Este ano a festa da quadra natalícia iniciou na Guiné-Bissau quase com os principais centros comerciais “às moscas”, sem as tradicionais compras de natal. Tudo por que o governo não pagou atempadamente os salários aos funcionários públicos.
Normalmente, quando se aproxima a quadra festiva de Natal e Final do ano, a procura de bens de consumo aumenta, e a movimentação e afluência nos diferentes centros comerciais do país também a aumenta, à procura dos produtos alimentícios, vestuários, calçados entre outros produtos.
Entretanto, a quadra festiva deste ano não faz excepção à regra. Claro que aglomeração da população no mercado de Bandim é frequente, mas nos últimos dias intensificou-se a movimentação naquele mercado do país.
No período da tarde, nota-se uma grande afluência nos passeios do mercado de Bandim, que começa desde Alto Crim até a “Chapa de Bissau” quase no Cristo Redentor. Uma das provas inequívocas dessa aglomeração é o engarrafamento das viaturas que se verifica na avenida principal, causado pelos constrangimentos na travessia das passadeiras terrestres.
Todos os dias o Comissariado da Polícia de Ordem Pública disponibiliza dispositivo das forças de segurança no local, para assegurar o normal funcionamento das actividades comerciais, principalmente no período da tarde. Nota-se uma grande presença de agentes fardados e outros à paisana, nos passeios do mercado.
Os agentes da Câmara Municipal de Bissau (CMB) também frequentam o mercado para assegurar que os passeios não sejam usados pelos vendedores ambulantes, que colocam as suas mercadorias no chão, dificultando a normal circulação das pessoas.
Frequentemente há muitas correrias entre os vendedores ambulantes e os fiscais da Câmara Municipal. Os ambulantes montaram um código de comunicação entre eles, o que lhes permite avisarem uns aos outros da chegada dos fiscais.
Por ocasião da quadra festiva deste ano, a equipa de rerportagem do jornal “O Democrata” visitou, no passado dia 18 do mês em curso, o Mercado de Bandim, considerada por muitos como a maior estrutura comercial do país.
Durante quase sete horas de tempo a nossa equipa de reportagem percorreu o mercado de canto a canto e constatou in loco o ambiente que ali se vive.
A nossa reportagem constatou que tem sido um hábito, todos os dias a partir das 17 horas, os vendedores ambulantes inundarem os passeios do mercado, tudo porque segundo informações, os portões do mercado começam a ser encerrados.
Porém, apesar dessa aglomeração e procura dos consumidores, na verdade a situação não é o que aparenta ser. Em relação ao mesmo período dos anos transactos, as vendas baixaram consideravelmente.
No entanto, há quem diga que a baixa nas vendas deve-se à falta de pagamento dos salários aos funcionários públicos e ao mesmo tempo, ao disparo dos preços dos produtos no mercado nacional, principalmente dos produtos da primeira necessidade.
Outra corrente defende que o poder de compra dos guineenses baixou, o que não permite aquisição de produtos em grande quantidade.
Os comerciantes queixam-se da falta de venda dos seus produtos. Uma mulher vendedeira de cebola, batata, arroz óleo alimentar e alguns produtos da primeira necessidade que não quis que fosse gravado a sua entrevista, confidenciou ao nosso jornal que as vendas deste ano baixaram consideravelmente em relação ao ano passado.
Visivelmente angustiada, a vendedeira disse que os seus lucros são poucos e não conseguem cobrir as despesas da casa, tanto na alimentação e como os estudos das crianças.
“Este ano não conseguimos vender como no ano passado, os lucros que conseguimos aqui não podem cobrir as despesas de alimentação e da escola das crianças. Mas a Câmara Municipal não percebe isso, eles vêm nos cobrar mesmo assim”. Notou a comerciante, adiantando que no ano passado as compras eram muito altas, o que lhe permitiu viajar para Gâmbia, uma vez por semana com vista a adquirir mais mercadorias.
Solicitada a comentar se a crise política que assolou o país durante quase dois meses terá influencido a queda do negócio, a vendedeira disse que não pode determinar se esse factor influenciou ou não. Adiantou que nem sabe da existência do Estado, porquanto o Estado não presta apoios às mulheres comerciantes. Segundo esta senhora, só sente a presença do Estado quando pagam a Câmara Municipal.
De acordo com Baba Embaló, vendedor de calçados no passeio de mercado de Bandim, a venda desta quadra festiva não está a correr bem. Segundo disse “há movimentaçao no mercado, mas não há compras. As pessoas vêm e perguntam do preço e não compram”.
Na sua sondagem, Baba Embaló avança que vende apenas cinco pares de calçados por dia, enquanto no ano passado vendia mais de 10 pares por dia, e há dias em que não vende nenhum par de calçado.
Questionado se os elevados preços não estariam na origem da pouca saida dos calçados, o comerciante disse que os preços do ano passado eram mais elevados, concluindo que não é por essa razão.
“Os calçados que eu vendia a 12.000 fcfa, agora vendo-os por 8000 e 5000 Francos CFA”. Precisou o comerciante, sublinhando de seguida que vende calçados naquele local já há 15 anos, este ano as compras baixaram muito.
Nb: de referir que os funcionários de Estado foram pagos ontem 23 de dezembro, dias depois desta reportagem.
Por: Alcene Sidibé/ Rafaela Issufi Queta