segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Cidade de Bolama: FÁBRICA DE COMPOTA TRANSFORMA-SE EM ‘CASA DE MORCEGOS’ E TÊXTIL RECUPERADO PARA DESCASQUE DA CASTANHA DE CAJÚ

O inimigo nº 1 da Guiné-Bissau, chama-se PAIGCWOOD, esse partido transformou-se num monstro e cancro nacional que destruiu tudo e todos. Se o PAIGCWOOD julga ser credor da dívida da liberdade do povo, que fique a saber que a referida dívida já foi saldada de há bastante tempo com os juros incomensuráveis. O que o povo agora espera deste partido-MONSTRO é que o deixe em paz, abandonando a cena da política nacional, porque se tem revelado incapaz de lidar com os problemas do país, desde que chegou ao poder.
 
[REPORTAGEM] A fábrica de compota da cidade de Bolama, que outrora fornecia sumos feitos na base de frutas ao mercado nacional e que deixou de funcionar há mais de 30 anos, transformou-se num esconderijo para animais. Por outro lado, a antiga fábrica têxtil que nunca funcionou foi recuperada por empresários nacionais, para funcionar como uma fábrica de produção da amêndoa de cajú.
 
A ilha tinha, nos primeiros anos da independência, duas fábricas, designadamente uma de compotas e outra de produtos têxteis (tecidos). A última tinha todas as máquinas montadas para funcionar, mas nunca funcionou e em consequência disso viu as suas portas encerradas depois de golpe de 14 de Novembro de 1980. Atualmente a ilha conta apenas com uma escola de formação de professores.  O projeto Pescarte, que em tempos formava jovens no domínio da pesca, já não funciona.
 
As duas fábricas eram uma iniciativa do falecido presidente Luís Cabral, com o intuito de impulsionar a economia nacional. Depois do golpe de Estado de 14 de Novembro e 1980, as ambas foram encerradas pelo novo regime instalado, alegando que não tinham rendimento suficiente que as permitisse se auto sustentarem.
 
Bolama, antiga capital da administração colonial, conta com mais de dez mil habitantes, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 2009. A cidade é pouco movimentada devido ao isolamento. Tem falta de ligação entre as ilhas com o resto do território nacional, bem como centros de formação e postos de serviços para empregar jovens.
 
FÁBRICA DE COMPOTA – UM SONHO TRANSFORMADO EM ‘SUCATA’ E FERRO VELHO
 
A fábrica “Titina Silá” conhecida como a fábrica de compota, que fazia a transformação de frutas para o consumo a nível interno, transformou-se hoje num esconderijo de animais. O edifício onde funcionava ruiu e as máquinas inativas há décadas transformam-se em “sucata” e ferro velho de século XV.
 
No campo empresarial e de pequeno comércio nota-se pouca movimentação na cidade e as atividades pontuais que se fazem nessa área são dominadas por estrangeiros, com maior incidência para os Conacri-guineenses que são maioritários. Os senegaleses dedicam-se mais a venda do seu pescado.
 
Uma equipa de reportagem de O Democrata visitou as instalações onde funcionavam as duas grandes fábricas e constatou que a antiga fábrica de compotas encontra-se totalmente danificada e abandonada. Quem nunca conheceu Bolama terá dificuldades em identificar a entrada principal ou a saída, porque as paredes desmoronaram-se por completo. Sobram apenas os vestígios que permitem perceber que havia alí um pavilhão grande.
 
A reportagem de O Democrata não conseguiu obter explicações dos antigos trabalhadores sobre o funcionamento da fábrica, mas habitantes locais contatados pelo semanário informaram que a maioria das pessoas que trabalhava naquela fábrica morreu e outros abandonaram a ilha a procura de melhores condições de vida em Bissau e no estrangeiro.
 
Isnaba Nambu, antigo colaborador da fábrica e identificado pelos populares de Bolama, explicou à repórter que fazia trabalho extra naquela fábrica, quando saia do serviço no projeto pescarte, para ganhar algum dinheiro. O seu salário era pago em pesos, a moeda em circulação na altura. Isnaba cita na primeira pessoa que ele e mais outros colegas carregavam a cabeça bacias grandes, cheias de polpa de diferentes alimentos, para levá-las para onde eram tratadas as compotas e que organizavam garrafas de compotas. O resto era com os funcionários da casa.
 
“Às vezes pagavam-nos em dinheiro, outras vezes em compotas. Consegui entrar naquela fábrica graças a um velho amigo da nossa tabanca. Já não me lembro da data, mas eu era muito jovem na altura. Não sei explicar como e porque a fábrica deixou de funcionar, mas muitas pessoas que ali trabalhavam já morreram. Outras estão no estrangeiro e na capital, Bissau”, explicou.
 
Uma das testemunhas, Fernando Langa, um velho que se encontra na casa dos 60 anos, que fazia serviço noturno ao lado da fábrica, contou à repórter uma parte da história daquela fábrica.
 
Informou que a fábrica funcionava muito bem e rendia em termos financeiros, o que deixava os gestores à vontade no concernente ao pagamento de salários aos seus funcionários. Contudo, disse que desconhece a razão que levou a sua paragem ou ao encerramento das suas portas.
 
“Hoje fico aqui sentado a ver todos os dias as memórias e às vezes vem-me à mente a imagem de como era esta casa que hoje se desfigurou totalmente… Antes todas as crianças adolescentes e jovens não se cansavam de passear nesse lugar para saborear os produtos feitos pelos tios e pais. Nunca trabalhei aqui, mas rondava sempre neste espaço”, conta emocionadamente.
 
