quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O YUAN SERÁ A TERCEIRA MOEDA MAIS PODEROSA NA CESTA DO FMI

 
Apesar da forte oposição do Tesouro dos Estados Unidos, o FMI finalmente aprovou em 30 de novembro a inclusão do yuan nos Direitos Especiais de Saque, uma cesta de moedas criada em 1969 para suplementar as reservas oficiais existentes dos membros do organismo multilateral. Assim, a moeda chinesa se tornará a partir do próximo 1 de outubro de 2016 o quinto integrante da cesta do FMI. E a influência financeira da China a nível mundial continuará crescendo rapidamente: o peso do yuan nos Direitos Especiais de Saque será maior em comparação com o iene japonês e a libra britânica.
 
Poucos meses atrás, houve muito ceticismo sobre se o Fundo Monetário Internacional (FMI) iria incorporar ou não a "moeda do povo" da China ("renminbi") em sua cesta de divisas [1]. Finalmente, as dúvidas acabaram: apesar da forte oposição do Tesouro dos Estados Unidos, muito em breve o yuan se tornará o quinto membro da cesta de moedas do FMI [2].

Como chegamos até aqui? Em meio à crise do sistema de taxas de câmbio fixas, que foi estabelecido no ano 1944, em 1969 o FMI criou um ativo de reserva, que chamados de Direitos Especiais de Saque (SDR, ’Special Drawing Rights’, em inglês). Como o sistema da Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos estava cada vez mais impossibilitado de trocar por ouro uma quantidade excessiva de dólares que os bancos centrais de todo o mundo tinham acumulado, o propósito do SDR foi o de complementar as reservas oficiais existentes dos países que compunham o FMI.
 
Em um primeiro momento, o valor do SDR foi definido como equivalente a 0,888671 gramas de ouro fino. E numa segunda fase, após o colapso dos acordos de Bretton Woods, o valor do SDR foi estabelecido por referência a uma cesta de moedas das principais economias da época: Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido e França. No fim dos anos 90, a cesta do FMI era composta pelo dólar, euro, iene japonês e libra britânica.
 
E, a partir de então, não houve mais alterações. Apesar das enormes mudanças no quadro político e econômico mundial ao longo das últimas décadas, a composição da cesta do FMI manteve-se inalterada.
 
A deterioração da economia dos EUA não impediu que o dólar mantivesse a sua posição dominante: em 2011, ele ficava com quase 42% da carteira do SDR; seguido pelo euro, com 37,4%; a libra esterlina, com 11,3%; e o iene, com 9,4%. No entanto, após o Conselho Executivo do FMI decidir acrescentar a moeda chinesa em 30 de novembro, a composição da cesta finalmente vai mudar [3].
 
Assim, o yuan será a terceira divisa com maior peso nos SDR, com 10,92% do total, acima do iene japonês (8,33%), e da libra esterlina (8,09%), embora ainda atrás do dólar (41,73%) e do euro (30,93%). Esta decisão entrará em vigor em 11 meses, no próximo 01 de outubro de 2016.
 
"A inclusão do yuan vai aumentar a representação e o atrativo do SDR e ajudará a melhorar o sistema monetário internacional vigente, uma circunstância que beneficiará tanto a China como o resto do mundo", declarou o Banco Popular da China em um comunicado [4].
Em 2009, Pequim já tinha deixado claro que aspirava que o yuan se tornasse uma moeda de reserva global. Como observei em meus artigos anteriores, a internacionalização do yuan tem sido baseada no "gradualismo" e apoiada especialmente na força comercial da China.
 
Nos últimos anos, o Banco Popular da China assinou swaps cambiais com mais de 40 bancos centrais, desde os localizados na Ásia-Pacífico, África e Europa aos do Chile e Canadá, aliados fervorosos dos Estados Unidos. Também não podemos esquecer a instalação de bancos de compensação no exterior para facilitar o uso do renminbi (’RMB clearing banks’) e concessão de quotas de investimento para participar do programa chinês de Investidores Institucionais Estrangeiros Qualificados em Renminbi (RQFII, ’Renminbi Qualified Foreign Institutional Investor Program’).
 
No entanto, essas medidas foram insuficientes para o yuan entrar na ’primeira divisão’. Era preciso ganhar o reconhecimento de uma instituição decisiva na gestão das finanças, como o FMI. A China começou a ganhar a batalha em agosto, quando o yuan foi desvalorizado. Imediatamente, Pequim insistiu em que esta foi uma ação temporária; isto é, que não haveria desvalorizações prolongadas [5].
 
Foi então que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, saiu para acalmar os investidores, neutralizando a propaganda dos EUA que responsabilizava a China pela turbulência econômica global [6].
 
Enquanto isso, Pequim não voltou atrás em seu programa de "reformas estruturais"; pelo contrário, pretende acelerar a abertura do seu setor financeiro. Tudo aponta no sentido da liberalização da taxa de câmbio e das taxas de juros, assim como do mercado de capitais. Depois de conectar as bolsas de valores de Xangai e Hong Kong em meados de novembro de 2014 [7], agora a China contempla o estabelecimento uma ligação com a bolsa de Londres [8].
 
Em conclusão, embora seja verdade que o yuan ainda tem um longo caminho a percorrer para ser capaz de competir de igual para igual com o dólar, não há dúvida de que a sua próxima inclusão na cesta de moedas do FMI é um marco histórico [9]. O mundo financeiro está mudando...
 
Economista. Jornalista da revistaContralínea.
 
Tradução João Aroldo
Tradutor freelance para sites como Rede Voltaire, Redecastorphoto e Tlaxcala.