sexta-feira, 20 de julho de 2018

BISSORÃ TEM A MAIOR CENTRAL ELÉTRICA DO PAÍS, MAS É UM SETOR ÀS ESCURAS

[REPORTAGEM] A cidade de Bissorã, região de Oio, no norte da Guiné-Bissau, dispõe de uma central eléctrica que tem a capacidade de produzir 800 kilowolts da energia elétrica, mas neste preciso momento é um setor às escuras. A empresa multinacional PROSOLIA Energie de l’Afrique instalou uma central do sistema ‘backup’, com uma produção fotovoltaica de 500.30 quilowatts, além de dois grupos de geradores de 70 kW cada e uma reserva de baterias entre 400 e 500 mil amperes.

A central elétrica de Bissorã é neste momento a maior a nível nacional, mas há cerca de dois meses o setor está sem fornecimento da luz elétrica por parte da estrutura do Ministério da Energia local.

A construção da central terminou em Novembro de 2017 e a instalação da nova rede de média e baixa tensão foi concluída em Dezembro. A rede de baixa tensão é de onze quilómetros e meio e a de alta tensão é de três quilómetros e meio.

A construção de ambas terminou nos finais de Dezembro e princípio de Janeiro de 2018. Depois da instalação das redes, a central ficou em condições de fornecer a energia aos consumidores.
Com as obras terminadas, a empresa PROSOLIA Energie de l’Afrique aguarda que União Económica dos Estados da África Ocidental (UEMOA), na qualidade do financiador, receba a obra para posteriormente entregá-la ao Governo da Guiné-Bissau.
O atraso na receção da obra por parte da UEMOA fez com que a PROSOLIA Energie de l’Afrique não pudesse avançar com o processo de conexão às casas dos consumidores.
O fornecimento da energia funcionará num sistema pré-pago, cujos 450 contadores para a primeira fase já se encontram no escritório de PROSOLIA em Bissau, assim como os cabos de conexão às casas.
A PROSOLIA Energie de l’Afrique está preocupada com a situação que já está pronta, mas não pode funcionar. A empresa já reportou várias vezes às autoridades competentes a situação, assim como manifestou a sua preocupação com os equipamentos que estão a envelhecer sem trabalhar. A central já leva cerca de oito meses sem trabalhar, fato que inquieta a população local.
A central está instalada no bairro de Argentina e é constituída por 1887 (mil oitocentos oitenta e sete) painéis solares equivalentes a 265 watts e as 432 baterias de reserva são de 2000 (dois mil amperes), 17 inversores de 25 quilowatts e 54 inversores de 6000 quilowatts e os dois grupos de geradores com capacidade de 70 KVA’s cada.
O delegado da empresa PROSOLIA Energie de l’Afrique na Guiné-Bissau em Bissorã, Aimé Parfait Kandety, tem que aturar quase todos os dias as perguntas das populações sobre a situação da central.
PROSOLIA AGUARDA O GOVERNO E UEMOA PARA ENTREGAR A CENTRAL
Em declarações ao repórter do jornal O Democrata, Aimé Parfait Kandety disse que a sua instituição está interessada em ver a central funcionar e apelou ao Governo da Guiné-Bissau para usar a sua influência junto de ‘SABER UEMOA’ e a própria UEMOA para acelerar o processo de recepção da central.
A PROSOLIA está obrigada a permanecer em Bissorã, onde realiza os controlos de rotina dos equipamentos, assim como cuida de uma equipa de guardas que mantém a segurança do parque onde estão instalados os painéis, geradores, uma casa de baterias e inversores.
Aimé Parfait Kandety acredita que se a central começar a funcionar normalmente, dará outra dinâmica ao setor, desde a vertente comercial à educacional, facilitando os estudos das crianças e jovens, assim como ajudará na iluminação e conservação dos medicamentos no centro de saúde local. Também a energia elétrica vai dinamizar as escolas, sobretudo no que tange à instalação de equipamentos informáticos, assim como nas aulas nocturnas.
As instituições públicas e privadas que operam no setor terão uma energia mais barata e mais estável. O setor outrora a capital da Província Norte, é a sede do Tribunal da Província Norte da Guiné-Bissau e com um departamento do Ministério Público.
A central produzirá entre 700 a 800 kilowatts de energia, uma quantidade superior às necessidades da população atual da cidade em termos de energia, de acordo com Aimé Parfait Kandety. Mesmo que todos os citadinos de Bissorã conectassem a rede, consumiriam apenas 80 por cento na produção total da central. Ainda segundo as estimativas da PROSOLIA, apenas 40 por cento da energia elétrica será consumida pelos clientes.
Tendo em conta a grande quantidade de energia que vai sobrar de acordo com as estimativas da PROSOLIA, a nossa equipa de reportagem questionou o delegado da empresa se a sua instituição não pretende solicitar o alargamento da rede elétrica para fazer a cobertura de uma parte do setor de Mansoa que fica a 24 quilómetros. O responsável e também técnico da empresa respondeu que a situação é um bocado complexa, tendo em conta o custo do alargamento da rede e o valor a que a energia será vendida.
Por outro lado, Aimé Parfait Kandety sublinha que se o custo de alargamento da rede for muito alto, é melhor deixar que o número de consumidores aumente.  Quem sabe se passado um ano o volume de consumo possa aumentar, pelo aumento do número de clientes!?
A cidade de Mansoa receberá, se tudo correr como previsto, a energia elétrica proveniente da Barragem da República da Guiné-Conacri no âmbito da OMVG.