‘LICAJÚ LDA’ PRODUZIA ANUALMENTE MIL E QUINHENTAS TONELADAS DE AMÊNDOA DE CAJÚ 
 
Em 2006, a fábrica de panos acabou por ser transformada numa fábrica de transformação de castanha de cajú e trabalhou por curto período de tempo. Ficou inativa em 2008. Quatro anos depois, em 2012, retomou os trabalhos até 2014 e desde então nunca mais funcionou.
 
O gerente da empresa LICAJÚ Lda, Agripino Lopes de Carvalho, revelou em entrevista concedida à repórter de O Democrata que após a paragem pelo período de três anos, a fábrica voltou a funcionar, mas já com novo proprietário, Gomes e Gomes. Depois das reparações feitas pela nova gerência, funcionou dois anos, de 2012 a 2014.
 
Agripino Lopes de Carvalho explicou que a fábrica contava com mais de 250 funcionários, a maioria deles mulheres residentes em Bolama. Havia também jovens e habitantes das aldeias nos arredores do sector. Acrescentou ainda que a fábrica tinha a capacidade de produzir 1500 (mil e quinhentas) toneladas de castanha de cajú descasado por ano.
 
“Compravam a castanha como outros empresários, mas a um preço acima do que estes pagavam, porque queriam comprar maior quantidade, desde que a empresa não ficasse prejudicada”, informou Agripino Lopes de Carvalho.
 
Explicou, no entanto, que a fábrica funcionava através de um sistema manual, mas que agora foi equipado com tecnologia de ponta e com novos equipamentos, consequência das novas mudanças operadas. A gerência da fábrica foi obrigada a reduzir o pessoal. Lembrou que antes deparava-se com falta de recursos humanos, porque tinha dificuldades em conseguir jovens em número suficiente para os diferentes serviços, porque a maioria estuda e consegue trabalhar apenas no período das férias. Foi por isso que, a gerência recrutava pessoas das aldeias nos arredores da cidade.
 
“Para quem compra a castanha para a sua transformação numa fábrica como a nossa, o preço tornava-se exorbitante. O custo de transformação foi uma das razões que fez com que a fábrica não funcionasse nesse ano. De certeza que nenhuma fábrica de descasque funcionou nesse ano, tendo em conta o preço estipulado pelo governo guineense para a compra e comercialização do produto”, referiu o gerente que, entretanto, avançou que o executivo guineense deveria ter tomado a iniciativa de subvencionar as empresas de descasque da castanha, para que se possa compensar a diferença do preço.
 
“Se o Estado quisesse poderia até manter o preço, mas que subvencionasse as fábricas para que pudessem funcionar. Espero que o assunto seja tratado entre os órgãos competentes, porque essa preocupação foi manifestada pelos proprietários das fábricas junto do governo”, sublinhou, acrescentando que as fábricas empregam muitas pessoas, sobretudo jovens, pelo que o Estado deve rever a sua posição e subvencioná-las para colmatar os prejuízos.
 
O gerente apontou a situação geográfica de Bolama como um dos entraves ao desenvolvimento da ilha e de qualquer negócio que se queira desenvolver, dado que, quando há qualquer avaria técnica, é preciso deslocar um mecânico a partir da capital Bissau. Ou desmontar a máquina e trazê-la à capital para ser consertada. Outra dificuldade mencionada pelo gerente tem a ver com o transporte. Os dias para a viagem são fixados e quando acontece uma avaria entre os dias em que não há transporte, nos dias em que não há ligação, a situação torna-se bem complicada. A falta de matérias primas suficientes também dificulta o funcionamento da fábrica.
 
“O pagamento é feito de acordo com a produção de cada funcionário, por quilograma produzido diariamente. Pagamos cada quilograma a 150 francos CFA para castanhas partidas e 250 francos CFA para castanhas inteiras. A avaliação da produção é feita ao fim de cada dia de trabalho”, notou.
 
A empresa foi assaltada em 2013 e os assaltantes levaram consigo cabos e outros materiais de trabalho. Informou que apresentaram uma queixa junto à polícia de ordem pública da ilha, mas até ao momento da entrevista a polícia não conseguiu descobrir os autores do roubo e muito menos saber do paradeiro dos materiais roubados.
 
“Pretendíamos com aqueles cabos roubados eletrificar toda a cidade de Bolama, através da central de biomassa. Quer dizer, a central funcionaria graças às cascas de castanha de cajú que serviriam de combustível. Tudo isso se enquadra no âmbito de projeto “CONGERAÇÃO” financiado pelo Banco Mundial. Felizmente, o banco tinha mandado as máquinas para execução do projeto, mas a confusão que se instalou entre o governo e a empresa sobre o pagamento do despacho levou a máquina a ficar cinco anos no porto. Com o golpe de 12 de abril 2012, as máquinas desapareceram no porto”, conta.
 
Contudo, informou que a iniciativa de apoiar a comunidade em energia elétrica se enquadrava no âmbito das atividades ou apoio social que a empresa pretendia levar a cabo para com os habitantes da ilha, por isso lamentou bastante a situação do desaparecimento da central no porto, porque a empresa tinha iniciado a eletrificação de alguns bairros da cidade.
 
Explicou ainda que a empresa produzia grande quantidade de casca de castanha que era utilizada para produzir vapor que depois era usado para a cozedura e estufagem das castanhas nas caldeiras. Acrescentou que a fábrica tinha um gerador próprio para fornecimento da energia elétrica e bombagem da água.
 
“Alimentamos esperança da população que nos pergunta de forma desesperada todos os dias sobre quando a empresa voltará a funcionar, mas não conseguimos dar respostas. Estamos com a expectativa de torná-la a funcionar na próxima campanha de comercialização de castanha de cajú”, garantiu Lopes de Carvalho.
 
 
Por: Epifania Mendonça
Foto: EM