Numa sociedade líquida como a nossa Guiné-Bissau, caracterizada por constantes mudanças que inviabilizam o estabelecimento de hábitos e rotinas de auto-regulação na produção de conteúdos de qualidade nos média, torna-se difícil que as notícias e a verdade sejam a mesma coisa. A liquefação fragmenta sociedades como a nossa, levando as instituições políticas, partidos políticos e os seus líderes, a perderem na balança da democracia o peso da verdade e a semearem apenas as notícias como raiz da sua estratégia política para conquistar um conjunto de bandeiras de populismo democrático.
É perante esta realidade que os jornalistas e os média, no caso do nosso país, devem prosseguir, sobretudo durante o processo eleitoral, o caminho de uma nova estratégia alternativa para poder instaurar no discurso político a disciplina da verificação que permita a coincidência entre o corpo da notícia e o da verdade.
Os jornalistas e os média do nosso país devem saber, sem equívocos, que a função das notícias é assinalar apenas um evento que aconteceu sem verificar nem estabelecer relações entre os elementos internos do próprio acontecimento. E, por outro lado, a função da verdade é de trazer a luz do dia os elementos escondidos (que os políticos escondem), no interior dos seus discursos e confrontá-los no sentido de construir uma real imagem referencial, informativa e política na sociedade.
Na política, em particular, nas sociedades líquidas como a nossa Guiné-Bissau, é difícil o corpo da verdade e o da notícia coincidirem, porque os discursos dos líderes dos partidos políticos nunca transportam consigo a disciplina da verificação que permita a confrontação dos elementos escondidos no interior dos factos discursivos da liderança política.
Os jornalistas e os média da Guiné-Bissau podem e devem vencer a guerra pela verdade. Se eles torturarem de forma adequada os discursos dos líderes políticos nacionais, acabarão com o pensamento político nacional de que quanto pior for a situação social do país, melhor será para a política, porquanto no contexto da crescente crise política institucional e da desorientação intelectual da juventude abrem-se as portas para a implementação das estratégias da corrupção e da compra de consciências políticas como valores da democracia e da dignidade humana.
A recolha de informação política na Guiné-Bissau é, sem dúvidas, uma das etapas fundamentais da produção jornalística de notícias cujo seu corpo coincide com o da verdade. Mas, infelizmente na prática, os jornalistas e os média nacionais desenvolvem e cultivam mais as estruturas de fontes de informações dos lideres dos partidos políticos.
Isso faz prevalecer mais corpos de notícias de que o da verdade na nossa esfera política mediática. Tudo porque a oportunidade e a convivência dos Jornalistas com a sociedade política influenciam e determinam ainda mais a produção de notícias do que a da verdade na política nacional.
Na política guineense, os líderes dos partidos políticos não podem e nem devem ser considerados fontes de informação com o corpo da verdade. São apenas corpos de notícias que promovem o populismo democrático sem fundo da verdade que possa aglutinar os nossos cidadãos em torno de bandeiras específicas do desenvolvimento económico, social e cultural.
Os líderes políticos nacionais, como fontes de informações, deveriam assumir o papel de fornecer a verdade informativa aos cidadãos guineenses para que sejam protegidos de praticantes sem escrúpulos, incompetentes e sem ética. Ou seja, fornecer informações realistas ao serviço público nossa esfera pública mediática.
Infelizmente, como é de conhecimento geral de Zé-Povinho de Bandim, toda a informação dos líderes políticos nacionais é de característica de corpo de notícias que exige dos jornalistas uma aplicação profunda da disciplina de verificação do contraditório e comprovação em todos os Média guineense, nas Instâncias Internas e Externas de produção de conteúdo jornalístico de qualidade.
Por: António Nhaga
Director Geral
Director Geral