sexta-feira, 20 de julho de 2018

Editorial: JORNALISTAS E PROCESSO ELEITORAL NA GUINÉ-BISSAU

Hoje na Guiné-Bissau, as grandes referências da tradição guineense foram destruídas pela sociedade política sem que se propusesse à juventude um novo modelo de referência. Reina mais no país, actualmente, novos prazeres dos políticos despromovidos de novos valores, de referências culturais da tradição democrática nacional.
A cinco meses de mais um processo eleitoral, a Guiné-Bissau é uma sociedade completamente líquida onde tudo se dissolveu no fascínio pela compra de consciências, sobretudo da juventude, a força motriz da sociedade, para conquistar votos nas urnas. A juventude guineense é, hoje, uma espécie de arma de arremesso dos líderes da nossa sociedade política. Ela está presa entre a possibilidade de participar de forma apropriada no próximo processo eleitoral e lutar pela sua própria sobrevivência social, política e intelectual na esfera pública.
A dissolução das grandes referências da tradição guineense pela sociedade política nacional não teve, e tudo indica que não terá efeito social positivo para a juventude depois das legislativas de 18 de novembro de 2018. Abriram-se outra vez as portas para os mais velhos da nossa sociedade política nacional. E o próximo processo eleitoral é e será a primeira etapa da luta da juventude contra a corrente de fascinação de compra das suas consciências.

No próximo processo eleitoral, a juventude deveria sair da sua zona de conforto e ajustar a sua vida ao seu pensamento intelectual para acabar, de uma vez por todas, com a tentação da nossa sociedade política de auto-regular todos os problemas económicos, sociais e intelectuais do país pela violência verbal nos média.
É perante esta grande desorientação do pensamento intelectual da nossa juventude, cada vez mais a viver num fechamento de horizontes de possibilidades, que ela sente dificuldades de encarar a nossa sociedade como ela é, e encontrar nela um lugar intelectualmente sólido, que os jornalistas e os média nacionais devem olhar para o próximo processo eleitoral. Por outro lado, os observadores internacionais questionam também neste momento o seguinte: “num país em que se formou um governo de consenso alargado, será que as próximas eleições legislativas, serão justas, livres e transparentes, um país que emergiu de três anos de uma crise política parlamentar e de estagnação económica?”
Em resposta à esta questão, como é óbvio, os eleitores guineenses esperam que os jornalistas e os média, também eles saídos de três décadas da censura, os governantes e líderes da sociedade política mantê-los-ão informados, reportando minuciosamente os acontecimentos eleitorais de forma justa, sem parcialidade nem pressão dos candidatos e dos partidos políticos.
Os eleitores guineenses esperam ainda que os jornalistas e os média nacionais reportem, no próximo processo eleitoral, não apenas questões sobre os partidos políticos e os candidatos às eleições legislativas, mas também sobre as questões-chave da cidadania e da transparência eleitoral. Os jornalistas e os média nacionais devem preocupar-se com a questão da produção de conteúdos com qualidade eleitoral e boas práticas éticas do jornalismo durante o processo das legislativas de 18 de novembro deste ano.
As eleições, em qualquer país de mundo, são sempre um processo jornalisticamente tipificado. Assim sendo, a cobertura jornalística das próximas legislativas de 18 de Novembro é muito mais arriscada do que fazer reportagens sobre a vida quotidiana dos guineenses e os seus problemas. As preocupações eleitorais dos eleitores nacionais são fundamentais. Por isso, os jornalistas e os média devem descobrir as principais preocupações dos eleitores que devem colocar aos partidos políticos e aos candidatos às próximas eleições legislativas. Ou seja, os jornalistas e os média nacionais devem saber que no próximo processo eleitoral, a preocupação dos eleitores são fundamentais porque são eles que votam.
No próximo processo eleitoral os jornalistas e os média devem verificar muito bem os factos eleitorais a serem publicados. Tudo porque na próxima campanha eleitoral haverá vários tipos de inquéritos de opiniões públicos nas redes sociais que os partidos políticos e os candidatos tentarão mostrar nos média como prova estatística das suas vantagens eleitorais.
Os jornalistas e os média não devem acreditar em nada. Devem desenvolver, antes de início da campanha eleitoral, uma lista de contactos de especialistas e de instituições confiáveis, nacionais e internacionais, para verificar as afirmações dos partidos políticos e dos candidatos.
Os jornalistas e os média nacionais devem também ter muito cuidado com as pesquisas de opinião nas redes sociais. Devem tratar com muita atenção as pesquisas que surgirão nas redes sociais como base de uma cobertura eleitoral da próxima campanha na Guiné-Bissau. Deverão colocar perguntas sobre as pesquisas de opinião pública publicadas nas redes sociais antes de divulgá-las. Como por exemplo: Quem encomendou e pagou a pesquisa? Qual é a empresa da pesquisa que fez o inquérito? Quando e como a pesquisa foi conduzida? Quantos e quem foram os inqueridos? Qual a metodologia usada e qual é a margem de erro da pesquisa? (…). Os jornalistas e os média nacionais devem igualmente questionar o valor noticioso da pesquisa de opinião pública antes da sua publicação e se os seus novos resultados são diferentes aos das outras pesquisas de opinião pública.
Em suma, os jornalistas e os médias nacionais devem saber muito bem que têm um papel insubstituível no próximo processo eleitoral do país. Devem saber, e de que maneira que os cidadãos eleitores nacionais precisam de ter acesso às informações suficiente e realista sobre os partidos políticos e os candidatos e o processo de eleição, para que possam fazer escolhas esclarecidas e responsáveis nas assembleias de voto. Por outras palavras, os cidadãos eleitores estão a espera que os jornalistas e os média nacionais sejam sempre equilibrados, imparciais e verdadeiros nas notícias que produzirem sobre o próximo processo eleitoral de 18 de Novembro de 2018.

Por: António Nhaga
Director-Geral/editor principal