“Bissorã já está preparada para receber a energia da OMVG, talvez daqui a 4 ou 5 anos. Mesmo se a população de Bissorã começasse a superar a capacidade desta central, nessa altura provavelmente chegará a Bissorã a rede da OMVG. Prevemos e preparamo-nos para receber a rede OMVG, que será acoplada à rede atual, mas o sistema continuará a funcionar muito bem. A rede poderá ser alargada a partir de Bissorã até a seção de Binar, assim como às aldeias nos arredores de Bissorã”, explicou.
CENTRAL ELÉTRICA VEM RESPONDER ÀS NECESSIDADES DE BISSORÃ
Aimé Parfait Kandety acredita que a central elétrica de sistema backup vem responder às necessidades do setor no que tange a falta da energia, apontando a organização não-governamental ADPP – Ajuda ao Desenvolvimento de Povo para Povo que instalou uma pequena fábrica de descasque da castanha de cajú, outra de produção de gelo e uma cerração (carpintaria), necessitando ambas as industrias de uma energia estável para manter o seu funcionamento regular.
Bissorã já tinha um centro de transformação da castanha de cajú, mas que nunca funcionou. Kandety sublinha que com o início do fornecimento da energia elétrica talvez o dono da fábrica de descasque de cajú opte por abrir as portas, tendo em conta que terá uma energia barata e estável.
PROSOLIA Energie de l’Afrique tem as pequenas indústrias como os potenciais consumidores da energia que a central irá produzir, assim como serve de um bom sinal, tendo em conta que indica que a energia será produzida e terá consumidores, facilitando assim a amortização do investimento aplicado. Com a operação em pleno da central dentro de dois anos, o delegado tem esperanças de atrairá mais investimentos para o setor de Bissorã.
NOVA CENTRAL ELÉTRICA MINIZARÁ O PROBLEMA DE ÁGUA
O funcionamento em pleno da central elétrica aliviará a dificuldade em água que o setor enfrenta todos os anos. PROSOLIA Energie de l’Afrique alargou o cabo da rede até junto da central de água de Bissorã com vista a facilitar essa estrutura na conexão a rede pública.
Nos últimos tempos, o setor de Bissorã tem enfrentado dificuldades de falta de água e de energia por falta de combustível para fazer funcionar o único grupo de gerador que o setor dispõe atualmente.
A central elétrica de Bissorã foi orçada em um bilhão, cento e cinquenta milhões de francos CFA, incluindo a instalação da rede.
PROSOLIA Energie de l’Afrique prioriza no início de conexão elétrica às instituições de interesse público, desde hospitais, igrejas, escolas, instituições públicas e privadas e perspetiva instalar 450 contadores, para 450 consumidores na primeira fase. Este número está contemplado dentro do projeto de construção da central e de alargamento da rede, se começar a operar a empresa adquirirá novos contadores para responder as demandas dos consumidores.
PROSOLIA Energie de l’Afrique é uma organização que atua no domínio de energias renováveis. Construiu a central elétrica em Bambadinca, no projeto elétrico denominado ‘Bambadinca Sta Claru’. Em Bissorã construiu assim a sua maior central na Guiné-Bissau. PROSOLIA é uma empresa com estruturas em Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau e pretende ser a solução energética no país relativamente a energia renovável.
Depois da entrega da central, a PROSOLIA Energie de l’Afrique pretende continuar a prestar a assistência técnica, como faz em Bambadinca, assim como deseja tomar parte no comité que vai assumir a gestão e o funcionamento da central, porque Bissorã não dispõe de uma equipa técnica treinada para assegurar a gestão da central. A empresa quer também acompanhar a central de perto, garantindo o seu regular funcionamento.
BISSORÃ ESTÁ HÁ ANOS SEM ENERGIA ELETRICA REGULAR
O Setor de Bissorã possuía uma central térmica que deixou de funcionar há muitos anos, devido as situações de várias ordens: problemas técnicos e mais tarde o edifício da central foi assaltado. Os malfeitores roubaram algumas peças, fato que complicou ainda mais as dificuldades já existentes.
O assalto fez com que os responsáveis setoriais da delegação da energia decidissem transportar o grupo da central para uma área mais segura, mesmo não estando a funcionar, evitando assim que os ladroes voltassem com a intenção de levar a própria central de fabrico russo.
Praticamente, a cidade de Bissorã beneficia de energia graças a grupos de geradores com capacidades inferiores, alguns oferecidos por políticos. O grupo que ainda sobrevive foi doado pelo Governo da Guiné-Bissau, mas devido à falta de combustível, deixou a cidade sem água e as escuras.
Os candeeiros solares iluminam algumas ruas da cidade, os pequenos geradores servem de alternativas para gerar energia nos estabelecimentos comerciais e nas casas durante a noite. Algumas casas instalaram painéis solares e outras improvisaram luzes com suporte em baterias para iluminar suas residências.
O representante da PROSOLIA Energie de l’Afrique na Guiné-Bissau revelou à nossa equipa de reportagem que estão com dificuldades financeiras, devido ao atraso na receção da central pela UEMOA, tendo em conta que a empresa recorreu aos bancos para materializar a obra e aguarda o pagamento do financiador.
PROSOLIA quer ver a central em operação para começar a exploração dos equipamentos instalados, tendo em conta que a célula fotovoltaica está exposta a radiação solar e envelhece a cada dia que passa e também as baterias que são componentes químicos. Tudo isso justifica uma urgente necessidade de começar a utilizar a central.
Os painéis solares têm uma garantia de 25 anos para uma produção a cem por cento e as baterias têm 10 anos de vida.
Recentemente, o Secretario de Estado da Energia visitou o setor e prometeu uma solução para breve, ou seja, no máximo ate o mês de Agosto.


Por: Sene CAMARÁ
Foto: SC