Continuação das partes anteriores:
Introdução
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2
e
3 |Por: Kim Soobok
Na minha visita ao Complexo Químico da Juventude Namhung, em 2012, informaram-me que se tratava de uma fábrica de fertilizantes químicos e produtos plásticos. O número de pessoas no complexo era então de 12 mil, mas disseram que só uma parte deles – 3000 a 4000 – eram trabalhadores da fábrica e o resto fazia "outro trabalho". Naquele momento não entendi e não sabia o suficiente para perguntar o que significava isso. Só depois de aprender acerca dos métodos que a Coreia do Norte estava a introduzir para encorajar a auto-suficiência alimentar a nível local é que entendi que as restantes 8000 pessoas não envolvidas directamente na produção do complexo químico faziam parte do que eles chamam "operação de retaguarda". Elas são responsáveis pelo trabalho reprodutivo de criar porcos, galinhas e patos bem como plantar arroz e verduras para alimentar os trabalhadores da fábrica e suas famílias. No sítio da construção da Central Hidroeléctrica de vários níveis do Rio Chongchon, também, trabalhadores da "operação na retaguarda" criavam porcos e galinha e investigavam o melhor meio de plantar tomates e pepinos em estufas enquanto o ruído surdo da construção podia ser ouvido do outro lado da instalação. A equipe de "operação na retaguarda" é responsável pelo trabalho regenerativo de alimentar e sustentar os trabalhadores da central hidroeléctrica em construção. Analogamente, todas as unidades da sociedade norte-coreana – cooperativas agrícolas, fábricas, negócios, unidades militares, universidades, sítios de grandes construções, complexos de apartamentos, etc – têm equipes de "operação na retaguarda" que criam animais e plantam verduras para cuidar autonomamente das suas próprias necessidades alimentares. E a maior parte adoptou um método de agricultura orgânica chamado "sistema de produção em circuito fechado" ("closed-loop production system"), um meio energeticamente eficiente de produzir alimentos pela reciclagem de resíduos a fim de minimizar inputs de recursos. O melhor exemplo do sistema de produção em circuito fechado que testemunhei foi o Complexo Residencial para Cientistas de Satélites em Pyongyang – um complexo de 1,3 km2 de instalações residenciais para cientistas envolvidos no programa de lançamento dos satélites da Coreia do Norte. Foi construído em 2014 junto à Academia de Ciências do Estado e é dedicado aos cientistas do país como apreciação do seu serviço e para encorajar a investigação de alta tecnologia e a inovação. Um milhar de famílias de cientistas residem em 24 edifícios de apartamentos e cada um deles tem um jardim comunal onde os residentes plantas verduras e colhem o que precisam para suas famílias. O complexo também tem quatro estufas onde plantam tomates, pepinos, cebolinhas e outras verduras frescas ao longo de todo o ano. Na minha visita ali em Maio de 2015 fiquei contente por descobrir que a pessoa responsável pelas estufas do Complexo Residencial de Cientistas de Satélites era Ryang Hae-ok, esposa do bisneto do eminente químico norte-coreano Ri Sung-gi (ver a introdução desta série para uma breve descrição da vida e obra de Ri Sung-gi). Quando contei a Ryang que foi o trabalho de Ri no desenvolvimento do têxtil juche vinalon que inspirou minha jornada de estudo da ciência e tecnologia da Coreia do Norte ela ficou eufórica e deu-me uma saudação calorosa e acompanhou-me numa visita pessoal às estufas. No interior da estufa há uma pocilga, por trás da qual está um pequeno tanque com plantas ricas em nutrientes a que chamam "erva proteica". Entre as raízes da erva proteica flutuante vivem peixes de águas lamacentas. Os resíduos dos peixes proporcionam nutrientes para as plantas, as quais por sua vez actuam como um sistema de filtro que pode ser colhido, limpando a água de modo a que possa ser reciclada continuamente. A erva é um sistema rico em proteínas que é misturada com o alimento para os porcos. As pessoas capturam e comem o peixe e alimentam o resto dos porcos. Os resíduos dos porcos e os restos dos vegetais são fermentados para produzir gás