica. Temos um número de consumidores muito reduzidos em Bigene, por isso, insisto em apontar o emprego jovem como saída, pois acredito que se houver emprego jovem ultrapassaremos muitas situações”, assinalou João Diamantino Gibril Baldé.
BIGENE TEM ENERGIA MAIS BARATA DO PAÍS
Baldé afastou a questão de preço como a causa da falta de consumidores, sublinhando, neste particular, que o setor pratica o preço mais baixo para o consumo da luz elétrica a nível nacional, como forma de captar consumidores, mas a pobreza não facilita a estratégia, conclui o responsável.
“Mensalmente, alguns consumidores pagavam três mil francos CFA e outros 6 mil francos CFA”, nota João Diamantino Gibril Baldé para de seguida repisar que há interessados em consumo da energia elétrica mas num número muito pequeno.
A Central Elétrica de Bigene precisa de 200 ou 250 consumidores para garantir o seu funcionamento regular e eficaz. E mais uma injeção de mil e quinhentos litros de combustível.
“Com 250 consumidores de energia elétrica e mil e quinhentos litros de combustível,não vamos parar a não ser por problemas técnicos”, garante Baldé.
A recuperação da rede elétrica local foi materializada graças ao apoio do deputado da Nação Alai Sow, igualmente filho de Bigene. O falecido político Abel Encada também colaborou.
Os responsáveis da central disseram que vão precisar de cabos elétricos para uma eventual manutenção da rede existente, tendo em conta que há muito tempo que a central não funciona e alguns postes de luz caíram.
Vinte mil metros de cabos elétricos servirão para colmatar as necessidades que a rede apresenta neste momento.
BIGENE TEM UM FURO DE ÁGUA POTÁVEL QUE FUNCIONOU ATÉ 1973
O setor está sem rede pública de água potável, apesar de possuir um furo do líquido precioso existente desde a era colonial, mas que nunca funcionou depois da independência nacional a 24 de setembro de 1973.
O tal furo era apenas para abastecer os quarteis existentes no setor. Posteriormente, a rede de água fora alargada para algumas casas comerciais.
Depois da independência nacional, o Governo da Guiné-Bissau tomou a iniciativa de alargar a rede para diferentes zonas da pequena cidade de Bigene, mas o sistema nunca funcionou.
EMPRESA ASCON DANIFICA O FURO DE ÁGUA POTÁVEL DE BIGENE
João Diamantino Gibril Baldé acusou a empresa ASCON de ser o responsável pela danificação do furo existente desde a era colonial, sublinhando que ASCON estava a trabalhar na construção de alguns poços na zona e escolheu o furo construído na era colonial atras da central elétrica para tirar água para as suas obras.
Baldé foi ainda mais longe acusando ASCON de violar o cadeado que estava a proteger o furo em causa. O responsável disse que foi em meados de 2014 a 2015 que ASCON utilizou o furo, sem o consentimento dos responsáveis locais. Depois determinar os seus trabalhos,deixou a tampa aberta sem proteção, permitindo que as pessoas deitassem todo o tipo de lixo lá dentro, agora o furo está danificado, afirmou.
“A ASCON retirou o cadeado sem a nossa autorização e fez isso de uma forma propositada. Quando chegamos a uma casa que não é nossa, batemos a porta. AASCON não bateu a porta, além disso, violou o cadeado que protegia a tampa do furo. E hoje deixou-nos sem furo de água potável”, lamentou.
Bigene estudava a forma de aumentar o depósito de água, porque o que foiconstruído na era colonial  não satisfazia o número de clientes. A ideia foi sempre manter o furo. Porém, os populares apontaram o dedo acusador a empresa ASCON como quem o estragou.
Baldé apelou aos citadinos de Bigene para que ninguém consuma a água daquele furo, mesmo que se for recuperado no futuro, reiterando toda responsabilidade sobre a empresa de construções ASCON.
Questionado se a comunidade local não pretende processar judicialmente a ASCON pelos danos causados a população, João Diamantino Gibril Baldé disse que na altura levou o então administrador do setor, Tomé Almeida Ndenha, para que este constatasse os estragosprovocados pela ASCON. Acrescentou que cabe a quem de direito mover uma queixa-crime contra a empresa de construção, razão pela qual fezdeslocar o responsável máximo do setor para inteirar-se da situação.
“Cabe ao administrador atribuir as responsabilidades a empresa ASCON”, conclui João Diamantino Gibril Baldé. A Central Elétrica de Bigene conta atualmente com cinco funcionários.
ELETROBOMBA FOI RETIRADA DE BIGENE E LAVADA PARA BULA
O Chefe de Tabanca de Bigene, Queba Camará, disse que a primeira paragem do funcionamento do furo tem a ver com a retirada da eletrobomba do local que terá sidolevado para Bula, sem entrar em detalhes sobre a remoção de eletrobomba.
