A desigualdade social é um dos problemas sociais que se vê a olho nu em cada beco das ruas do Mindelo. Só não vê quem não quer.
Para o Governo, a situação de milhares de mindelenses que passam fome é mera ficção. Para a oposição, é apenas uma arma de arremesso político para ser usada quando “dá jeito”. Mas nos bairros periféricos do Mindelo existem famílias que vivem no limiar da sobrevivência e a palavra fome não é um mero conceito: é uma realidade.
Júlia de 49 anos, reside há mais de 20 anos em Covada de Bruxa, numa pequena e humilde habitação construída com chapas de lata. Tem quatro filhos, mas só um deles vive com ela.
O programa Casa Para Todos que muitos chamam de Casa Para Alguns, continua a excluir as camadas mais vulneráveis que lutam e sofrem todos os dias para conseguirem o pão de cada dia.
Entristecida, D. Júlia diz que não mora condignamente e que há mais de vinte anos que construiu clandestinamente a sua humilde casinha de lata para se abrigar juntamente com os filhos. Em 2010 legalizou o terreno e obteve licença para iniciar a escavação dos alicerces.
Tendo em conta que o terreno fica situado numa rocha muito dura, não foi possível terminar a escavação, pelo que a casa ficou no meio de buracos e quando chove, a situação torna-se complicada.
D. Júlia conta ao NN que já pediu ajuda à Câmara Municipal de São Vicente e que há três anos que aguarda por uma resposta do gabinete de acção social. D. Júlia diz que trabalhava como comerciante ambulante há alguns anos mas que, neste momento, não trabalha porque o negócio não tem gerado qualquer rendimento.
A casa onde D. Júlia mora não tem quaisquer condições para habitar. O tecto parece um chuveiro, cheio de buracos. E sempre devido aos buracos, consegue-se ver todo o movimento da rua mesmo estando dentro da casa. Entristecida, a mesma conta: “quando chove ficamos dentro de um lago, o colchão de esponja fica encharcado de água. Não temos para onde ir, sofremos sozinhos aqui dentro”.
A retrete e o espaço improvisado para cozinhar ficam fora da casa. As refeições são preparadas com lenha porque, segundo D. Júlia, não há condições financeiras para comprar uma botija de gás.
D. Júlia diz que depende do filho que trabalha no cais no descarregamento de contentores, mas não é um trabalho fixo. “Durante trinta dias, o meu filho conseguiu trabalhar apenas uma ou duas vezes. Raramente consegue trabalhar dias seguidos. Ele vai para tentar a sorte mas, muitas vezes, regressa a casa sem nenhum tostão”.
Segundo a proprietária, a situação arrasta-se há vários anos. D. Júlia mostra-se preocupada com o aproximar-se da época das chuvas. Pede o apoio da sociedade para ajudá-la a remodelar a humilde habitação ou apoiá-la na construção de um quarto de tijolo para se abrigar e solicita a sensibilidade das autoridades responsáveis para a causa. Fonte: NN