metano utilizado para cozinhar. O resíduo de um torna-se alimento para o outro e, deste modo, há uma reciclagem circular, um sistema sustentável. O Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang O Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang faz parte da Academia Nacional de Ciência Agrícola. É uma estufa hidropónica maciça localizada nos arrabaldes de Pyongyang. Em 2008-2009 a Coreia do Norte, confiante na sua capacidade de aumentar a produção de cereais, depois de finalmente ultrapassar o período da Marcha Árdua e normalizar a produção de fertilizantes químicos baseados no carvão, estabeleceu um novo objectivo nacional: aumentar os vegetais e frutos na dieta do país. Para aumentar a produção frutícola, construiu o Pomar do Rio Daedong com 991 hectares e o Pomar de Gosan com 2974 hectares. Para o aumento da produção o Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang foi estabelecido como modelo para investigar e desenvolver tecnologia de vanguarda no cultivo e partilhar suas realizações com cooperativas de todo o país. Levou apenas um ano para as forças combinadas de instrutores e estudantes da Universidade Kim Il-sung e a unidade de construção do exército norte-coreano construírem o instituto como uma instalação de investigação no estado da arte. O instituto, que abriu as portas em Março de 2011, produz vegetais frescos, como tomates, pepinos, pimentos, rábanos e alfaces o ano todo. A área edificada com 600 mil metros quadrados abriga uma estufa com 300 mil metros quadrados e uma estufa hidropónica com 100 mil metros quadrados, bem como um laboratório de biologia no estado da arte. Inicialmente foi utilizada uma caldeira alimentada a carvão para aquecer a estufa, mas agora o instituto utiliza geotermia, vento e energia solar a fim de manter temperaturas óptimas em todas as estufas sem precisar de combustível fóssil. O instituto efectua investigação para a melhoria da quantidade e qualidade das culturas do país. Seu objectivo declarado é aumentar os rendimentos das plantações para 2965 toneladas por hectare. Algumas das investigações exemplares que o instituto faz actualmente incluem:
A estufa hidropónica do instituto utiliza cascas de cereais como meio de
crescimento para agricultura aquática de uma variedade de vegetais. Mais
de dez tipos de nutrientes de plantas são distribuídos por toda a
estufa através de um sistemas de canalizações e o
instituto investiga os nutrientes óptimos para diferentes variedades. Ao
eliminar a necessidade de lotes de terra vastos e minimizar o espaço
necessário para a agricultura, a hidropónica torna a
automação e gestão agrícola mais simples.
A tecnologia do cultivo em estufa e hidropónica estudada e desenvolvida pelo Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang já está a ser replicada em unidades agrícolas especializadas em vegetais por toda a Pyongyang, tais como a Cooperativa Agrícola Chonnam no Distrito Hyongjesan, a Cooperativa Agrícola Daesong no Distrito de Daesong, a Cooperativa Agrícola Bongsu no Distrito Mangyongdae e a Cooperativa Agrícola Jangchon no Distrito de Sadong. Ela também se propaga a outras províncias, tais como a Unidade Agrícola Especializada em Vegetais na Província de Hamgyong Sul, bem como às cidades de Chungjin, Nampo, Hoeryong e aos municípios de Shinyang e Onsung. Energia renovável A Coreia do Norte fundou o Centro de Investigação Energética no âmbito da Academia de Ciências com o objectivo de reduzir a dependência do país em combustíveis fósseis e aumentar o desenvolvimento e utilização de energias renováveis. Como declarado em 2018 por Kim Jong-un, no Discurso de Ano Novo, o país pretende resolver sua questão energética principalmente através da energia hidroeléctrica e também através da utilização acrescida da energia eólica, geotérmica, solar e da biomassa. Após anos de investigação e desenvolvimento, agora o país começou a adoptar a utilização da energia renovável a uma escala nacional. Exemplo: está a produzir gás metano a partir de resíduos de porcos e unidades agrícolas para gerar energia e está a fornecer bombas de carneiro hidráulico a áreas agrícolas a fim de irrigarem terras