A 20 de fevereiro, Faustin-Archange Touadéra foi declarado vencedor das presidenciais na RCA. Ultrapassou, para surpresa geral, o seu rival, Anicet-Georges Dologuélé, na segunda volta. Tomou posse esta quarta-feira, e o portal Jeune Afrique aproveitou a ocasião para elaborar uma lista de cinco coisas que vale a pena saber sobre o novo chefe de Estado centro-africano.
1. Um matemático com uma longa carreira académica
Faustin-Archange Touadéra, de 59 anoa, filho de um motorista e de uma agricultora, mostrou desde cedo ter jeito para as contas. Depois de passar pelas universidades de Bangui, de Abidjan, de Lille e de Yaoundé, obteve um doutoramento de Estado em matemáticas puras.
Enquanto membro da Associação Nacional dos Estudantes da RCA, começou, ainda em 1987, a sua carreira docente, na Universidade de Bangui. Era professor assistente de Matemática. Foi vice-decano da Faculdade de Ciências da Universidade de Bangui de 1989 a 1992. Tornou-se vice-chanceler em maio de 2004 e foi reitor da Universidade entre 2005 e 2008.
2. Um primeiro-ministro discreto mas eficaz
Na era Bozizé, Touadéra chegou ao governo a 22 de janeiro de 2008, e «em bicos de pés». Não conhecia nada do mundo político, e foi nomeado num contexto de crise social, marcado por greves na administração pública e no ensino, após os despedimentos de funcionários do Estado iniciado no começo desse ano. A crise financeira era já grave, sendo impossível garantir salários a 24 mil trabalhadores.
Descrito como um primeiro-ministro discreto, e até «apagado» face à omnipresença do Presidente, a sua herança foi ainda assim positiva. Os funcionários devem-lhe a passagem dos salários para os bancos, depois de anos e anos em que essa medida foi pedida, e não esqueceram isso. No plano político, Touadéra pode orgulhar-se de ter sido ele a conduzir o diálogo inclusivo de Bangui, no fim de 2008 – diálogo esse onde se assinaram diversos acordos.
3. Um candidato unificador
Esta foi uma das chaves da vitória. Faustin-Archange Touadéra reuniu muito rapidamente à sua volta, após a primeira ronda das presidenciais, pelo menos vinte candidatos. Obteve igualmente o apoio do grande derrotado da primeira volta, Martin Ziguélé, e do antigo ministro Karim Meckassoua. E o partido de Dologuélé, o KNK, também de François Bozizé, dividiu-se na segunda volta.
4. Um Presidente surpresa
Depois da eleição de Catherine Samba-Panza para Presidente de transição, Touadéra começou a preparar-se para o cargo. Colocou um ponto final no seu «exílio» parisiense (deixara Bangui meses depois da queda de Bozizé, em março de 2013), de forma a preparar a sua candidatura com um pequeno grupo de apoiantes. Antes da primeira volta, a 30 de dezembro, ninguém esperava que obtivesse grandes resultados, nem muito menos que conseguisse depois reunir tantos apoios para a reta final.
A sua campanha para a primeira volta foi discreta. Mas, para a segunda volta, além dos apoios políticos reuniu em seu torno diversos nomes de destaque do setor económico. Os seus apoios financeiros ficaram largamente atrás dos concedidos ao seu rival, Dologuélé, mas mesmo assim Touadéra venceu com um largo avanço (62,71% contra 37,29%). Tornou-se assim o terceiro Presidente centro-africano democraticamente eleito.
5. Terá margem de manobra?
Tendo negociado com tantos candidatos, Touaderá tem agora de satisfazer aqueles que o apoiaram. É difícil perceber se conseguirá impor a sua vontade, e também se poderá compor o governo que realmente deseja ter. Por outro lado, depende da comunidade internacional, que garante há dois anos o pagamento aos funcionários e a segurança nacional. Fonte: Aqui