O ancião lembrou que muitos especialistas passaram por Bigene e examinaram a água do furo, tendo-a considerado de boa a qualidade.
Queba Camará alinhou-se com o técnico da central João Diamantino Gibril Baldé em acusar a empresa ASCON de ser a responsável pela danificação do furo. Adiantouainda que, em 1996, uma empresa francesa tinha construído um furo que nunca funcionou, porque o projeto foi interrompido por causa da guerra civil de 7 de junho de 1998. Esse furo também foidanificado pelos citadinos que deitaram pedras e outros objetos dentro dele.
Atualmente, a maioria dos citadinos consome a água de uma bomba manual construída numadas escolas. Apesar de ser uma alternativa, Queba Camará disse que o setor precisa de uma rede extensa que responda às demandas da população local.
Voltando à questão da eletricidade, o Chefe da Tabanca disse que não  luz elétrica,porque muitos dos parcos 50 consumidores existentes não pagam os consumos mensais. Enalteceu os apoios de Alai Sow que segundo ele, apoiava com 400 litros de combustível para o funcionamento da central.
“Alguns consumidores pagam, mas outros recusam pagar os seus consumos mensais. Porisso a central não pode funcionar, apesar de não ter nenhum problema técnico”, lamenta Camará.
Na altura que havia a luz elétrica, os consumidores pagavam mil francos CFA para cada lâmpada que possuíam. Quem tivesse televisor pagava 5 mil francos CFA incluindo as lâmpadas que tem.
AFABU PRETENDE SOLUCIONAR A SITUAÇÃO DE ÁGUA E ELETRICIDADE
A Associação dos Filhos e Amigos de Bigene unido (AFABU) realizou um estudo de viabilidade no setor energético e da água potável para Bigene, cujos resultados já se encontram nas mãos dos seus parceiros.
A AFABU fez o levantamento com objetivo de saber que tipo de fonte energética será melhor para o setor, entre a fóssil e de energia renovável.
Em declaração ao jornal O Democrata, o presidente de AFABU, Ibo Camará, disse que Bigene é uma cidade bem canalizada em termos de água potável, sublinhando que apenas os furos de água é que estão com problemas, o que considera ser umasituação pequena e ultrapassável, mas que ninguém parece estar interessado em resolver.
Camará avançou ainda que há filhos de Bigene fora e dentro do país disponíveis para custear a recuperação dos dois furos, assim como existem bigenenses que manifestam a vontade de financiar a recuperação da central elétrica e apetrecha-la ainda com um novo grupo de gerador.
O estudo de viabilidade económica realizado pela AFABU concluiu que poderá arrecadar 7 milhões de francos CFA com todas as despesas possíveis, caso forneçaa energia dentro da pequena cidade de Bigene e às tabancas arredores.
Ibo Camará acredita que a eletricidade ajudará e muito a população local que, em sua sua opinião, está dependente de muitos produtos do Senegal, como é o caso de gelo e água fresca, que os populares produziriam internamente com o restabelecimento da energia elétrica no setor.
Atualmente, uma organização árabe está a construir um furo de água potável em Bigene, concretamente, no Bairro de Bantandjam, onde será instalada um depósitocom capacidade de 30 mil litros.
Quando recuperarmos o antigo furo de água e com o funcionamento da central, teremos a possibilidade de fazer uma fusão da reserva de água para distribuir aos populares de Bigene”, nota Ibo Camará.
A AFABU perspetiva a recuperação de algumas canalizações de água atingidas aquando na instalação dos candeeiros solares em Bigene.
AFABU PRETENDE LEVAR ENERGIA AS ALDEIAS DE BIGENE
A AFABU perspetiva 24 mil metros de cabos elétricos para o fornecimento da energia elétrica às casas de Bigene e às aldeias arredores. Oito mil serão utilizados para a rede interna, ou seja, dentro da sede setorial e o resto para levar a luz elétrica àstabancas.
Ibo Camará promete queu a AFABU fabricará postes de luz em betão armado, localmente,em colaboração com a comunidade local, acrescentando que não seránecessário ir comprar os postes de luz na Europa.
“Aqui em Bigene, se tivermos matéria-prima, podemos fabricar os postes metálicos e postes em betão armado. Não é nada de fictício, mas é por isso que os nossos pais dedicaram-se àagricultura e nos deixaram ir à escola. Agora é nossa obrigação pôr os conhecimentos que adquirimos na prática e melhorar a vida dos nossos pais. Estes projetos são de curto, médio e longo prazo”, esclareceu.
Garantiu que o fabrico de postes de luz terá um orçamento muito reduzido. Ibo Camará,igualmente Engenheiro de construção civil, disse que será ele quem coordenará todos os trabalhos, desde a concessão até a produção dos postes.
 
 
Por: Sene CAMARÁ
Foto: SC
junho de 2018