sem precisar de electricidade. Também está a investigar meios de utilizar energia das marés e um número crescente de jovens cientistas opta pela energia renovável como campo de estudo. Energia solar A Coreia do Norte utiliza a energia solar de dois modos principais: para aquecer água através de sistemas de painéis solares térmicos e para converter a luz solar em energia eléctrica através de painéis solares fotovoltaicos. Sistemas solares térmicos para aquecimento de água foram introduzidos no país na Feira Internacional de Outono de Pyongyang, em 2012, e desde então tornaram-se muito populares por toda a parte. Eles são instalados nos telhados para aquecer a água, a qual é então distribuída através do edifício para utilização familiar e para aquecimento de ambiente. Os painéis solares têm grande procura. Eles são instalados com rastreadores do sol o que permite aos painéis moverem-se de acordo com a direcção do sol e aumentarem assim a sua eficiência. As unidades de produção que costumavam confiar na rede eléctrica estatal agora produzem a sua própria electricidade convertendo a energia solar através dos painéis fotovoltaicos. Eles também fazem condicionamento do ar e aquecimento ambiente através de instalações geotérmicas e agora estão a enviar seus excedentes de energia para a rede eléctrica nacional. Um sistema de geração paralelo pelo qual as fábricas geram sua própria electricidade juntamente com a rede eléctrica nacional permite à energia fluir em ambas as direcções. Centro de Gestão de Comunicações Móveis de Pyongyang No Centro de Gestão de Comunicações Móveis de Pyongyang uma multidão de painéis solares cobre as paredes externas dos dois edifícios. Eles geram uma média de 240 quilowatts-hora por dia, ou 84.400 kWh por ano, e alimentam todas as operações do Centro, incluindo iluminação, equipamento, mais de uma centena de computadores na sala do centro de disseminação de ciência e tecnologia, bem como no ginásio interno e na cafetaria. Na cobertura do Centro de Gestão de Comunicações Móveis há uma estufa que produz em abundância pepinos, margaridas e outros vegetais. A água aquecida do sistema solar de aquecimento é arrefecida a uma temperatura óptima e utilizada então para abastecer de água a estufa e uma área de pesca. Nos dias ensolarados a instalação é capaz de efectuar todas as suas operações através da energia solar sem depender da rede eléctrica estatal. Centro de Gestão de Comunicações Móveis de Pyongyang, vídeo publicado em 04/Abril/2018, DPRK Today.
Fábrica de tecelagem da seda Kim Jongsuk Pyongyang
A tecelagem da seda Kim Jongsuk Pyongyang está equipada com painéis solares com rastreadores e turbinas eólicas que produzem 30 kWh de electricidade por hora ou mais de 10 mil kWh por ano. Toda a iluminação da fábrica, bem como sua sala de história, ciência e centro de disseminação de tecnologia, centro de computadores, centro cultural, dormitórios e centro de cuidados de dia são inteiramente alimentados pela energia gerada pela própria fábrica. Tecelagem da Seda Kim Jongsuk Pyongyang, vídeo publicado em 13/Março/2018, DPRK Today
Fábrica de Luminárias Samcholli
A Fábrica de Luminárias Samcholli produz lâmpadas LED para casas de repouso e centros de cuidados infantis, bem como a Rua Cientistas Mirae. A fábrica é alimentada com a energia gerada por painéis fotovoltaicos rastreadores do sol. Eles produzem centenas de quilowatts-hora por dia, isto é, dezenas de milhares por ano, e injecta o excedente de energia na rede eléctrica nacional. legenda vídeo Fábrica de Luminárias Samcholli, vídeo publicado em 02/Maio/2018, DPRK Today.
Segundo um artigo sobre energia renovável publicado em 11 de Junho do
jornal estatal
Rodong Sinmun,
a Cooperativa Agrícola Sinhwe, no município Samsu, um vale
remoto cercado por montanhas escarpadas na Província Ryanggang, instalou
painéis solares nos tectos de todos os edifícios residenciais e
público e gera electricidade suficiente para efectuar toda a
iluminação e os aparelhos de TV, bem como uma sala multimedia na
sua escola. O exemplo estabelecido por essa cooperativa agrícola
está agora a ser replicado em todas as outras aldeias do
município.
