terça-feira, 11 de setembro de 2018

MULHERES MUTILADAS DURANTE O PARTO PARA DAR MAIS PRAZER AO MARIDO

Chamado "ponto do marido" é feito sem autorização das mulheres, que sofrem com relações sexuais posteriores.
 
Uma nova reportagem está a colocar em destaque o chamado "ponto do marido", uma prática comum no Brasil que consiste em dar pontos 'extra' na vagina de uma mulher após o parto para que a mesma fique mais "pequena" e ofereça mais prazer ao homem. 
 
O corte abaixo da vagina é tão comum entre médicos brasileiros que, muitas vezes, as mulheres nem são avisadas do procedimento, muito menos informadas que o mesmo não é considerado necessário na maioria dos casos pela Organização Mundial da Saúde.

A reportagem
"Ponto do marido" aborda o tema, falando com mulheres que passaram pelo fenómeno e ficaram com problemas. Muitas deixaram mesmo de conseguir manter relações sexuais sem sentir dor. 
 

Um dos casos retratados é o de Cema Alves que, ao dar à luz o segundo filho, ouviu um diálogo entre a enfermeira e o médico. "Ela perguntou: 'Doutor, vai fazer o [ponto] do marido?' Ele falou: 'Vou fazer dois para garantir'".

Humberto Keiji, o médico, foi confrontado com o sucedido e garantiu não entender qual era o problema. "Isso é rotina. Vai perguntar se faz ou não? Não é decisão dela", disse.

Os dois pontos a mais no corte feito na vagina seriam para a deixar "apertadinha" para aumentar o prazer do parceiro, mas acabaram por a deixar com dores durante o ato sexual. 
 
Segundo a reportagem, a episiotomia, o corte abaixo da vagina durante o parto, deveria ser usado apenas em casos pontuais e necessários, mas acaba por ser usada em 53,5% dos casos no Brasil.

O problema? Não há provas científicas de que este seja necessário, o mesmo não pode ser feito sem autorização da paciente e a costura posterior não pode ir além do corte vaginal dito 'natural' para satisfazer o parceiro (daí o nome "ponto do marido"). A OMS adianta mesmo que "não há nenhuma evidência que prove a necessidade da episiotomia em qualquer situação". A taxa de corte no Brasil é alta por ignorância e muitos médicos recusam-se a encarar a prática como um problema, mas já há quem a considere como uma "verdadeira mutilação genital feminina".

Numa gravidez posterior, Alves voltou a ser confrontada com o mesmo procedimento por parte de uma chefe de obstetrícia. "Ela disse que me ia cortar e, antes que eu pudesse dizer não, ela já tinha enfiado a tesoura", revela.

Para piorar a situação, a mulher chegou mesmo a dirigir-se ao pai da criança, presente no local, e disse-lhe que ia fechar a vagina da paciente "a mais" para que não ficassem "sem brincar direito". Acabou por ser processada, mas o caso ainda está em segredo de justiça. 

Outra mulher, Gabriela (nome fictício), foi sujeita ao mesmo procedimento. Na sala, ouviu o médico falar com o marido sobre os pontos que deu a mais. "Deixei-a virgenzinha de novo para você", terá comentado, entre risos. 
Na prática, o médico terá dado pontos a mais na vagina de Gabriela, arruinando a sua vida sexual. "Sentia uma dor horrorosa. Precisei de vários meses para poder ter relações sexuais normalmente", confessa.

Mais um caso foi relatado, desta feita com provas em vídeo. Assunção deixou claro que não queria ser cortada nem receber "ponto do marido", mas ouviu o médico perguntar ao marido qual o tamanho da vagina que queria que a esposa tivesse. "Quer tamanho P, M ou G?", indagou o médico que, confrontado com a reportagem, acabou por dizer que não teve o "intuito de violentar ninguém" com o procedimento, mas que se a paciente se sentiu assim, "paciência".


Assunção pensou em processar o médico, mas acabou por desistir, como a maioria das mulheres que sofrem com o chamado "ponto do marido". "O problema é ter provas de que o médico falou disso", lamenta a advogada de Cema Alves, que continua em tribunal a clamar justiça.