A mesma edição do Rodong Sinmun também anunciou que a Fábrica de Equipamento Automatizado de Pyongyang, a qual produz turbinas eólicas, está agora a desenvolver sistemas de geração de energia híbridos que combinam a utilização do solar e do vento para gerar electricidade. A Quinta de Cogumelo, segundo o mesmo jornal, já combinou mais de uma centena de painéis solares com pequenas e grandes turbinas eólicas para criar um sistema de geração de energia que sintetiza os dois tipos de geradores. Energia eólica A energia eólica é uma fonte popular de energia renovável na Coreia do Norte e amplamente utilizada para bombagem de água. A Fábrica de Equipamento Automatizado de Pyongyang, costumava produzir apenas pequenas turbinas com 1,5 kW de potência, mas agora produz turbinas com 100 a 250 kW. O governo norte-coreano está a investir no desenvolvimento do sector da energia eólica e muitas unidades de produção também estão a construir de modo autónomo suas turbinas eólicas. O Estaleiro Naval Ryuongnam, em Nampo, é um pioneiro na utilização de energia renovável e desde há mais de uma década tem sido alimentado por energia eólica. Segundo documentos exibidos no Centro de Investigação de Energia Natural da Coreia do Norte, o objectivo a longo prazo do país é gerar 15 por cento da electricidade do país através da energia eólica e aumentar a geração de electricidade através de energias renováveis para cinco milhões de quilowatts-hora em 2044. De acordo com uma brochura norte-coreana de 2015 dirigida a investidores potenciais na Zona Turística Internacional Wonsan-Monte Kumgang, o investimento total necessário para construir um conjunto de energia eólica para abastecer de electricidade as áreas de Tongchon e Monte Kumgang é de US$39 milhões. A Coreia do Norte propõe executar o projecto em dois anos e financiá-lo através de um plano Build-Operate-Transfer (BOT) pelo qual o investidor estrangeiro operaria o complexo durante dez anos a fim de recuperar o seu investimento e então transferiria a propriedade para a Zona Turística Especial de Wonsan. Calor geotérmico O sector da energia renovável em que a Coreia do Norte fez os maiores avanços foi o do calor geotérmico. A Fábrica de Maquinaria Geral Huichon Ryonha, na Província Chagang, foi uma das primeiras do país a instalar um sistema de aquecimento geotérmico. Em 2010, quando todo o país lutava para avançar e sair do período austero da Marcha Árdua, nos anos 1990 e 2000, a fábrica estava a desenvolver um sistema de produção em massa de máquinas-ferramenta com controle numérico no estado da arte para capacitar todos os sectores económicos básicos, tais como aço, fertilizantes, têxtil, produtos químicos e processamento alimentar, a modernizarem a sua produção. Por instrução do então líder norte-coreano Kim Jong-il no sentido de garantir que não só modernizassem a maquinaria como também tornassem seu lugar de trabalho um instalação no estado da arte, os engenheiros da fábrica equiparam-na com um sistema de aquecimento geotérmico. Toda a fábrica, sete vezes a dimensão de um campo de futebol e localizada nas altas montanhas da parte norte do país, é agora aquecida através de energia renovável e é confortavelmente cálida mesmo no pico do Inverno. A Coreia do Norte também avança na investigação de meios mais eficientes e económicos de colectar água geotérmica. No passado, a fonte de água tinha de estar a 20 metros de profundidade e 15 graus Celsius para ser acessada, mas agora, com tecnologia melhorada, pode-se ter acesso à mesma mesmo nas regiões mais frias como o Município Samjiyon ao pé do Monte Baekdu, onde a fonte de água atinge apenas quatro graus Celsius, até lugares quentes como o Palácio da Escola Infantil Samjiyon. Todos os edifícios novos na Coreia do Norte estão equipados com sistemas de aquecimento geotérmico e de ar condicionado. Exemplos: O Centro de Recreação Ryugyong, um moderno megaplex [1] de cinco andares em Pyongyang; a estufa de 929 metros quadrados no Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang; o maciço Centro de Ciência e Tecnologia e todos os recém construídos centros de cuidados infantis, casas de repouso e escolas são aquecidos e têm ar condicionado através da tecnologia geotérmica. E a energia geotérmica está agora a ser combinada com a solar e eólica para novo aumento de eficiência e potência. Segundo uma notícia de 2016 no Meari, sítio de notícias online norte-coreano, fábricas do país estão agora a produzir em massa sistemas de aquecimento e de ar condicionado geotérmicos que podem aproveitar água subterrânea a apenas três metros de profundidade. Um artigo de 11/Junho/2018 no Rodong Sinmun descreve o plano da Autoridade de Comunicação da Província de Hwanghae Norte para a construção de um novo edifício de escritórios e sua discussão sobre se deveria instalar uma caldeira alimentada a carvão como fizera no passado ou tentar algo que nunca fora feito antes com a adopção da tecnologia geotérmica. O artigo chamou minha atenção pois refere-se não a uma agência na capital do país e sim a uma área remota sem peritos em energias renováveis. Depois de investigadores na Manufactura de Produtos de Alta Tecnologia da Província de Hwanghae Norte terem consultado centros de investigação científica de todo o país em busca da solução mais eficiente, dizia o artigo, o município optou por um sistema híbrido de geotermia e biomassa. Metano e energia hidroeléctrica A Coreia do Norte também encoraja cooperativas agrícolas a reciclarem resíduos para a produção de gás metano (CH4), um gás com efeito estufa produzido pela decomposição biológica de matéria orgânica. A Cooperativa Agrícola de Jangchon, em Pyongyang, por exemplo, recicla alimentos decompostos e resíduos animais a fim de produzir metano para fins de aquecimento e cozinha. Quando visitei a estufa solar no Complexo Residencial de Cientistas Unha também vi produção de metano a partir de restos de alimentos e estrume de porco, utilizado na cozinha. Segundo um artigo de 11/Junho/2018 no Rodong Sinmun, a Cooperativa Agrícola Unjong-ri, na Província Chagang, uma área montanhosa onde a maior parte das suas terras agrícolas estão em encostas, imaginou um meio de irrigar suas terras sem precisar de electricidade. No passado, bombear água para a encosta era difícil pois exigia muita electricidade e, portanto, o rendimento das colheitas na região historicamente havia sido fraco. Para resolver este problema, a cooperativa agrícola enviou seus trabalhadores ao Centro de Investigação em Energia Natural, da Academia Estatal de Ciências, a fim de estudar o princípio da operação e a tecnologia das bombas de carneiro hidráulico, alimentadas pelo poder da água sem precisar de electricidade. Através da utilização desta tecnologia, agora a quinta é capaz de irrigar suas encostas e viveiros unicamente através da força da água. Disseminação da inovação científica Numa sociedade capitalista, a inovação científica é uma mercadoria utilizada para maximizar o lucro e ganhar poder sobre os competidores. Os capitalistas processam-se mutuamente para evitar que os concorrentes copiem suas inovações e forcem os consumidores a comprar sua tecnologia. Na Coreia do Norte, é exactamente o oposto: o governo central encoraja activamente as pessoas a copiarem as inovações umas das outras. "Aprenda ao seguir, ultrapasse ao seguir" é o slogan do chamado "movimento educativo com base experiência", amplamente promovido como uma matéria de política nacional. Todas as instalações de produção na Coreia do Norte e nas 3900 cooperativas agrícolas e de especialidade têm um "departamento de disseminação de tecnologia científica", onde trabalhadores podem estudar avanços científicos e tecnológicos relacionados com o seu campo de trabalho e discutir como adaptá-los às suas condições particulares. A biblioteca central do país e a biblioteca de Ciência e Tecnologia em Pyongyang disseminam os mais recentes avanços junto a departamentos de disseminação em instalações de produção por todo o país. Através da rede de educação a distância baseada na intranet, publicam resultados de investigações da Academia Estatal de Ciências, da Universidade de Tecnologia Kimchaek e da Universidade Kim Il-sung, bem como inovações e estudos de caso exemplares colhidos junto a instalações de produção do país. Outro meio de o país encorajar operários e agricultores a adoptarem inovação e tecnologia recente é através da exibição de fábricas e quintas modelo como estudos de caso a fim de aprenderem com os mesmos e seguirem-nos. A Universidade de Tecnologia Kimchaek e a Academia Estatal de Ciências integra os avanços mais recentes e os sítios com as melhores práticas do país para construir instalações de vanguarda em vários campos. Dentre elas estão o Instituto de Investigação Vegetal de Pyongyang, a Fábrica de Cogumelos de Pyongyang, a Quinta de Especialidade Vegetal de Jangchon, a Quinta de Lampreias de Pyongyang, a Quinta de Tartarugas de Pyongyang e o Pomar do Rio Daedong. Museus nacionais, tais como a Sala de Exposição das Três Revoluções e a Sala dos Cientistas Mirae, exibem modelos de fábricas e quintas para que trabalhadores e agricultores de todo o país vejam e estudem. Deste modo, fábricas e quintas modelo são replicadas em todas as regiões num intervalo de tempo de apenas um ano ou dois. Isto é um método de executar a política nacional de "tornar toda a população perita em ciência e tecnologia". Exposições nacionais e locais que exibem os mais recentes desenvolvimentos científicos são também efectuados ao longo do ano. Um exemplo é o 33º Festival Nacional de Ciência e Tecnologia efectuado recentemente na Sala de Exposição das Três Revoluções em Pyongyang. O festival de duas semanas, de 23 de Abril a 3 de Maio de 2018, reuniu 1200 pessoas de 500 fábricas, cooperativas e escolas do país, cada uma ansiosa por exibir seus feitos tecnológicos. Os participantes foram seleccionados através de processo altamente competitivo a partir de um conjunto de 13.500 grupos totalizando 107 mil cientistas, técnicos, candidatos a doutoramento, jovens, estudantes e trabalhadores que exibiram suas inovações em feiras de ciência locais por todo o país. Só a escala do festival e processo de selecção dos participantes deu-nos a sensação de quanto a ciência e tecnologia são hoje abraçadas e celebradas na Coreia do Norte. Ciência e tecnologia ao serviço do povo As seguintes declarações são frequentemente encontráveis nos media de hoje norte coreanos e são indicativas da ênfase sobre ciência e tecnologia na era de Kim Jong Un:
A política da Coreia do Norte sobre ciência e tecnologia na era
Kim Jong Un está claramente reflectida no discurso de Kim perante
responsáveis chave do Comité Central do Partido dos Trabalhadores
em Maio de 2013: "Vamos alcançar uma mudança radical no
avanço científico e tecnológico para acelerar a
construção de uma nação forte e
próspera".
Tendo declarado o término de um dissuasor nuclear eficaz para defender-se de ameaças militares dos EUA, a Coreia do Norte agora mostra-se pronta para mudar o seu talento e recursos científicos para outro aspecto chave do seu combate contra a agressão estado-unidense: construir uma nação economicamente robusta e auto-suficiente a fim de desafiar o labirinto das sanções promovidas pelos EUA. O país encoraja seu povo a rejeitar a ideia de que só pessoas altamente educadas e peritos qualificados podem ser cientistas e treina pessoas comuns – agricultores, trabalhadores e jovens – na prática de aplicar a razão e buscar inovações baseadas em evidências a fim de melhorar as condições da sua vida diária. Desafiando todas as previsões ocidentais de colapso iminente, o povo norte coreano não só sobreviveu à crise do período da Marcha Árdua como efectuou uma espantosa recuperação através da sua coragem e engenho científico. Quando alguém vai à Coreia do Norte – se tiver oportunidade – pode sentir de imediato que toda a sociedade zumbe com actividades destinadas a melhorar os meios de vida do povo, tais como alimentação e habitação. E o país está a fazer um progresso notável no sector da energia. Através da fidelidade à sua filosofia da auto-suficiência e dos avanços científicos ao serviço do povo, eles estão determinados, assim parece, a mostrar ao mundo que é possível desafiar o estrangulamento do mundo capitalista a fim de criar uma alternativa sustentável.
10/Julho/2018
[1] Megaplex: cinema com mais de 16 salas de projecção.
Partes anteriores desta série: Intro – Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso económico 1 – Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso económico 2 – Irrigar os campos – uma luta de duas décadas 3 – Enriquecer o solo – produzir para além da subsistência O original encontra-se em www.zoominkorea.org/part-4-advances-in-sustainable-farming-and-renewable-energy/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
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